As autoridades militares da Nigéria souberam com quatro horas de antecedência que o grupo islâmico Boko Haram pretendia invadir a escola onde, no último dia 14 de abril, mais de 240 garotas foram sequestradas, segundo informou a Anistia Internacional nesta sexta-feira (09/05). O grupo disse ter verificado a informação com “fontes confiáveis”.
De acordo com a Anistia Internacional, os militares não puderam impedir o ataque porque não conseguiram reunir tropas suficientes e, assim, deixaram apenas um contingente de 17 soldados e alguns policiais estabelecidos na cidade de Chibok, onde se localiza a escola, para fazer frente ao Boko Haram.
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“O fato de que as forças de segurança nigerianas sabiam do ataque iminente do Boko Haram, mas não conseguiram tomar as medidas imediatas necessárias para impedi-lo, só vai aumentar o clamor nacional e internacional nesse crime horrível”, afirmou o diretor da Anistia para a África, Netsanet Belay.
Agência Efe
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“Isso equivale a uma negligência grosseira da Nigéria em seu dever de proteger os civis, que continuam sendo presas fáceis para esse tipo de ataque”, continuou Belay, em comunicado. “A liderança nigeriana agora deve usar de todos os meios legais à sua disposição para garantir a libertação segura das meninas e assegurar que nada como isso aconteça de novo.”
Além disso, diversos civis e um grupo de vigilância montado pelos militares em Chibok teriam feito ligações para as autoridades para informá-las de “estranhos armados” que tinham passado por ali pedindo direções para a escola onde as meninas foram sequestradas.
“Há muita frustração, exaustão e fadiga entre os soldados e as tropas estabelecidos nos pontos principais”, afirmou um comandante não identificado à Anistia Internacional sobre a falha em impedir o ataque do Boko Haram. “Muitos soldados têm medo de ir para as frentes de batalha”.
As autoridades nigerianas, que já foram muito criticadas tanto por não conseguirem impedir a atuação de grupos como o Boko Haram no norte da Nigéria quanto pela falta de transparência no que envolve o paradeiro das mais de 230 meninas sequestradas, ainda não se pronunciaram formalmente sobre a acusação de que foram informadas do ataque.
Proposta de diálogo
Enquanto isso, o negociador de paz Shehu Sani, que já esteve envolvido anteriormente em diálogos com o Boko Haram, propôs ao governo nigeriano um processo de negociação formal. Ele espera que tal ação permita que as garotas voltem para casa em segurança dentro de uma semana.
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“A esperança não está perdida enquanto essas meninas estiverem vivas”, disse Sani à ABC News. Segundo ele, a ameaça do Boko Haram de vender as reféns como escravas é um sinal positivo, porque, normalmente, eles prometem matar os sequestrados.
Ao mesmo tempo, o negociador teme que a atenção internacional ao caso leve o governo da Nigéria a adotar uma abordagem de linha dura, mas mal calculada. “Este governo é impotente e não tem esperanças de resolver o problema”, disse. “A coisa mais importante é levá-las de volta vivas e não se pode fazer isso por meio da força”.
Auxílio internacional
Nesta sexta-feira, chegaram à Nigéria conselheiros norte-americanos e britânicos para ajudar na busca pelas meninas. O grupo vai se juntar aos militares dos EUA e da Grã-Bretanha que já estavam no país, formulando planos de resgate e estratégias para chegar ao Boko Haram.
Agência Efe
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Por enquanto, não há planos de enviar novas tropas norte-americanas à Nigéria para promover o resgate das reféns, mas o secretário de Estado dos EUA, John Kerry, já afirmou que seu país fará “tudo que for possível para conter a ameaça do Boko Haram”.
Entenda o caso
No dia 14 de abril, o Boko Haram, cujo nome significa “a educação ocidental é proibida”, invadiu uma escola em Chibok, no nordeste da Nigéria, e sequestrou mais de 240 meninas. Algumas conseguiram fugir, mas cerca de 234 garotas continuam desaparecidas.
Segundo uma das menores que conseguiu fugir, as reféns chegam a sofrere até 15 estupros por dia e já foram ameaçadas de degolamento caso se recusassem a se converter ao Islã e a fazer sexo com os sequestradores.
O grupo ameaça vender as estudantes como escravas e os EUA acreditam que a maior parte delas já esteja fora da Nigéria. Não há, entretanto, confirmação oficial. Na internet, a campanha #BringBackOurGirls (tragam de volta nossas garotas) já mobilizou milhares de pessoas ao redor do mundo.