Os Estados Unidos estão na iminência de mudar a política em relação a Cuba. Segundo confirmaram neste fim de semana dois funcionários da administração Barack Obama, o presidente vai anunciar a liberação total de viagens para a ilha e o envio ilimitado de dinheiro para todos os exilados cubanos e descendentes quando voltar da Europa, nesta semana.
“Foi uma promessa eleitoral que o presidente quer cumprir e que parte da profunda convicção de que todo mundo deve viajar a seu país de origem sem restrição de nenhum tipo”, disse ao Opera Mundi um dos funcionários, que pediu para não ser identificado para não tirar protagonismo do anúncio presidencial.
No mês passado, o Congresso aprovou, encaixada dentro de uma parte do orçamento federal, a suspensão das restrições impostas pela administração de George W. Bush em 2004, e autorizou os exilados e descendentes a viajar para a ilha uma vez por ano, gastar ali US$ 170 diários e enviar até US$ 1.200 mensais aos familiares.
Agora Obama pretende ir mais longe, acabando com todo tipo de restrição, seja de viagem ou envio de dinheiro.
“Já é tempo de deixar que os cubano-americanos possam ir ver suas mães e pais, suas irmãs e irmãos. Já é tempo de deixar que o dinheiro ganho honestamente pelos cubano-americanos contribua para que suas famílias sejam menos dependentes do regime de Castro”, disse o presidente em dezembro de 2007, num comício eleitoral no coração de Little Havana, em Miami.
Segundo os dois funcionários, o presidente exercerá seus poderes executivos para acabar com as restrições. A decisão beneficiaria mais de um milhão de exilados e descendentes.
Não só cubanos
Por outro lado, em termos práticos, o levantamento das restrições no envio de dinheiro abarcaria também todo tipo de residente nos Estados Unidos, porque as agências que se encarregam das transferências não têm como certificar a nacionalidade do remetente. Ou seja, qualquer pessoa poderia enviar dinheiro, e não necessariamente a um familiar.
“Isto é um primeiro passo para a normalização de relações e acho que vai obrigar o Congresso a fazer muito mais. Todo mundo está de acordo que os exilados devam ajudar suas famílias, mas também cria uma situação estranha em que uma classe de norte-americanos pode viajar livremente e o resto de nós continuaremos a viver com regras de viagem, que cheiram a certo estilo soviético”, comentou o vice-presidente do Lexington Institute, Phil Peters.
O Lexigton Institute é um centro de estudos e análise conservador, com sede em Arlington, Virgínia, e que possui um dos maiores programas de estudo da sociedade cubana dentro do mundo acadêmico norte-americano.
O que Peters comenta está no núcleo das divergências. Se apenas os exilados cubanos e seus descendentes são autorizados a viajar para Cuba, e o resto dos norte-americanos não podem fazê-lo, a decisão criaria diferenças entre os cidadãos, colocando em inferioridade os que nasceram nos Estados Unidos.
Há alguns meses, o deputado federal republicano Lincoln Diaz-Balart, que se opõe firmemente a todo tipo de abertura em relação a Cuba, disse ser muito difícil para ele justificar aos seus pares as viagens dos cubano-americanos à ilha, ainda que condicionadas, se o resto dos norte-americanos não poderia fazer o mesmo.
Neste momento, encontra-se em estudo no Congresso um projeto de lei chamado Ata pela Liberdade de Viajar a Cuba, proposta, entre outros, pelo influente senador republicano Richard Lugar, que permitiria que todos os norte-americanos viajassem para Cuba. O projeto conta com o apoio de 121 dos 435 deputados federais.
Pressão do Senado
Na semana passada, Lugar enviou uma carta a Obama, sugerindo um passo em relação a Cuba para melhorar as relações bilaterais, tendo em conta o apoio com que a ilha conta na América Latina, uma zona onde os Estados Unidos precisam ganhar influência, depois de, pelo menos, uma década de abandono.
“A próxima Cúpula das Américas é uma oportunidade para construir um melhor ambiente para nossos interesses na região, mudando nossa política em relação a Cuba”, escreveu Lugar, propondo a nomeação de um diplomata dedicado apenas a lidar com o governo cubano.
“Não há dúvida que uma decisão por parte de Obama neste sentido vai empurrar o projeto de Lugar. É difícil convencer o resto do país de que não pode viajar [a Cuba], se os exilados podem ir ilimitadamente, seja para ver a família ou passar um fim de semana em Varadero”, acrescentou Phil Peters.
Apesar de que Cuba não participar da Cúpula das Américas, parece que estará no centro das discussões. Tanto a diplomacia brasileira quanto a venezuelana estão incentivando o assunto.
“Este continente deve ser livre. Se o novo governo norte-americano realmente quer ter outro nível de relações com a América Latina, deve respeitar de modo igual todos os governos da América Latina, a começar pelo governo e o povo cubano. Por que Cuba não pode ir à cúpula?”, disse o presidente Hugo Chávez há duas semanas, num programa semanal de televisão.
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