A saída dos comandantes das Forças Armadas do país – Edson Pujol (Exército), Ilques Barbosa (Marina) e Antônio Carlos Bermudez (Aeronáutica) – anunciada pelo Ministério da Defesa do Brasil nesta terça-feira (30/03) ganhou destaque na imprensa internacional. O jornal britânico The Guardian afirmou que a renúncia do comando é um “terremoto político” no país.
“Na tarde de terça-feira, o Ministério da Defesa confirmou que todos os três seriam substituídos, um terremoto político que sacudiu um país que já lutava com um dos piores surtos de coronavírus do mundo”, disse o diário.
Para o periódico, a saída dos comandantes faz parte de uma “turbulência histórica” no Brasil que acontece ao mesmo tempo em que a “forma” do presidente Jair Bolsonaro em lidar com a pandemia do novo coronavírus “foi condenada internacionalmente”, quando o mandatário “ameaçou declarar estado de sítio”.
“A turbulência histórica, que deixou muitos brasileiros nervosos, veio depois que o presidente de extrema direita do Brasil demitiu o ministro da Defesa, General Fernando Azevedo e Silva, na segunda-feira”, afirmou o Guardian.
O jornal ainda apontou a “admiração” do presidente brasileiro em relação aos “autocratas latino-americanos”, elogiando “publicamente o ex-ditador chileno Augusto Pinochet, bem como os generais que governou o Brasil quando era paraquedista no final dos anos 1970”.
Telesur
A emissora latino-americana Telesur apontou que, segundo meios de comunicação, os funcionários teriam renunciado em “solidariedade” a Fernando Azevedo e Silva, ministro que até esta segunda-feira (29/03) liderava o Ministério da Defesa.
“É a primeira vez desde 1985 que comandantes dos três componentes das Forças Armadas deixam o cargo ao mesmo tempo, sem mudança de governo”, disse.
Para a Telesur, há “poucos meses”, Bolsonaro ainda “contava fortemente com os laços dos militares como apoio ao seu governo”. No entanto, o “presidente viu suas relações com as instituições militares declinarem, depois do que o alto comando descreveu como tentativas de Bolsonaro de aumentar sua influência no quartel”.
Al Jaazera
Já a emissora Al Jaazera disse que a mudança no alto comando militar acontece em meio a uma “pressão crescente” sobre o governo Bolsonaro para “responder ao aumento de casos e mortes por coronavírus”.
Segundo o levantamento da Universidade Johns Hopkins, o Brasil ocupa a segunda colocação mundial de casos da doença com 12.573.615 contabilizados e 313.866 mortes em decorrência da covid-19, ficando atrás somente dos Estados Unidos.
“O presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, está enfrentando uma pressão crescente para responder pela forma como seu governo está lidando com a pandemia do coronavírus, que devastou a nação sul-americana e matou mais de 313.000 pessoas”, afirmou a emissora.
Marcos Corrêa/PR
Edson Pujol, do Exército, Ilques Barbosa, Marina, e Antônio Carlos Bermudez, da Aeronáutica, renunciaram nesta terça-feira (30/03)
A Al Jaazera apontou que, de acordo com especialistas, a atual onda no país está atingindo mais os jovens brasileiros “de maneira especialmente forte” e afirmou ainda que o presidente é um “cético” em relação à covid-19.
Para a emissora, a saída de Fernando Azevedo e Silva “foi uma surpresa” nesta segunda. “Alguns meios de comunicação brasileiros noticiaram que chefes do Exército, da Marinha e da Aeronáutica renunciaram em protesto contra a decisão de Bolsonaro de substituir Azevedo e Silva”, disse.
El País
O jornal espanhol El País também deu destaque para a saída do comando militar afirmando que é a primeira vez, desde a redemocratização no Brasil, “que as lideranças civil e militar das Forças Armadas mudam simultaneamente no Brasil”.
“A liderança militar se preocupa com os gestos autoritários do presidente. O objetivo é pressionar as Forças Armadas a apoiá-lo com medidas excepcionais em sua batalha contra os governadores que estão decretando confinamentos, fechando lojas, escolas e praias para reduzir as infecções por coronavírus”, disse.
Segundo o diário, o mandatário brasileiro demitiu “sem cerimônia” o ministro da Defesa, relembrando que “nenhum presidente incluiu tantos militares em seu governo” quanto Bolsonaro após a ditadura militar brasileira (1964-1985). “Boa parte da carreira [de Bolsonaro] tem se baseado na defesa dos interesses corporativos de policiais militares e militares de escalões inferiores. Os generais sempre o viram com maior desconfiança”, afirmou o El País.
Ansa
A Agência Italiana de Notícias (Ansa) apontou que a renúncia do comando acontece na “esteira” da “pequena reforma ministerial realizada pelo presidente Jair Bolsonaro nesta segunda-feira”. “Analistas apontam que as mudanças são uma forma de Bolsonaro tentar uma ‘aproximação e um controle maior’ das Forças Armadas”, disse a ansa.
Página/12
O jornal argentino Página/12 afirmou que a reforma ministerial e a saída dos comandantes acontecem quando Bolsonaro “se vê encurralado” por conta da gestão da pandemia do novo coronavírus, que “custou a vida de cerca de 314.000 pessoas e infectou 12,5 milhões” de brasileiros.
“A nova equipe de governo é filha do desgaste de uma administração que acaba de completar apenas dois anos e dois meses com a popularidade do presidente em declínio”, disse o periódico.
Segundo o diário, as mudanças podem indicar que o alto comando do Exército brasileiro, ou uma parte dele, “não estaria disposto a participar nas usualmente mencionadas revoltas promovidas por Bolsonaro”.