Agência Efe (14/12)
A presidente do Brasil, Dilma Rousef, se encontrou o presidente russo, Vladimir Putin, no Kremlin, aonde discutiram parcerias
Não se visita a Rússia no inverno. Esta regra de ouro é bem conhecida por franceses e alemães, mas a presidente do Brasil, Dilma Rousseff, ignorou as anedotas das históricas guerras e fez uma rápida visita política a Moscou em dezembro, o primeiro mês do rigoroso inverno russo.
Por telefone, um funcionário do Ministério de Relações Exteriores, brincou: “A sua presidente está tendo uma recepção calorosa”. Ironia à russa. Dilma chegou na semana mais fria do mês, com temperaturas rondando os 15 graus negativos e muito vento. E chegou disposta a estreitar os laços com os parceiros russos. A Rússia, tão distante e desconhecida nas nossas referências imediatas, virou geoestrategicamente um importante aliado do Brasil no contexto do novo desenho multipolar mundial.
Os dois países fazem parte dos Brics, são ricos em recursos naturais e possuem um grande mercado interno. São potencialmente menos vulneráveis à atual crise e, segundo Dilma, devem aproveitar estas circunstâncias para aumentar o nível de intercâmbios comerciais.
Foram apenas 58 horas em Moscou, mas o suficiente para perceber que com os russos, o “jogo bonito” nem sempre impressiona. Sempre muito técnicos, os russos pediram mais explicações para que possam suspender o embargo à carne suína de três Estados brasileiros (MT, PR e SC).
Sandro Fernandes/Opera Mundi
Presidente do Brasil, Dilma Roussef, no aeroporto momentos antes de embarcar de volta para o Brasil
Alguns analistas dizem que Dilma saiu da Rússia de mãos vazias. Além de não ter conseguido o fim da suspensão do embargo, o Brasil comprou 14 helicópteros russos, no valor de 200 milhões de dólares, que serão utilizadas pela Petrobrás para transportar funcionários para as plataformas. “Viemos para vender e acabamos comprando”, ouviram-se algumas vezes nos corredores do hotel onde estava hospedada Dilma.
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A própria presidente, em rápida entrevista a jornalistas brasileiros após o encontro bilateral com Vladimir Putin, explicou que “nunca houve esta troca (o Brasil compra os helicópteros e a Rússia suspende o embargo)”. E continuou: “a questão de helicóptero deve ser tratado com assuntos aeronáuticos”. Dilma citou como uma vitória do Brasil a homologação dos aviões da Embraer E-190 e E-195, que a partir de agora podem disputar uma fatia no mercado russo.
Agência Efe (14/12)
A presidente do Brasil, Dilma Roussef, enfrenta o frio russo na visita ao Túmulo do Soldado Desconhecido, próximo ao Kremlin
O processo de certificação destas aeronaves durou quase três anos e colocará a empresa brasileira em igualdade de condições para competir com a empresa russa Sukhoi. O mercado russo precisará de pelo menos 300 novos aviões da categoria dos da Embraer, para renovação da frota de empresas domésticas. “Não podemos misturar carne com avião. Essa é a regra do jogo internacional”, explicou a presidente, diante da insistência de um jornalista. A Embraer já abriu um escritório em Moscou.
Acordos
Sete acordos foram assinados nestes dois dias de visita presidencial e alguns importantes foram estabelecidos. Dilma e Putin constataram o potencial para a intensificação da cooperação entre Brasil e Rússia em temas energéticos, nas áreas de extração de petróleo e gás natural, energia nuclear civil, energias renováveis e eficiência energética, bem como em pesquisa e desenvolvimento de tecnologias para o setor.
Foi estabelecida uma parceria entre empresas dos dois países para a exploração de hidrocarbonetos na Bacia do Solimões. A Rússia é a maior exportadora de gás e de petróleo do mundo. A intenção é que também sejam desenvolvidas iniciativas conjuntas de cooperação técnica em terceiros países na área de energia, especialmente na produção e no uso sustentável de bioenergia.
O uso pacífico da energia nuclear também foi pauta das discussões. A CNEN (Comissão da Energia Nuclear do Brasi) e a ROSATOM (Corporação Estatal para a Energia Atômica da Rússia) reafirmaram o interesse em trabalhar em conjunto em tecnologias de exploração de urânio, tecnologias de reatores de nova geração, produção de radioisótopos para uso na medicina, na indústria e na agricultura e educação e treinamento de pessoal.
O primeiro-ministro russo, Dmitry Medvedev vai ao Brasil em fevereiro e a expectativa é que haja um maior avanço nas relações bilaterais. A Rússia assume a presidência do grupo G-20 em 2013 e Dilma acredita que este fato coloca os países emergentes em evidência no cenário mundial, o que pode ajudar o pleito brasileiro para uma reforma das Nações Unidas mais uma vez em destaque.
Dilma antecipou neste sábado (15/12) a sua volta ao Brasil e dispensou o dia sem compromissos oficiais que teria na capital russa. O motivo teria sido o frio de 17 graus negativos que fez em uma Moscou ensolarada. O ministro da Educação, Aloizio Mercadante, também sofreu com as baixas temperaturas. Mercadante saiu para comprar souvenires da capital russa, mas desistiu antes de ter chegado à esquina do hotel.
Neste domingo (16/12), Dilma participa em Fortaleza da inauguração do estádio Arena Castelão, o primeiro a ficar pronto para a Copa de 2014.
Veja vídeo de Dilma e Putin assinando os acordos: