Com o tema “20 anos Depois: Os Mundos Além do Muro”, terminou hoje (10) o Fórum Político Mundial, idealizado pelo ex-presidente da antiga União Soviética, Mikhail Gorbachev e que contou com a participação de intelectuais, políticos e movimentos sociais de todo o mundo. O evento, realizado na cidade italiana de Bosco Marengo, região do Piemonte, pontuou as muitas barreiras que ainda existem e os legados deixados por novembro de 1989.
“Depois da queda do muro, o mundo não voltou a ser mais seguro. Pelo contrário: o número de conflitos sociais, guerras étnicas e religiosas aumentou. Nem a ser mais justo, pois a distância entre os mais ricos e mais pobres cresceu. A sensação comum é de caos na política mundial”, alertou em seu discurso Gorbachev, que por razões de saúde, não pode participar dos painéis de debate.
World Political Forum
Foram citados durante o evento 24 muros atuais, na fronteira entre os Estado Unidos e o México, Palestina e Israel, Espanha e África, e muitos outros invisíveis, feitos de enfrentamentos raciais, religiosos e ideológicos.
“Existe uma crise de ideologias, que ameaça se transformar em uma crise de ideais e de valores, moral. Temos de buscar uma ‘globalização com rosto humano’, dar uma forma democrática ao mercado”, continuou o ex-presidente.
“Precisamos de coragem, temos que tomar a experiência dramática do século passado como ponto de força para construir o novo”, concluiu.
Pontes, e não muros
Para Wolfgang Sachs, pesquisador do Wupperalt Institute for Climate da Alemanha, existe uma urgência e emergência para a criação de pontes mais que muros, de atuar contra a mudança climática, a intolerância e a pobreza. “Temos de criar valores novos para contrapor os antigos. Sem igualdade entre os países e as pessoas, tampouco podemos ser ecológicos, e temos que criar valores para uma governança ética”.
Para Massimo D’Alema, deputado do Partido Democrático e ex-ministro de Relações Exteriores da Itália, “é preciso tomar consciência de que os Estados Unidos e a Europa já não representam os padrões corretos para o mundo”.
“Há alguns anos eu perguntei a Gorbachev se não era melhor o mundo antes do muro, antes de 1989, e ele me contestou, dizendo que ele e a realidade que representava tinham de cair, porque era a contradição do que se entende como valores da esquerda. Mas a bipolaridade ideológica da época conseguia obter, ao menos, uma forma de ‘ordem de mundo’. Desde a queda, o mundo tem tomado uma forma desordenada, na qual a globalização tem sido o último dos totalitarismos”, argumentou D’Alema.
“Apesar de ser um homem de esquerda”, continuou, “que por anos tem sido encarregado das relações com os Estados Unidos, eu tenho avaliado a intenção dos neoconservadores, que tem tentado – por meio da força – dar uma forma ao mundo. A presidência de Obama se orienta agora sobre uma governança multilateral, um soft power, que é um desafio. Já a Europa está atrasada, o mundo já está em uma nova fase”.
Questionado pelo Opera Mundi a respeito do papel do Brasil nesse contexto, o político sustentou a necessidade da participação brasileira. “É um exemplo e uma referência da esquerda internacional. Diferentemente de Cuba e da Venezuela, o Brasil tem uma posição digna, nem subalterna, nem conflitante com os Estados Unidos.”
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