O importante é dizer a verdade, que não mintam para o presidente. Foi com esta condição que o presidente eleito Barack Obama nomeou hoje (9) como diretor da CIA, o serviço secreto dos Estados Unidos, o antigo chefe de gabinete de Bill Clinton, Leon Panetta. Ele nomeou também como diretor nacional de Informações o almirante aposentado Dennis Blair.
Ao apresentá-los, Obama deixou claro que a ideia é romper com o passado da administração de George W. Bush, despolitizar as 16 agências de informação norte-americanas e aplicar uma política que definiu como “o regresso aos valores humanitários” dos Estados Unidos.
Obama revelou que deu instruções precisas aos dois de que o objetivo é “restaurar o respeito pelos direitos humanos”.
“Aprendemos as lições do passado. As nossas informações devem estar baseadas nos fatos, na verdade, e não em opções ideológicas”, sublinhou Obama, que acrescentou que os dois nomeados são pessoas idôneas pela “integridade, estilo de trabalho e disposição de dizer sempre a verdade”.
O presidente eleito criticou diretamente o modo como a administração Bush lidou com os prisioneiros da guerra contra o terrorismo, em particular a criação de prisões clandestinas, onde aparentemente a CIA praticou tortura como método de interrogação.
“Já o disse claramente na campanha e neste processo de transição. Na minha administração, os Estados Unidos não torturam. Cumprimos a Convenção de Genebra e seremos fiéis aos nossos ideais. Temos de nos manter firmes nos nossos valores ao mesmo tempo que garantimos nossa segurança. Sem exceções”, afirmou Obama.
Histórico desastroso
Dos dois nomeados, Panetta é o único sem experiência no terreno das informações, pormenor que levantou algumas sobrancelhas entre comentaristas norte-americanos. A CIA tem uma história desastrosa em termos de diretores nomeados como administradores, sem qualquer histórico de espionagem ou informações (leia mais abaixo).
“É preocupante que ele não tenha experiência nesse terreno, principalmente porque o perfil da agência em Washington tem descido muito nos últimos anos”, disse o ex-agente da CIA Jack Rice à rede de tevê CNN.
“Precisamos de gente com um sentido muito agudo no campo das informações. O maior disparate que se fez nos últimos anos foi politizar as informações. As informações não são republicanas ou democratas. Vimos que isso aconteceu na administração anterior, parece que esta deu conta do recado”, acrecentou Rice.
Por outro lado, para o veterano agente da CIA, a nomeação do almirante Blair como virtual “czar” das informações norte-americanas – sua maior responsabilidade é controlar o trabalho das 16 agências de informação do país – “é muito importante pela sua experiência militar”.
“Podem fazer uma boa equipe, quem sabe. Mas o mais importante é que os dois têm uma ligação, uma comunicação muito forte com a Casa Branca. Isso não acontecia há muito tempo”, recordou Rice.
Durante a administração Bush, a CIA e a Casa Branca tiveram grandes discussões sobre o tratamento dado às informações sobre o Iraque. As diferenças levaram ao desligamento do então diretor da agência, George J. Tenet.
Blair pertenceu ao Conselho de Segurança Nacional da Casa Branca e à Junta de Chefes de Estado Maior das Forças Armadas e chegou a ser vice diretor da CIA para o apoio militar.
Saiba mais:
A CIA sempre havia sido dirigida por oficiais do Exército ou da Marinha até que em fevereiro 1973, o presidente Richard Nixon nomeou seu assessor James R. Schlesinger. Logo de saída, foi contestado dentro da agência pela inexperiência e perdeu o emprego quando o presidente o acusou de não o proteger no caso Watergate.
Em 2004, o presidente George W. Bush despediu George Tenet porque este nunca aceitou a manipulação de informações no caso iraquiano e o substituiu por Peter Goss, um civil, ex-agente da CIA especialista em assuntos cubanos, que também não foi bem recebido. Além disso, cometeu o erro político de pensar que podia “reinar” dentro da CIA, à revelia da Casa Branca, como nos velhos tempos da Guerra Fria. Durou sete meses.
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