Marcada para este domingo (11/05), a consulta popular para definir a independência das províncias de Donetsk e Lugansk, no leste da Ucrânia, deve ter elevado índice de participação da população local, segundo afirmaram hoje os líderes do movimento pró-Rússia. Véspera de referendo separatista, organizado nos mesmos moldes do processo na Crimeia, também foi marcada por destituição de governador pró-Moscou e críticas de Kiev: “plebiscito é cortejo à catástrofe”.
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Agência Efe
Membros da “República Popular de Donetsk” preparam urna eleitoral para referendo separatista de domingo (11)
Em entrevista coletiva, o chefe da comissão eleitoral da autoproclamada “República Popular de Donetsk”, Román Liaguin, anunciou que as pesquisas apontam uma participação de 70% dos eleitores, o que representa cerca de 3,1 milhões de cidadãos. “Ou referendo, ou guerra”, sintetizou Liaguin.
Em processo semelhante ao que aconteceu na península da Crimeia em março, os habitantes das duas regiões devem responder às seguintes questões: “Você aprova a independência da República Popular de Donetsk?” e “Você aprova a independência da República Popular de Lugansk?”. Contudo, as conseqüências do referendo — tido como válido pela região, mas ilegal para Kiev e para a comunidade internacional ocidental — ainda não foram bem estabelecidas.
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“Se a maioria da população de nossa região responder “sim”, isso não significa que a região de Donetsk será incorporada à Rússia, ou que, caso contrário, permaneça dentro da Ucrânia, ou que se transforme em um Estado independente”, explicou Liaguin.
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Chefe da comissão eleitoral de Donetsk, Román Liaguin mostra a jornalistas cédula eleitoral do referendo
Lideranças de grupos anti-Kiev já haviam, durante esta semana, anunciado a intenção de criar um Estado independente — chamado de “Nova Rússia” — que englobaria as regiões de Donetsk, Lugansk, Carcóvia, Odessa e Nikolayev.
Reação de Kiev
Para o presidente interino ucraniano, Aleksandr Turchinov, será um “cortejo à catástrofe” se o resultado do referendo for positivo para os separatistas. “[A separação da Ucrânia] seria um passo em direção ao abismo para essas regiões”, escreveu o líder provisório em seu site. “Aqueles que defendem a autonomia não entendem que isso significaria a destruição total da economia, dos programas sociais e da vida em geral, para a maioria da população”, acrescentou, segundo a Reuters.
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Nesta manhã, Turchinov destituiu Mikhail Bolotskij, governador da região de Lugansk. Em represália à visita de Putin à Crimeia para comemorar feriado russo, Kiev também proibiu dois aviões com altos cargos russos a bordo de sobrevoar seu espaço aéreo quando voltavam da capital da Moldávia, Chisinau, para Moscou, de acordo com agências russas.
Em Kiev, as eleições presidenciais ucranianas estão previstas para acontecer no próximo dia 25. Na semana passada, o presidente russo, Vladimir Putin, chegou a solicitar o adiamento do plebiscito separatista, mas ambas as regiões rejeitaram o pedido. O Parlamento em Kiev também havia rejeitado que, juntamente com o pleito presidencial, fosse feita uma consulta nacional sobre dar mais autonomia às regiões do leste do país.
Violência e detenções
Nos últimos dias, a escalada de violência foi marcante em diversas cidades no leste e sudeste ucranianos — sobretudo nas regiões em que a língua russa é predominante. Na noite de sexta (09/05), funcionários da Cruz Vermelha foram detidos por um grupo desconhecido em Donetsk, mas foram libertados na manhã de hoje, anunciou a organização humanitária em Kiev.
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Próximo a cartaz de referendo, homem armado permanece em guarda em Lugansk
“Foram libertados por volta das 2h da madrugada (horário local). Um deles foi agredido”, disse à Efe a porta-voz da Cruz Vermelha, Irina Tsariuk, sem detalhar as circunstâncias da detenção, nem o estado físico do funcionário que sofreu a agressão.
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Palco de confrontos sangrentos e muitas mortes, a cidade de Mariupol decretou luto às vítimas neste sábado. Segundo os últimos dados oficiais, sete pessoas morreram e outras 39 foram hospitalizadas após os combates de ontem na cidade. “A situação em Mariupol continua tensa”, diz um comunicado distribuído por agências locais.
Resposta do Ocidente
Na véspera da consulta popular, países ocidentais se preparam para aumentar pressão e sanções econômicas à Rússia, a quem acusam de engendrar a atual crise que afunda a Ucrânia. Paralelamente, os EUA efetivaram empréstimo de US$ 1 bilhão à Kiev, seguindo os acordos de fornecimento de pacotes econômicos ao país em crise.
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Em comunicado conjunto, Angela Merkel e François Hollande reafirmaram seu compromisso com Kiev
Hoje, a chanceler alemã, Angela Merkel, e o presidente francês, François Hollande, pediram enfaticamente que o Kremlin colabore para eleições “incontestáveis” na Ucrânia. Segundo os líderes europeus, haverá muitas “consequências” caso Moscou não coopere.
Em comunicado conjunto, ambos reafirmaram seu compromisso com o governo de Kiev, ao qual reforçam intenção de continuar proporcionando ajuda no âmbito econômico para sustentar a estabilidade do país. Apesar disso, Merkel e Hollande ressaltam que as autoridades interinas também devem acabar com ofensivas militares contra os separatistas do leste até as eleições.