Nesta quarta-feira, 8 de março, mulheres em mais de 50 países se unem em uma greve internacional contra a violência machista e a desigualdade de gênero, uma mobilização que busca marcar pela ausência a importância das mulheres e de seu trabalho – não só o remunerado, mas especialmente o não remunerado e invisibilizado – e as lutas delas por direitos humanos ao redor do mundo.
A greve deste 8 de março foi convocada a princípio pelas organizadoras da Marcha das Mulheres contra Trump, realizada em várias cidades dos Estados Unidos em 21 de janeiro, dia seguinte à posse do presidente norte-americano, e replicada em vários lugares do mundo. A iniciativa foi logo abraçada por organizações feministas de vários países, que preparam, além da paralisação, pelo menos 300 marchas e atos para marcar a data.
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Na América Latina, há ações programadas em Argentina, Bolívia, Brasil, Peru, Chile, Colômbia, Costa Rica, El Salvador, Equador, Guatemala, Honduras, México, Nicarágua, Panamá, Paraguai, Porto Rico, República Dominicana, Uruguai e Venezuela.
“Esta paralisação é contra o patriarcado e o capitalismo que nos explora. A força e a resistência das mulheres se fazem ver e estão em marcha”, disse Alicia Amarilla Leiva, líder da organização paraguaia Conamuri (Coordenação Nacional de Mulheres Trabalhadoras Rurais e Indígenas), ao jornal argentino Página/12. “Nossa chamada é: ‘Se nosso trabalho não vale, produzam sem nós’”, disse a ativista. “Para nós, é importante o avanço da consciência feminista na América Latina e no mundo.”
Mídia Ninja
Marcha das Vadias em Brasília em junho de 2013
“Vou parar porque na Colômbia entramos em um processo de paz, mas ainda continuam as violações dos direitos das mulheres”, afirmou Sonia Vázquez Mejía, vice-presidente da União de Cidadãs da Colômbia, ao mesmo jornal. “Por isso, em Medellín, o tema deste 8 de março é ‘Parem a guerra contra as mulheres, construamos a paz’”, explicou a ativista, que ressalta que a paralisação também serve “para que as mulheres jovens saibam que os direitos das mulheres não nos foram dados, mas que tivemos que conquistá-los e que a luta por eles deve continuar”.
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As organizadoras da Marcha das Mulheres em Washington têm promovido a greve deste 8 de março como “Um dia sem mulheres”. Segundo as orientações publicadas no site do coletivo, elas pedem que as mulheres de fato não trabalhem nesta quarta-feira, abdicando tanto do trabalho pago como aquele não remunerado – como tarefas domésticas. Elas também pedem que as mulheres evitem compras em grandes redes de comércio neste 8 de março e usem roupas vermelhas para mostrar solidariedade com as outras mulheres.
On 1/21, we marched. On 3/8, we strike. Join us in making March 8th a #DayWithoutAWoman https://t.co/iCrlhraapu #IStrikeFor #WhyIResist pic.twitter.com/pTKiepCEzl
— Women's March (@womensmarch) 2 de março de 2017
A greve, dizem elas, pretende evidenciar “o enorme valor que mulheres de todas as origens agregam a nosso sistema socioeconômico, enquanto recebem salários mais baixos [do que os dos homens] e vivenciar maiores desigualdades, vulnerabilidade à discriminação, assédio sexual e insegurança trabalhista”.
Nos EUA, pelo menos duas cidades cancelaram as aulas em escolas públicas neste 8 de março: Carboro, na Carolina do Norte, e Alexandria, na Virgínia. Segundo as autoridades do ensino público nas duas cidades, a decisão se deu após a maior parte do corpo docente, composta por mulheres, aderir à paralisação.
A comunidade 8M Brasil reúne as principais manifestações no país em apoio à greve das mulheres. Estão programados atos em várias cidades, que trazem, além das pautas das mulheres, a resistência à reforma da Previdência proposta pelo governo de Michel Temer. “A greve das mulheres vem simbolizar esse movimento de resistência aqui no Brasil, nos Estados Unidos e no mundo inteiro, das mulheres dizendo esse ‘basta’”, afirmou Maíra Kubík, jornalista e professora da UFBA (Universidade Federal da Bahia), ao jornal Brasil de Fato. “Não queremos mais mortes, mais nenhum tipo de violência e queremos ocupar todos os espaços. Tenho a expectativa de que vai ser um movimento de adesão ampla em que as mulheres vão parar suas atividades e protestar nas ruas dizendo isso para toda a sociedade.”