Atualizada em 26.abr, às 11h43
No último fim de semana, a resposta dada pelo vice-presidente do grupo Globo, João Roberto Marinho, ao artigo publicado pelo ativista brasileiro David Miranda no jornal britânico The Guardian agitou as redes sociais. A surpresa se deu não pela resposta do homem mais influente da mídia nacional, mas pelo fato de que ele foi publicado na sessão de comentários do jornal e é precisamente por este fato que Miranda começa a réplica a Marinho em artigo publicado nesta segunda-feira (25/04) pelo The Intercept.
Ironicamente, Miranda questiona: “O que o mais poderoso homem do Brasil, o herdeiro bilionário do império das organizações Globo, João Roberto Marinho, estava fazendo nos comentários do Guardian? É verdade, seu comentário recebeu um cobiçado tag de ‘recomendado’ pelos editores do Guardian – parabéns, João! – mas, ainda assim, não é o lugar onde se espera encontrar o multibilionário plutocrata hereditário brasileiro”.
Roberto Parizotti/Fotos Públicas
Protesto em frente à sede da rede Globo em são Paulo
Questionando ponto a ponto a resposta de Marinho, Miranda ressalta que o texto “merece mais atenção do que um mero comentário porque ela está recheada de propaganda enganosa e falsidades pró-impeachment”.
A réplica de Miranda reitera o que ele argumentou em seu artigo de opinião no jornal britânico: que a mídia brasileira, aliada à elite do país — o que inclui políticos e parte da população —, está tentando destituir a presidente eleita democraticamente, Dilma Rousseff, alegando corrupção, com o objetivo de proteger seus próprios interesses.
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“Ficou claro que a corrupção não é a causa dos esforços para conseguir o impedimento da presidente brasileira eleita duas vezes; em vez disso, a corrupção é meramente um pretexto”, afirmou o ativista no Guardian.
Ele defende ainda que, uma vez que ocorra o impeachment de Dilma, a imprensa “liderada pelos múltiplos braços midiáticos das organizações Globo — [e que] anunciou o golpe como um ataque à corrupção de um governo progressista democraticamente eleito” tirará o tema da corrupção de foco. “O interesse público irá se desmanchar e as novas facções de Brasília no poder estarão hábeis para explorar o apoio da maioria no Congresso para paralisar as investigações [contra corrupção] e se protegerem”.
Com relação ao argumento de Marinho de que a “imprensa brasileira no geral, e o grupo Globo em particular, exerceram seu dever de informar sobre tudo, como seria em qualquer outra democracia no mundo. (…) Com o grupo Globo resta a responsabilidade de reportar os fatos conforme eles acontecem. É nosso dever”, o ativista detalhou a concentração midiática e o poderio da maior rede de televisão no país.
Por fim, Miranda observa que a “internet está ameaçando o domínio da Globo. As mídias sociais permitiram aos brasileiros compartilhar informação por fora do império global, e agora podemos ler artigos e jornais estrangeiros que fornecem informação e ultrapassa muito os estreitos limites de opinião permitidos pela Globo, Abril/Veja e Estadão”.
E encerra: “É precisamente por isso que João está combatendo artigos como os meus em jornais estrangeiros: porque ele tem medo do que acontecerá se ele perder o controle do fluxo de informação que os brasileiros recebem. (…) A internet ameaça o monopólio da Globo sobre as notícias e a opinião pública. É por isso que estão furiosos”.