José Mujica, da coalizão governista Frente Ampla, assumirá a presidência do Uruguai hoje (1º). Mujica manterá a política econômica do governo anterior e terá como prioridades implementar soluções habitacionais para a população mais pobre e garantir a segurança pública.
Durante a campanha eleitoral, o ex-guerrilheiro, que liderou na década de 1960 o Movimento de Libertação Nacional-Tupamaros (MLN), afirmou que seu governo continuaria e aprofundaria as políticas aplicadas pelo frenteamplista Tabaré Vázquez, que esteve à frente do primeiro governo de esquerda da história do Uruguai.
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No entanto, a renovação quase total do gabinete ministerial (apenas um ministro de Vázquez se manteve no cargo) e a troca dos comandos do médio escalão indica que o presidente eleito em novembro de 2009 busca novos perfis de liderança. “Como ideia geral, sou contra os continuísmos, que podem perpetuar os círculos do poder e acentuar o burocratismo, um mal potencial sempre presente”, afirmou Mujica ao fim de uma das primeiras reuniões com seus ministros designados, no início de fevereiro.
Seu gabinete terá um perfil mais jovem que o de Vázquez, com menos mulheres e com maior presença de representantes do partido que ele liderou durante 20 anos, o Movimento de Participação Popular (MPP). A esse setor correspondem ministérios estratégicos como os do Interior, Relações Exteriores e Defesa, além das pastas de Educação e Habitação.
Em troca, a condução da economia estará nas mãos de dirigentes políticos e técnicos vinculados ao ministro da Economia do governo de Vázquez, o agora vice-presidente Danilo Astori. O ministério será ocupado por um homem de sua confiança, Fernando Lorenzo, e serão mantidos os presidentes dos bancos Central do Uruguai, da República Oriental do Uruguai, Hipotecário do Uruguai e da Previdência Social.
“Não é um gabinete de grandes figuras partidárias, são quadros de segundo escalão, de menor prestígio partidário. São nomes desconhecidos, mas o lado positivo é que teremos novos quadros se adaptando”, avaliou Constanza Moreira, senadora eleita pelo MPP e ex-diretora do Instituto de Ciência Política da Universidade da República, em conversa com o Opera Mundi.
Os defensores da equidade de gênero questionam a representação das mulheres nos ministérios. Além de não haver paridade entre os dois sexos, o novo gabinete terá menos mulheres que o anterior (das 13 pastas, só duas serão ocupadas por mulheres). “Queríamos um governo equilibrado, que melhorasse a relação existente no anterior, mas lamentavelmente não foi assim”, disse ao Opera Mundi a senadora socialista Mónica Xavier.
Cotas
Outra crítica é a de que, diferentemente de Vázquez, que incluiu em seu gabinete um número significativo de frenteamplistas independentes, alguns deles com perfil técnico, o presidente eleito decidiu conceder pastas a cada setor da coalizão em função da votação obtida nas eleições nacionais. Isto, segundo Moreira, “tira o poder” de Mujica de designar os ministros e o “prende” aos partidos. “Tabaré teve mais margem de manobra para nomear independentes. Neste caso, a tendência é a de consolidar uma forma de decidir muito setorial. Além disso, há pessoas independentes muito capazes que não podem entrar no gabinete, não são levadas em conta”, afirmou ela.
Do mesmo modo, o senador comunista Eduardo Lorier disse ao Opera Mundi que seu partido é contra a representação por cotas e preferia um critério mais flexível. Mas ele questionou quem afirma que mais técnicos deveriam ser incorporados ao governo. “Não é indispensável ser um técnico, é preciso ser um bom administrador e um bom gestor, um bom político. E temos muita experiência acumulada com muitos companheiros”, afirmou.
Um dos aspectos positivos do governo de Mujica, sublinharam os entrevistados, é que os mecanismos de tomada de decisões serão mais coletivos. Enquanto Vázquez reservou para si as decisões mais importantes de seu governo, Mujica anunciou que a Frente Ampla e os líderes dos vários setores serão fundamentais na definição de assuntos polêmicos, como foi a assinatura de um Tratado de Livre Comércio com os Estados Unidos, que no final não se concretizou. Com esse objetivo, existe desde a campanha eleitoral uma instância que reúne os principais líderes partidários e a chapa presidencial e é convocada para a discussão de temas concretos.
Os novos ministros assumirão seus cargos na terça-feira, um dia depois da posse presidencial, que ocorrerá na Praça Independência, em Montevidéu.
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