Mesmo após a aprovação da adesão da Venezuela ao Mercosul pelo Senado brasileiro, na noite de ontem (15), parlamentares brasileiros mantêm discordâncias sobre a participação do país no bloco regional. Enquanto alguns deputados e senadores classificam a decisão como “mais um passo na marcha para a integração do continente”, outros temem que a adesão crie problemas para o avanço do Mercosul.
A entrada da Venezuela foi aprovada com 35 votos a favor e 27 contra, mais de três anos depois que o protocolo de adesão foi assinado. No entanto, o processo ainda não está concluído, já que falta a aprovação do Congresso paraguaio.
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Embora um dos principais argumentos para a aprovação da entrada fosse econômico, destacando o volume das exportações brasileiras para a Venezuela (foram US$ 5,2 bilhões em 2008), parlamentares ouvidos pelo Opera Mundi hoje minimizaram esse aspecto.
“Ganhos com comércio certamente existem, mas acho que a integração é superior à questão econômica. O Mercosul ganha muita força como bloco com a entrada da Venezuela”, disse o deputado federal Dr. Rosinha (PT-PR), que também é membro do Parlamento do Mercosul.
O senador Cristovam Buarque (PDT-DF), também no Parlasul, concorda. “Embora seja importante, o comércio não é o fundamental, pois ele oscila, pode nem sempre ser favorável. A base dessa união tem que vir do ponto de vista cultural, político”, afirmou. “Fico feliz com essa aprovação porque foi um passo importante na nossa lenta marcha para a integração, em processo semelhante ao que fez a União Europeia”.
Integração
Para o senador Pedro Simon (PMDB-RS), a decisão de aprovar a adesão venezuelana foi “decisiva e histórica”. Para ele, uma rejeição teria empurrado a Venezuela para um processo de aproximação com outros países, o que seria ruim para a integração latino-americana.
Já o senador Heráclito Fortes (DEM-PI) considerou a aprovação como um erro. “Não porque o Estado venezuelano não mereça, mas pela circunstância atual, com um presidente [Hugo Chávez] que não respeita a cláusula democrática do Mercosul, não deveríamos ter permitido a entrada nesse momento”, argumentou.
A senadora Marisa Serrano (PSDB-MS), outra integrante do Parlasul, afirma que o problema não é a Venezuela, mas o presidente Hugo Chávez. “A questão econômica é conjuntural, mas a liberdade e a democracia, não”. Ela disse também temer que certas posições radicais de Chávez dificultem ainda mais os acordos comerciais do Mercosul com outros países, já que o presidente venezuelano terá poder de vetar as negociações das quais o bloco participar.
Democracia
Em relação aos argumentos de que haveria uma falta de democracia na Venezuela que seria um impedimento para a sua entrada no bloco, Dr. Rosinha rebate: “Não concordo que não haja democracia na Venezuela. Mas, mesmo se fosse verdade, ainda assim não deveríamos ser contra a entrada. Mais isolamento significa menos democracia, e o mundo está repleto de exemplos nesse sentido. Vi essa posição contrária como fortemente ideológica, acho até que de má-fé, pois sei que desinformados eles não são. Mesmo o senador José Sarney, que diz que fez muito pela criação do Mercosul enquanto presidente da República, pode ser que tenha feito no passado, mas hoje tem essa posição contrária à integração”.
Além disso, destacou, o Parlamento do Mercosul tem um importante papel na defesa da democracia e dos direitos humanos. “Temos a obrigação de acompanhar qualquer denúncia nessas áreas dentro dos países membros. Hoje, a Venezuela, como país soberano, pode negar a entrada de pessoas de fora para verificar uma denúncia dessas. Com a entrada no Mercosul, isso fica sendo automático: nem precisamos pedir autorização para entrar no país”, explicou o deputado.
Já Cristovam Buarque, mesmo com ressalvas a algumas atitudes de Chávez, destaca que não se pode dizer que haja um regime de exceção no país vizinho. “Acho que ele cometeu um equívoco ao cancelar concessões de televisão, mas há outras TVs e jornais que fazem oposição”. Ele lembrou que também há partidos de oposição com voz, com destaque para o prefeito de Caracas, Antonio Ledezma (que esteve como convidado em reunião da Comissão de Relações Exteriores do Senado), e que Chávez promoveu e venceu diversas eleições e referendos desde que chegou ao poder.
“Posso dizer que a democracia na Venezuela não é como eu gosto, mas certamente Chávez não é um Hitler nem um Médici”, disse.
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