Um novo chanceler assume hoje (1º) o Ministério das Relações Exteriores no Uruguai. As linhas gerais da política externa serão mantidas, mas haverá nova ênfase em alguns temas. A prioridade serão os países da região, especialmente Argentina e Brasil. Luis Almagro, embaixador do Uruguai na China durante o governo de Tabaré Vázquez, assumirá como chanceler de José Mujica. Guerrilheiro na década de 1960 e hoje presidente pela coalizão de centro-esquerda Frente Ampla, Mujica escolheu como ministro um homem de 46 anos, funcionário de carreira do Ministério de Relações Exteriores, sem perfil de militante.
Quais são as prioridades de política externa para o próximo período de governo?
Fortalecer os vínculos na sub-região, com aqueles que são nossos sócios naturais: Argentina e Brasil. São países que não podem ficar alheios ao projeto nacional que estamos promovendo. Temos excelentes relações; temos um nível comercial muito bom com o Brasil, embora não tanto neste momento com a Argentina. Procuramos duplicar no médio prazo o comércio com a Argentina e manter ou fazer crescer o comércio com o Brasil.
O destino dos bens industriais produzidos no Uruguai está na sub-região, amparado pelo benefício com que o país conta para resolver o problema das assimetrias, que é o regime da admissão temporária. Creio que, à medida que incorporarmos novos projetos produtivos ao Uruguai, poderemos aumentar nossas exportações à Argentina.
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Também precisamos trabalhar nos temas de ciência e tecnologia. Temos instâncias muito favoráveis, porque nos conhecemos, porque falamos a mesma língua e porque, mais ou menos, estamos na mesma situação.
Outra prioridade será a diversificação e a abertura ao mundo, fazer com que nossas relações com Estados Unidos, União Europeia, China e Japão tenham componentes maiores e nos rendam melhores resultados. Partimos de bases distintas: o comércio com a China tem crescido continuamente nos últimos anos; por outro lado, desde o início da crise financeira internacional, percebemos que os mercados dos EUA e da UE decresceram. Temos de trabalhar com eles novamente e tratar de criar espaço para nossas exportações.
Quais serão os principais desafios da relação com o Brasil?
É muito importante tratar de alguns temas que talvez não tenham um desenvolvimento avançado, como os de política de fronteira. Precisamos de políticas de fronteira mais ativas, trabalhar juntos a interconexão ferroviária do sul do Brasil com o Uruguai, e obter o apoio do Brasil não apenas na integração horizontal da sub-região – os corredores bioceânicos -, mas também na integração vertical, nos temas relacionados à hidrovia. Depois, queremos fortalecer o comércio e os investimentos, além dos vínculos turísticos e financeiros.
O fato de Dilma Rousseff ou a oposição vencerem as próximas eleições muda em algo a ênfase na relação bilateral?
Acredito que tanto o Brasil quanto o Uruguai promoveram políticas de Estado em sua relação bilateral, e fizeram coisas que são benéficas para qualquer governo futuro.
Alguns líderes da oposição no Uruguai questionam o Brasil por abandonar a região. Isso tem ocorrido?
Nós, especificamente, não podemos nos sentir abandonados. E se pensarmos em aspectos mensuráveis e quantificáveis de nossa relação bilateral, são aproximadamente 1,2 bilhões de dólares que o Uruguai exporta para o Brasil. Isso torna o Brasil, de longe, nosso principal parceiro comercial. Então, realmente isso não ocorre. Além do mais, tem havido muito investimento brasileiro aqui nos últimos tempos, em setores estratégicos da economia nacional, como o arroz, a cevada e os frigoríficos.
O projeto de interconexão elétrica com o Brasil, apresentado pelo Uruguai no marco do Fundo de Convergência Estrutural do Mercosul (Focem), já foi aprovado do ponto de vista técnico, mas espera há meses a aprovação da Argentina. Aparentemente, haveria disposição do Brasil de financiá-lo. Até quando o Uruguai esperará uma resolução no Focem?
Não temos tempo para esperar demais, porque há um aspecto de licitações e procedimentos que deve ser cumprido, e o país não pode ficar de mãos atadas nesse sentido. Devemos insistir com o Mercosul, porque é praticamente o primeiro projeto que temos no marco do Focem. Se este primeiro projeto do Focem, que serve para financiar projetos de infraestrutura, fracassar, que confiança teremos no mecanismo para o futuro? Toda a engrenagem é abalada mais adiante. Deveria ser uma prioridade do Mercosul resolver esse tema o mais rápido possível. Do contrário, o Uruguai deverá encontrar as soluções que permitam resolvê-lo. Isto já deveria ter começado, e de fato já estamos atrasados.
O senhor teve contato com a Argentina em relação a esse tema?
É um tema que surge nas reuniões em nível informal, e está entre as principais prioridades, ao lado da dragagem do canal Martín García ou do tema das pontes.
A Argentina manifestou sua vontade de resolver esse tema, mas no marco de uma negociação que inclua outros assuntos…
Sim, que inclua outros temas pendentes na relação bilateral e na relação dos dois países com o Mercosul.
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