Um ex-membro de um esquadrão da morte afirmou nesta quinta-feira (15/09) perante o Senado filipino que o presidente do país, Rodrigo Duterte, matou uma pessoa e mandou o grupo do qual ele participava matar criminosos e oponentes quando era prefeito da cidade de Davao.
Segundo Edgar Matobato, Duterte teria ordenado ao Esquadrão da Morte de Davao que realizassem ataques que resultaram na morte de mais de mil pessoas entre 1988 e 2003.
Matobato prestou depoimento na investigação sobre a suposta participação do mandatário em homicídios durante seu tempo como prefeito de Davao que está sendo comandada pela senadora Leila de Lima, uma opositora de Duterte.
O ex-mercenário afirmou ter sido responsável por cerca de 50 dos homicídios, incluindo o de um homem que foi dado como comida para um crocodilo. “Eu não matava ninguém a não ser que fosse comandado por Charlie Mike [codinome usado pelo esquadrão para se referir a Duterte]”, disse o Matobato.
Agência Efe
Edgar Matobato acusou Duterte de ter ordenado a morte e matado pessoas enquanto foi prefeito de Davao
“Nosso trabalho era matar criminosos, estupradores, traficantes, sequestradores e ladrões”, afirmou também Matobato.
As vítimas também incluíam críticos e oponentes de Duterte. Matobato citou a morte de um dono de hotel na província de Cebu, assassinado em 2014 após uma briga com o filho do presidente. Outro exemplo dado foi o da morte de um radialista crítico do então prefeito de Davao, chamado Jun Pala, que foi baleado enquanto voltava para casa em 2003.
Sobre o assassinato que teria sido cometido pelo próprio presidente, Matobato disse que foi na ocasião de um tiroteio envolvendo membros do esquadrão e um agente do Departamento de Justiça filipino, que havia interceptado o grupo.
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De acordo com a testemunha, Duterte chegou à cena do conflito e matou o agente. “Foi o prefeito Duterte que acabou com ele. Ele esvaziou dois pentes de Uzi [pistola-metralhadora] nele”, afirmou.
Matobato disse que os homicídios começaram em 1988, quando o grupo de mercenários foi formado pelo próprio Duterte. Segundo o ex-membro, o esquadrão foi crescendo quando, em 1993, evoluiu para o Esquadrão da Morte de Davao.
Diante das acusações, o secretário de comunicações e o porta-voz de Duterte, Martin Andanar e Ernesto Abella, respectivamente, vieram a público negar as alegações.
Malacañang denies the allegations of witness Matobato against President Duterte. https://t.co/iJIeozLCvh pic.twitter.com/pj44e7MySq
— CNN Philippines (@cnnphilippines) 15 de setembro de 2016
“Eu não acho que ele [presidente] seria capaz de dar uma ordem como essa [para matar alguém]. A Comissão de Direitos Humanos já investigou essa história há muito tempo e nenhuma acusação foi feita, eles não encontraram nenhuma evidência direta”, disse Andanar à imprensa.
“As pessoas dão declarações todos os dias. E enquanto esta pessoa [Matobato] pode parecer crível, é imperativo que cada um de nós pesemos o que ela disse”, afirmou Abella.
O filho de Duterte, Paolo, também comentou as acusações, dizendo que Matobato é um “louco” e classificando seu depoimento como um “mero rumor”.
Desde que Duterte assumiu a Presidência das Filipinas, em junho, cerca de 420 pessoas foram assassinadas no país, segundo relatórios policiais e informações da mídia local — o jornal britânico The Guardian, entretanto, cita estimativas de 3.000 mortos. A maioria teria morrido em confrontos com a polícia, mas pelo menos 154 pessoas teriam sido assassinadas por “vigilantes”.
Ao Congresso, durante reunião na semana passada, o presidente falou novamente sobre sua política de aprovar o assassinato de criminosos e pediu que a polícia “triplique” seus esforços no combate ao crime.
Agência Efe
Presidente filipino, Rodrigo Duterte, defende a morte de traficantes para combater as drogas no país
“Nós não iremos parar até que o último traficante tenha se entregado ou sido posto atrás das grades ou debaixo do são, se eles assim quiserem”, disse Duterte.
Em 2009, a ONG Human Rights Watch já havia publicado um relatório pedindo que as Filipinas acabassem com gangues de vigilantes, afirmando que estas estariam diretamente ligadas a oficiais do governo e à polícia de Davao.
O documento dizia que algumas das vítimas eram mortas após o prefeito anunciar seus nomes na emissora local. O prefeito, na época, era Duterte.
Duterte e Obama
Outra polêmica provocada por Duterte envolveu o presidente dos EUA, Barack Obama. No início desse mês, Obama cancelou sua viagem às Filipinas após seu homólogo filipino tê-lo chamado de “filho da puta”.
Na ocasião, um dia antes do encontro entre os líderes, que aconteceria durante a cúpula da Associação das Nações do Sudeste Asiático (Asean), em Vientiane, no Laos, Duterte usou a expressão “filho da puta” para se referir a Obama durante uma entrevista, quando foi questionado sobre como pretendia explicar ao presidente dos EUA as milhares de mortes extrajudiciais de traficantes e usuários de drogas.