Em dezembro de 2008, Antonio Ledezma ingressou em uma casca vazia quando se tornou prefeito de Caracas. Antes mesmo do juramento de posse, o governo federal tirou de sua alçada a polícia, os hospitais, as lideranças civis, as escolas e o canal de televisão da capital venezuelana.
Há mais de um mês, assumiu o cargo. Mas ainda não se instalou na sede da prefeitura, localizada numa região dominada por simpatizantes do presidente Hugo Chávez. Os empregados, contratados pelo ex-prefeito chavista Juan Barreto, estão em pé de guerra com o novo chefe. As paredes estão pichadas com frases inóspitas.
A meta de Ledezma como prefeito é, segundo suas palavras, “ser um campeão” em articulação com as administrações regionais, a fim de resolver os problemas do lixo, da falta de segurança e de infra-estrutura, pontos críticos das prefeituras municipais.
“Por isso me empenhei em instalar o conselho metropolitano de governo, integrado pelas prefeituras das cidades de Sucre, Baruta e El Hatillo e pela administração de Miranda [todas nas mãos da oposição]. Já fizemos duas reuniões em menos de um mês”, disse Ledezma em entrevista ao Opera Mundi.
Ledezma não é novato na administração da capital venezuelana. Nos anos 90, ocupou o cargo do que então se chamava governo do Distrito Federal, nomeado pelo então presidente Carlos Andrés Pérez. Agora está de volta, mas pelo voto popular.
O governador do Distrito Federal, antes da Constituição de 1999 – promulgada por Hugo Chávez, presidente desde aquele ano – era escolhido pelo presidente da República. “Era uma posição muito importante, porque Caracas é a sede dos Poderes. Era preciso alguém que tivesse boa relação com o Executivo nacional”, avalia.
Ledezma é homem de confiança do ex-presidente Pérez, que Chávez tentou derrubar no frustrado golpe de Estado de 1992, e hoje lidera a oposição, não só internamente, mas em lugares como República Dominicana e Miami.
Tolerância zero
Quando governou Caracas, Ledezma foi um linha-dura que perseguiu trabalhadores informais e reprimiu protestos de idosos que exigiam suas aposentadorias e de estudantes contrários à privatização das universidades, lembram habitantes de Caracas. A polícia não poupava bombas de gás lacrimogêneo e jatos d´água.
Ledezma, que se auto-denomina ideologicamente “avançado” e “nada conservador”, fez carreira política no partido Ação Democrática (AD), conhecido como “adeco”. Ainda que hoje não seja militante desta agremiação, “guarda recordações muito boas” de quando era filiado, pela formação que teve como dirigente estudantil. “Foi uma boa escola”.
Por problemas internos, deixou o partido em 1999, após 30 anos, e fundou a Aliança Bravo Povo (ABP), junto aos dissidentes mais conservadores. A razão: naquele ano, quis ser secretário-geral da organização “adeca”, mas ao perceber que estava em desvantagem, e que as regras do jogo não estavam claras, desistiu.
Mulheres influentes
Ledezma, 53 anos, não nasceu em Caracas, apesar da paixão e da perseverança política na capital. Sua terra natal é Guárico, na região central do país. De estatura alta, pele branca e cabelos grisalhos, veste-se de maneira impecável, mas é comparado pelos adversários com o avô da série norte-americana “Os Monstros”.
Cursou faculdade de Direito em uma universidade particular de Caracas e desde os 25 anos, tem como companheira Mitzi Capriles, mulher de família rica e influente, com quem tem duas filhas. O jornal mais vendido no país, Últimas Notícias, pertence à família dela.
Sua tia, Gloria Capriles, foi a primeira mulher eleita prefeita com o voto popular, no município de Baruta, em Caracas, em 1989. Depois de três mandatos, um sobrinho de Mitzi, Enrique Capriles Radonsky, foi eleito por mais dois. Hoje, ele é governador do estado de Miranda.
Antes de Mitzi, Ledezma foi casado com Maíra Camero, sobrinha de Omar Camero, rico ex-senador “adeco” e dono de um canal de televisão no país, Televen, no qual Ledezma nunca aparece. Com ela, teve dois filhos.
Carrinho de bate-bate
Ledezma é adversário direto de Hugo Chávez. Sobre a política externa do governo venezuelano, diz não ter nada de bom para apontar.
Primeiro, porque a “Venezuela parece um país que quer apadrinhar seus irmãos do Caribe, os latino-americanos, chantageando-os com o preço do petróleo, com um talão de cheques em mãos”. Para ele, essa postura causa um mal-estar generalizado no exterior.
Segundo, porque “aparecemos [perante o mundo] como a ponta de lança de um projeto sem nexo, o do “castro-comunismo”. “Há um modelo geopolítico que se busca exportar e para isso, vemos que Chávez usa constantemente o nome de Fidel Castro”, explicou.
Terceiro, porque “sobressaímos como um pequeno carro, um carrinho que vai se chocando com outros. Brigamos com países amigos. Quando não é com a Colômbia, é com a Costa Rica. Quando não é com o México, é com o Peru. Quando não é com o Peru, é com o Chile, os Estados Unidos ou a Espanha. Essa postura coloca nosso país em um cenário conflituoso”.
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