Um socialista vem ganhando destaque nas eleições marcadas para este domingo (23/10) na Argentina. Governador da província de Santa Fé, Hermes Binner, candidato à presidência pela coalizão de esquerda FAP (Frente Ampla Progressista), se posicionou nas últimas semanas como o segundo favorito entre os eleitores argentinos, atrás da presidente peronista Cristina Kirchner.
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Quarto colocado nas Primárias Abertas, Simultâneas e Obrigatórias, realizada 90 dias antes das eleições oficiais, Binner ficou em quarto, com 10,18% dos votos. Nas últimas pesquisas de opinião divulgadas, porém, o candidato aparece como o opositor ao governo melhor posicionado, com cerca de 15% das intenções de voto.
Efe
Binner, candidato da FAP (Frente Ampla Progressista), promete crescimento econômico com inclusão social
O aumento da popularidade do socialista coincide com um momento de descrédito em relação à campanha de Ricardo Alfonsín, da UCR (União Cívica Radical), principal partido opositor ao peronismo. Filho do ex-presidente Raúl Alfonsín, o deputado foi o segundo colocado nas eleições primárias, com 12,2% dos votos.
Após o pleito prévio que definiu os candidatos à presidência, no entanto, o deputado passou a disputar a terceira posição na preferência do eleitorado com o peronista dissidente Alberto Rodríguez Saá, que há oito anos governa a província argentina de San Luis. De acordo com o instituto de pesquisa Managment & Fit, Alfonsín conta com 7,8% das intenções de voto, apenas 0.4 pontos porcentuais a mais que Rodríguez Saá.
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Segundo a diretora do instituto de pesquisa, Mariel Fornoni, os eleitores de Binner são, principalmente, as classes média e média-alta do país, que vêem na coalizão esquerdista “uma construção alternativa a futuro”.
“As pessoas o viram com certa coerência ideológica, diferente dos ziguezagues que houve, em geral, na oposição”, explica ao Opera Mundi. Para Fornoni, a integração de partidos e forças que integram a FAP gera um “espaço plural, de amplo espectro, onde as áreas sindical e de Direitos Humanos estão representadas”. Outro ponto mencionado pela especialista é a experiência do candidato como governador em uma das principais províncias do país, onde sua gestão superou 60% de aprovação, segundo as últimas medições.
“Nossos estudos apontam uma intenção de voto de 12 pontos nele, projetado a 14 e que poderia chegar a 15, mas não acho que passe disso”, diz ela, ressaltando que fora dos grandes centros urbanos, Binner ainda é desconhecido por quase 40% da população.
Spot da campanha eleitoral de Binner:
O analista político Marcelo Leiras concorda que não há razões para acreditar que o candidato obterá um resultado extraordinário nas eleições: “Se ele tiver 15% dos votos, mostraria uma melhora de 50% em sua performance em relação a agosto, mas ainda assim não seria um número impressionante”, explica.
Para Leiras, no entanto, a FAP é uma força de centro-esquerda com boas perspectivas a médio prazo, por ter características distintas do kirchnerismo, o que pode ser um atrativo para certa opinião pública urbana e progressista. A atuação do socialista como governador da província argentina importante e como prefeito de Rosário, pelo Partido Socialista de Santa Fé, fazem de Binner um “candidato notável”.
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Consolidação
Um erro estratégico da coalizão, segundo ele, seria esperar um crescimento em curto prazo, após a previsível derrota nas eleições presidenciais para Cristina, que tem mais de 50% das intenções de voto: “E que [a FAP] consolide o que obteve, aprendendo com a experiência de outras forças de esquerda ou centro-esquerda”, afirma.
Entre os exemplos mencionados por ele está a Frepaso (Frente País Solidário), que começou a se constituir como força política em 1991, e seis anos depois se aliou à UCR, chegando ao governo da província de Buenos Aires e à presidência, em 1999, com o radical Fernando De la Rúa, que acabou renunciando no fim de 2001, com a crise no país.
“Essa experiência de centro-esquerda poderia ter construído uma força de substituição do radicalismo e acabou se dissolvendo, com a explosão de 2001”, explica ele, citando como exemplo positivo a lenta consolidação do PT (Partido dos Trabalhadores), “que demorou muitos anos em se converter em uma alternativa nacional competitiva”, e que governa o Brasil desde 2002.
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