O sistema de espionagem norte-americano precisa de restrições, declarou nesta segunda-feira (28/10) a Casa Branca em resposta às crescentes revelações de vigilância massiva em países aliados da Europa.
Segundo documentos vazados durante os últimos oito dias, os Estados Unidos interceptaram milhões de ligações e correspondências eletrônicas de autoridades e cidadãos da Alemanha, França e Espanha, incluindo da chanceler alemã Angela Merkel. Desde então, o presidente Barack Obama esteve sob a mira da diplomacia europeia, que enviou uma delegação a Washington para discutir o assunto.
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“Reconhecemos que é necessário haver restrições adicionais sobre como podemos coletar e usar a inteligência”, disse o porta-voz da Casa Branca, Jay Carney.
Durante o briefing diário à imprensa nesta segunda-feira, Carney revelou ainda as conclusões de uma investigação interna sobre a atuação da NSA (Agência de Segurança Nacional na sigla em inglês) que aponta que o serviço estava monitorando as comunicações de cerca de 35 líderes mundiais, incluindo Merkel.
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“Obama tem confiança plena no diretor da NSA, Keith Alexander, e em outros oficiais da agência, mas precisamos equilibrar a necessidade de reunir inteligência e proteger a privacidade das pessoas”, acrescentou.
Mudanças
Carney também informou que uma revisão dos serviços de vigilância norte-americanos já está em andamento e deve ser entregue à Casa Branca no final deste ano. A partir deste documento, a reforma pode se desenrolar.
Agência Efe
O celular de Merkel era um dos alvos de espionagem norte-americana, mostram documentos
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Além disso, o presidente irá receber um dossiê nas próximas duas semanas sobre as consequências do vazamento de documentos secretos sobre a espionagem para as relações exteriores dos EUA. O documento está sendo produzido por um grupo de especialistas criado por Obama.
Foi a primeira vez que os EUA deram uma declaração com teor assertivo sobre o tema da espionagem da NSA, apesar de documentos vazados há semanas indicarem a espionagem sistemática de governos, incluindo o brasileiro.
A declaração veio na esteira do pronunciamento na manhã desta segunda (28/10) do ministro do Interior da Alemanha, Hans-Peter Friedrich, de que o país não aceitará que Washington não sofra consequências pelo escândalo de espionagem. “Espionar é um delito e os responsáveis devem responder por isso”, disse em entrevista à imprensa local.
França e Alemanha anunciaram na noite de quinta-feira (24/10) que vão fechar até o fim de 2013 um acordo de cooperação para frear as práticas de espionagem dos EUA. A medida, dizem as potências europeias, é uma resposta às denúncias de que Washington espionou o telefones de 35 líderes mundiais.
A Casa Branca já havia afirmado que não quer deteriorar suas relações com países aliados. “Essas são relações muito importantes tanto para nossa economia quanto para nossa segurança e vamos trabalhar (diplomaticamente) para mantê-las”, afirmou Carney, na semana passada.
Espionagem indiscriminada
Nos últimos oito dias, uma série de documentos vazados pelo ex-analista da NSA, Edward Snowden, divulgados em jornais e revistas internacionais mostram detalhes do sistema de espionagem norte-americano. Foi revelado que os EUA investigaram autoridades mexicanas, francesas, espanholas e alemãs, além de cidadãos residentes nestes países.
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Os principais alvos do sistema de segurança norte-americano foram telefones, celulares e e-mails de importantes políticos.
Mais de 60 milhões de ligações telefônicas na Espanha entre dezembro de 2012 e janeiro de 2013 foram interceptadas, segundo papéis divulgados nesta segunda (28/10) no jornal espanhol El Mundo. Os EUA também espionaram o celular de Merkel por mais de dez anos. Na França, em apenas 30 dias, a NSA monitorou 70,3 milhões de conversas emitidas no país.
Um dos arquivos secretos acrescenta que, em 2010, os Estados Unidos contavam com cerca de 80 centros de espionagem ao redor do mundo, 19 dos quais em cidades como Madri, Berlim, Paris, Roma, Praga e Genebra.