A MUD (Mesa de Unidade Democrática), aliança que reúne a maioria dos partidos opositores na Venezuela, anunciou nesta terça-feira (13/05) que o diálogo com o governo de Nicolás Maduro está “em crise”. A situação será exposta pelos opositores aos chanceleres da Unasul (União de Nações Sul-americanas) que devem viajar a Caracas na próxima quinta-feira.
Em coletiva hoje, o secretário executivo da MUD, Ramón Guillermo Aveledo, disse que as conversas estão congeladas por falta de respostas do governo às demandas da oposição. Os encontros entre as partes, que visavam pôr fim à violência relacionada aos protestos, não se realizam há duas semanas.
“No sábado, 10 [de maio], fez um mês desde o início do processo de diálogo e este processo está em crise por responsabilidade do governo”, afirmou o secretário, complementando que o Executivo diz estar a favor das conversas com a oposição, mas que atua contra as mesmas. “Não nos prestamos a uma brincadeira”, expressou.
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Aveledo disse que oito de cada 10 venezuelanos querem o diálogo “porque sabem que o país está com problemas”. Argumentou, no entanto, que a possibilidade de uma nova reunião com o governo depende das demonstrações dadas por Caracas de que valoriza o diálogo.
A última reunião terminou em uma dura negativa da Associação de Vítimas de 11 de abril, data do golpe de Estado contra Hugo Chávez, em 2002, à lei de anistia a presos e processados considerados como “políticos” pela oposição. Esta foi uma das exigências citadas por Aveledo.
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A aliança também exige que a Comissão da Verdade que investigará os casos de violência em protestos não seja parlamentar nem dirigida pelo presidente do poder Legislativo, Diosdado Cabello, do governista PSUV (Partido Socialista Unido da Venezuela). Entre os pontos de consenso anunciados durante as reuniões anteriores foi a ampliação da mesma, com participação de nomes reconhecidos no país.
“Estamos antecipando o que vamos dizer aos senhores chanceleres e ao núncio sobre a crise do diálogo”, disse o opositor em referência aos ministros das Relações Exteriores de Brasil, Luiz Alberto Figueiredo, Colômbia, María Ángela Holguín, e Equador, Ricardo Patiño, que acompanham as conversas representando a Unasul, e do representante do Vaticano, Aldo Giordano. Segundo ele a “utilidade” da presença internacional “agora vai se demonstrar”.
Na exposição dos problemas no diálogo, Aveledo enfatizou que este “está congelado pelo caso dos estudantes” e disse que uma reunião com o movimento estudantil – opositor – ainda não foi marcada. Durante os protestos, o governo fez, no entanto, chamados a que os estudantes que protestam se sentassem a dialogar.
Luciana Taddeo/Opera Mundi
Imagem do acampamento que foi desmantelado na última quinta-feira
Na madrugada da última quinta, quatro acampamentos de manifestantes em Caracas foram desmantelados por forças de segurança do país. Segundo o governo, armas e artefatos explosivos confiscados seriam usados para confrontar as autoridades locais. De 243 detidos no procedimento, mais de 200 foram liberados, mas a maioria deles terá que se apresentar periodicamente aos tribunais.
A ação policial voltou a desatar os protestos desencadeados há três meses, que vinham perdendo ritmo, após 41 mortes e mais de 800 feridos. Nos últimos dois dias, novos confrontos entre manifestantes e oficiais se desataram na zona leste de Caracas e um policial morreu baleado no pescoço, aumentando a cifra de falecidos.