A tradicional dieta dos argentinos corre o risco de ser alterada. Campeã no consumo de carne bovina – 70 quilos por pessoa anualmente –, a Argentina registrou um aumento de 180% no preço do alimento nos últimos três anos e, consequentemente, é cada vez mais difícil encontrar peças de carne no varejo. No atacado, há entre três e quatro milhões de cabeças de gado a menos do que no ano passado.
O governo culpa as recentes chuvas e a especulação dos produtores, que por sua vez apontam problemas estruturais na administração atual, como a ausência de incentivos na produção.
Cézaro de Luca/EFE (10/02/2010)
O preço do quilo da carne na Argentina quase dobrou entre dezembro de 2009 e janeiro de 2010
Segundo o Senasa, órgão responsável pela qualidade da produção agropecuária e pesqueira, entre 2008 e 2009 o número de cabeças de gado reduziu em 3,15 milhões. De acordo com reportagem do diário Página 12, o quilo do boi fechou ontem (10) no Mercado de Liniers, a maior feira de gado da Argentina, a 5,3 pesos, o que representa uma alta de 27,3% no acumulado de fevereiro e 45% desde o começo de dezembro.
Tais fatores influenciam diretamente o preço encontrado pelo consumidor. Em dezembro de 2009, um quilo custava 14 pesos argentinos (o equivalente a 6,72 reais) nos açougues. Hoje, é difícil encontrar o quilo por menos de 25 pesos argentinos (o equivalente a 12 reais). Como conseqüência, a procura pela carne bovina diminuiu, porém, o preço de substitutos, como frango, peixe e porco, dobrou nos últimos três anos.
O salário mínimo argentino é de 1,5 mil pesos argentinos, ou 720 reais.
Chuvas e especulação
Por muito tempo a Argentina foi o primeiro exportador mundial de carne, deixando a liderança em 2005, quando caiu para o terceiro lugar, segundo o escritório de Controle Comercial Agropecuária do país. Hoje é o sétimo colocado, e os EUA, o primeiro. Oitenta e cinco porcento da produção é consumida pelo mercado interno.
O governo culpa pelo aumento do preço as recentes chuvas e a especulação dos produtores, que “forçam um aumento do preço do gado” para “ganhar mais com as vendas”, segundo a presidente, Cristina Kirchner.
Veja pronunciamento de Cristina feito ontem:
Citado pelo jornal La Nacion, o presidente da Federação Agrária, Eduardo Buzzi, responsabilizou ontem a queda da oferta da carne a “horrores do kirchnerismo”, fazendo referência a problemas estruturais como a ausência de incentivos do governo na produção.
O embate atual sofre influência da crise pela qual passa o relacionamento entre o governo e o setor rural, um dos mais importantes da economia argentina. Em 2008 o governo elevou as alíquotas do imposto sobre a exportação de produtos agrícolas, aproveitando a alta dos preços das commodities. Em contrapartida, a nova lei previa uma redução quando os preços caíssem. Os grandes ruralistas foram contra a proposta.
Substituição
O preço dos cereais aumentou significativamente (300%) desde o início da década, o que fez com que uma série de fazendeiros substituísse a criação de gado pelo cultivo de soja, trigo e milho. Secas severas igualmente prejudicaram a criação de gado.
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Dessa forma, lugares onde antes os rebanhos pastavam, agora estão cobertos por enormes tapetes verdes, a maioria de soja. Entre 2003 e 2008, 11 milhões de hectares passaram da pecuária para a agricultura, causando diminuição da produção.
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