O proprietário de uma rede de sex shops na Rússia achou uma maneira de driblar as leis cada vez mais duras com a comunidade LGBT no país e ainda ganhar algum dinheiro. O Ponto G, que possui lojas em Moscou, São Petersburgo e Arkhangelsk, instituiu o casamento gay nos estabelecimentos da rede.
O dono dos sex shops, Aleksandr Donskoi, criou um registro fictício de uniões de casais homossexuais, já que a união civil oficial não está permitida pela Federação Russa. O registro de casamentos entre pessoas do mesmo sexo custa mil rublos (62 reais) em Moscou e 600 rublos (37 reais) na filial de São Petersburgo.
Os valores incluem apenas as taxas mínimas, mas o sex shop oferece ainda serviços como uma certidão de casamento, fotos e um discurso solene. A festa depois da cerimônia também é organizada pelo sex shop, com direito a banda, strippers, bufê em restaurante e animadores. Vale destacar que o registro para o casamento “tradicional” (homem e mulher) na Rússia custa módicos 200 rublos (12 reais), incluindo o certificado.
De acordo com Donskoi, apesar da cerimônia não ter nenhum efeito legal, quase uma dezena casais procurou o sex-shop no mês de março. “Muitas pessoas querem ter esta cerimônia simbólica”. O primeiro casamento foi realizado no início de fevereiro. “Alguns acham que isso é piada, mas o primeiro casal levou isso a sério. Um jovem pediu a mão do seu parceiro e eles se casaram aqui no sex shop”.
A ideia do certificado emitido pelo sex shop não é, no entanto, de se especializar no público homossexual. “As pessoas podem vir aqui e registrar a amizade, por exemplo”, conta o empresário.
No entanto, nem todos veem com bons olhos a iniciativa do sex shop. Em entrevista ao Opera Mundi, Ivan Savvine, escritor e historiador russo residente nos Estados Unidos, explica que o fato da cerimônia ser realizada em um sex shop levará a mais estigmatização e marginalização da comunidade LGBT na Rússia.
“Para a maioria dos russos, um sex shop ainda é um local frequentado apenas por pessoas com algum desvio sexual”. E completa: “A associação direta da comunidade gay russo com a indústria do sexo pode aumentar os sentimentos homofóbicos e levar o público a equiparar a homossexualidade à promiscuidade”. Savvine recebeu asilo nos Estados Unidos devido à sua orientação sexual.
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Para o historiador, o casamento igualitário ainda não é nem mesmo uma pauta na agenda da luta pelos direitos LGBT na Rússia. “Antes de fazer lobby pelo casamento entre pessoas do mesmo sexo como nos países ocidentais, temos que lutar por direitos e liberdades mais básicos, como a proteção contra a discriminação no local de trabalho e uma legislação contra crime de ódio”, explica Savvine.
Os direitos LGBT na Rússia tomaram as manchetes internacionais no último ano depois de que uma série de regiões do país, incluindo São Petersburgo, a segunda maior cidade russa, aprovassem leis “anti-propaganda gay”, com sanções administrativas à “promoção de sodomia, lesbianismo, bissexualidade e pedofilia a menores”.
Desde a aprovação da lei anti-propaganda gay, apenas uma pessoa foi multada. O conhecido ativista LGBT Nikolai Alekseev teve que pagar 5 mil rublos (313 reais) por carregar um cartaz do movimento gay em um local público de São Petersburgo onde havia menores de idade.
A nova cruzada anti-gay perpetrada pelas autoridades russas também atingiu a pop star Madonna. Um juiz disse que a cantora “violou brutalmente” a lei de São Petersburgo. Na sua turnê pela cidade, em 2012, Madonna criticou a lei e foram distribuídas pulseiras rosas durante o show, em apoio à comunidade gay. Ninguém foi multado.
O autor da lei anti-propaganda gay de São Petersburgo, Vitaly Milonov, não vê nenhuma violação legal ao surgimento do serviço de “casamento” entre pessoas do mesmo sexo na rede de sex-shops. No entanto, Milonov acredita que o empresário apenas queira se aproveitar de gays e lésbicas para ganhar dinheiro.