Enquanto o primeiro-ministro de Portugal, Pedro Passos Coelho, tenta manter a maioria parlamentar e a viabilidade de seu governo, os partidos de oposição se mobilizam e pedem a realização de novas eleições. Por ora, o CDS-PP (Centro Democrático Social-Partido Popular), de orientação conservadora e democrata-cristã, principal partido da base aliada ao governo do PSD (Partido Social-Democrata), decidiu, após reunião nesta quarta-feira (03/07) manter os ministros no Executivo, mas ainda não se decidiu sobre o futuro da aliança.
Caberá ao ministro demissionário do Ministério de Relações Exteriores, Paulo Portas, número 2 do governo, negociar diretamente com o governo a crise política. Portas iniciou uma crise política ao se demitir na terça-feira (02), sem avisar seu próprio partido, por discordar dos rumos da política econômica e da nomeação da nova ministra das Finanças, Maria Luís Albuquerque. Para Portas, ela representa uma continuidade.
O líder do Partido Socialista, principal legenda de oposição em Portugal, António José Seguro, pediu nesta quarta-feira para que as eleições sejam antecipadas para 29 de setembro, após se reunir com o presidente, Aníbal Cavaco Silva. Ele, por sua vez, recebeu Seguro após um pedido em caráter de urgência do líder socialista. No entanto, diante da situação criada ontem pela renúncia de Portas, o presidente também convocou consultas com Passos Coelho, que será recebido amanhã, assim como com os demais partidos.
Seguro disse aos jornalistas que Portugal necessita “um governo forte”, que equilibre as contas do país e supere a crise aberta pela renúncia do ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiro, Paulo Portas, líder do partido CDS-PP (Centro Democrático Social-Partido Popular), de orientação conservadora e democrata-cristã. Juntos, o partido do premiê, o PSD (Partido Social-Democrata) e o CDS-PP garantem a maioria absoluta do Executivo conservador. Agora, após a decisão de Portas em demitir-se, os dois partidos ainda negociam para tentar manter a coalizão.
O líder parlamentar do PS, Carlos Zorrinho, afirmou que o “nível inimaginável” da crise é “fruto da irresponsabilidade do governo”. O socialista citou a carta de demissão do ex-ministro das Finanças Vítor Gaspar e do ex-ministro dos Negócios Estrangeiros Paulo Portas para ressaltar a “incapacidade de liderança” do primeiro-ministro e o fato da “fonte primária de instabilidade política e social” ser o governo.
A “falta de sentido de Estado” do primeiro-ministro e a exigência que “a palavra seja devolvida aos portugueses” pela “saúde democrática” apontam como “única solução” a realização de eleições, concluiu Zorrinho.
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A mesma posição foi defendida pelo Bloco de Esquerda. A coordenadora Catarina Martins disse que a crise política é sinônimo de “irresponsabilidade máxima” e sinal de “absoluto desprezo pelos cidadãos”. A deputada acusou o primeiro-ministro de ter “zero sentido de Estado” e de estar “agarrado ao poder”. Para ela, a realização de eleições é a “única resposta” que “resgata” a democracia.
Bernardino Soares, líder parlamentar do PCP (Partido Comunista de Portugal), sublinhou que a “derrota profunda” do governo é “fruto da luta das populações e trabalhadores” e que a demissão de toda a equipe é a “única medida aceitável”.
Entre os Verdes-Ecologia, qualquer outra solução que não a realização eleições é “traição ao país”. Heloísa Apolónia denunciou a “total falta de lucidez” do primeiro-ministro e a “total inutilidade” do presidente da República se não dissolver a Assembleia da República, um “imperativo nacional” para o partido, que considera até mesmo propor uma moção de censura ao governo. “Não abdicaremos de nenhum, de nenhum, dos instrumentos que temos ao nosso alcance e ao nosso dispor para pôr fim a esta crise”, afirmou.
O Parlamento português é formado por 230 representantes. O PSD possui 108 e consegue a maioria simples coligado com o CSD-PP, com 24. Participam da oposição o PS (74), o PCP (14), o Bloco de Esquerda (8) e os Verdes (2).