A tragédia no Japão pode ter impacto nas eleições legislativas da Alemanha, marcadas para continuarem a acontecer neste final de semana. Uma pesquisa realizada pela emissora ARD aponta que, em menos de uma semana, a preferência do eleitorado nacional pelos Verdes aumentou em 5%. As outras legendas, em contrapartida, se mantiveram estáveis ou apresentaram queda.
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Se as eleições gerais fossem realizadas hoje, os Verdes teriam no total 20% dos votos. A CDU (União Democrata Cristã), partido da chanceler Angela Merkel, seria o mais votado, com 36%, seguido pelo SPD (Partido Social Democrata), que teria 28%. O FDP (Partido Liberal), que forma a atual coalizão com a CDU, teria apenas 5% dos votos – o mínimo necessário para que uma legenda possa ter representação no parlamento. Sem alcançar 5%, o partido A Esquerda ficaria de fora.
Sem a possibilidade de se aliar novamente com os liberais, o partido de Merkel seria derrotado e a Alemanha seria governada por uma coalizão entre os SPD e Verdes.
Efe (18/03/2011)
A chanceler, Angela Merkel, e o candidato da CDU,Reiner Haseloff, fazem campanha em Dessau-Rosslau
Mesmo antes do tsunami que devastou o Japão, as atenções já estavam voltadas para o bom desempenho dos Verdes. Pela primeira vez, tem chances reais de eleger um governante estadual. Dentro do cenário político conservador do país, em que há décadas dois partidos – CDU e SPD – se revezam no poder, a ascenção dos Verdes é um marco. Apesar do bom momento da legenda, o panorama político no país aponta para incertezas e mudanças.
“A Alemanha vive um momento de transição política. A ascenção dos Verdes é um indicador da instatisfação do público com as alternativas apresentadas por governo e oposição. Como o partido nunca chegou de fato ao poder, seus líderes nunca decepcionaram os eleitores, o que justifica o bom momento vivido por eles. O crescimento dos Verdes e a queda da CDU são as principais tendências das eleições em 2011”, afirmou ao Opera Mundi Frieder Wolf, do Instituto de Ciências Políticas da Universidade de Heidelberg.
Ao todo, sete, dos 16 estados da Alemanha elegerão novos governadores, neste que é chamado de ”Ano da Super Votação”, em razão da grande quantidade de pleitos. A primeira etapa das eleições – e das transformações – aconteceu em Hamburgo, no dia 20 de fevereiro. Foi o primeiro golpe sofrido pelo partido da chanceler Angela Merkel. A próxima disputa acontece neste domingo (20) no estado da Saxônia Anhalt.
Tsunami alavanca Verdes
Uma das principais demandas dos eleitores alemães, que é também um do principais desafios do governo, é acabar com a energia atômica no pais. Nesse quesito, os Verdes saem na frente, com um longo histórico de ativisto contra o uso de fontes nucleares.
O primeiro grande êxito do partido pode acontecer dentro de uma semana no estado de Baden Württemberg, o terceiro maior do país, e reduto dos conservadores da CDU há 50 anos. Um levantamento da emissora ARD aponta que a CDU tem 39% da preferência dos eleitores. Depois vêm os Verdes (24%), o SPD (22%) e o FDP (5,5%). A Esquerda teve menos de 5%.
No sistema do país, os eleitores votam na legenda e não no candidato. Por esse motivo, mesmo que a CDU lidere, o que vale são as coalizões. Os partidos que, juntos, conseguirem obter a maioria dos votos, saem vitoriosos. Dentro das afinidades, os Verdes se uniriam com os social-democratas e se tornariam o partido mais forte do Estado, podendo nomear um governador – fato inédito na história do partido. Juntas, as duas plataformas teriam 44% da maioria para governar, contra 41% de uma coalizão entre CDU e FDP.
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O segundo grande êxito – e golpe final – dos Verdes pode acontecer na capital, Berlim, onde a legenda também podem ser o segundo partido mais votado e liderar uma coalizão. As eleições na capital estão marcadas para 28 de setembro.
Para o analista político e conselheiro do Partido Verde em Baden Würterberg, Florian Hassler, o momento dos Verdes é bom, mas é preciso cautela. “Os Verdes vivem de fato um momento novo em sua história. No entanto, é preciso que as pesquisas sejam confirmadas. Acredito que o que aconteceu no Japão despertou a atenção dos alemães. O foco do nosso partido, no entanto, não é apenas a questão da energia nuclear. Temos um projeto consistente para uma modernização ecológica da economia alemã”, declarou Hassler ao Opera Mundi.
CDU em crise
Em oposição ao bom momento dos Verdes está a CDU, que tem sido sucessivamente abalada desde a crise do euro no ano passado. O investimento da Alemanha no resgate da Grécia e na criação de um fundo de socorro à região não foi uma medida popular, embora vista como necessária.
Com poucas figuras políticas de expressividade dentro do partido, a única que se destacava era o então ministro da Defesa, e principal candidato à sucessão de Merkel, Karl-Theodor zu Guttenberg – mais conhecido atualmente como ”Copyberg ou Googleberg”, por ter sido acusado de plágio em sua tese de doutorado. Guttenberg renunciou ao cargo há pouco mais de duas semanas.
Em Hamburgo, há um mês, a CDU perdeu as eleições para o SPD. Depois de mais de uma década, o controle da cidade portuária voltou para o SPD. Com uma vitória massiva, os social-democratas obtiveram 49,5% dos votos na cidade onde Merkel nasceu. A CDU recebeu apenas 20,5% da preferência do eleitorado, no que já é considerado o pior desempenho dos conservadores desde o período pós-guerra. Os Verdes tiveram 11,5%, o partido da esquerda 7% e os liberais do FDP, 6,5%.
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Japão e o golpe certeiro
O desastre no Japão, por fim, veio como uma bomba para o governo. Em abril do ano passado, poucos meses após as eleições, Merkel anunciou que seria necessário prolongar o funcionamento das usinas nucleares no país. A medida gerou grandes protestos, já que uma das principais promessas de campanha do governo era acabar com o uso de energia atômica até 2020.
Diante da crise nuclear no complexo de Fukishima, Merkel teve que se manifestar, e na quinta-feira (17/03) oficializou publicamente uma moratória que determina o fechamento de todas as usinas nucleares que começaram a operar antes de 1980 (7, das 17 que existem no país). Durante três meses, as instalações passarão por rigorosas avaliações técnicas.
Dirk Fischer, deputado da CDU na cidade-estado de Hamburgo, admite que a medida foi uma manobra para amenizar as críticas. “Seria uma hipocrisia dizer que não. Tivemos que agir, sim, diante da avalanche de críticas. Sentimos a necessidade de dar uma resposta, principalmente à população alemã, que se sente ameaçada pela energia atômica, por mais que isso vá contra a viabilidade energética atual”, afirmou.
A manobra, no entanto, não convenceu os eleitores. Segundo uma sondagem feita pelo jornal alemão Bild, 80% dos entrevistados disseram não acreditar na súbita mudança do governo em relação à questão nuclear.
Para o empresário Meko Deni, apesar da crise, o êxito político de Merkel não pode ser esquecido. ”Mesmo com essa situação eu vou continuar a apoiar e votar na CDU. É preciso lembrar que o SPD entregou o governo à CDU com uma taxa de desemprego superior a 5%. Com Merkel, apesar da crise, a economia da Alemanha se recuperou e o nível de desemprego está em 3,5%”, declarou.
Se o voto no país fosse direto, dificilmente a CDU seria derrubada, ao menos no curto prazo. Mas, diante das circumstâncias, a situação para o governo tende a piorar.
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