A crise entre o Banco Central da Argentina e o governo foi agravada pela liminar concedida hoje (8) pela Justiça para que o presidente da entidade, Martín Redrado, exonerado pela presidente Cristina Kirchner, volte ao cargo. O governo promete recorrer da decisão. Agora, o destino da crise será definido nos tribunais.
Assim que foi divulgada a decisão, Redrado voltou à sede do Banco Central para retomar suas funções e disse que “tinha sido feita justiça”. Mais cedo, porém, o governo tinha apresentado uma denúncia por prevaricação contra o presidente demitido. O processo seguiu para o juiz Norberto Oyarbide, acusado pela oposição de ser afim aos governistas.
Na manhã desta sexta-feira, a juíza María José Sarmento ordenou a suspensão da criação do chamado Fundo Bicentenário, para pagar a dívida externa argentina. O uso de reservas do Banco Central para sustentar o fundo foi o pivô da discórdia entre o governo e Martín Redrado.
Na sentença, a juíza afirma que “não se adverte que o autor invocado tenha incorrido em descumprimento dos deveres de funcionário público”. Sarmento afirmou tomar a decisão apesar do recesso judicial “diante da gravidade da questão apresentada”.
O economista Aldo Pignanelli, ex-presidente do BC argentino, disse ao Opera Mundi que a atitude de Redrado era “lamentável”. “Ele deveria ter se queixado ao congresso, e não à Justiça. Claramente, sua atitude obedece a uma especulação política. Logo o veremos como candidato da oposição”, especulou.
Com relação à crise institucional, Pignanelli afirmou que Redrado “devia ter renunciado se o pedido foi feito pela presidente, porque eles não têm o mesmo nível. Não é um problema entre ministros de um governo. Isto não exime a culpa do governo, que errou com relação ao Fundo Bicentenário”.
Por outro lado, o economista Carlos Melconián, próximo às políticas ortodoxas, apoiou Redrado e afirmou que “ele fez o que mandou sua consciência”. “Assim que foi criado o Fundo Bicentenário, deveria ter renunciado”, disse ao Opera Mundi.
Mas ambos concordam que na segunda-feira, quando os mercados começarem a operar, não haverá grandes turbulências na bolsa e o dólar ficará estável.
Disputa com vice
Em meio à situação de crise com o Banco Central, a presidente da Argentina manteve uma pesada troca de declarações com o vice-presidente, Julio Cobos, que está na oposição.
“Cobos é candidato oposicionista mas deveria saber qual é o papel do vice-presidente. É estranho ver alguém que foi companheiro de chapa ser o candidato da oposição para as próximas eleições e participar de todas as discussões que haja contra o governo”, disse Cristina Kirchner hoje durante um ato na periferia de Buenos Aires.
Já o chefe de gabinete do governo, Aníbal Fernández, enfatizou as palavras da presidente e afirmou que Cobos está por trás da renúncia de Redrado.
Antes, Cobos convocou uma reunião de todos os senadores no Congreso para a próxima segunda-feira, apesar de os parlamentares estarem de recesso. “Não se trata de nenhuma atitude conspiratória”, mas de algo “previsível” diante da crise com o Banco Central, alegou.
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