Para evitar novas tragédias no mar Mediterrâneo, como as que aconteceram nos últimos dias e mataram mais de mil pessoas, a União Europeia prometeu, nesta quinta-feira (23/04), triplicar o orçamento da força-tarefa Triton, que atualmente é de 2,9 milhões de euros mensais, implementada no ano passado com o objetivo de coibir viagens de embarcações clandestinas.
A reunião extraordinária realizada pelo Conselho Europeu foi convocada a pedido do primeiro-ministro da Itália, Matteo Renzi, para discutir a crise migratória no sul do continente e decidiu oferecer mais recursos para países como Tunísia, Sudão e Egito para que controlem melhor suas fronteiras e assim evitem que imigrantes cheguem a portos do Mediterrâneo.
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“Foi um encontro significativo, um grande passo à frente para a Europa”, disse Renzi após a reunião. Mais cedo, ele havia afirmado que a UE não pode ser relegada a questões econômicas, ou corre o risco de “perder a alma”.
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Com isso, a iniciativa terá à disposição 120 milhões de euros por ano, quase a mesma quantia que Roma gastava sozinha com a Mare Nostrum, operação civil e militar realizada entre outubro de 2013 e novembro de 2014 para combater a imigração irregular no sul da Europa. A medida havia sido iniciada após um naufrágio matar 368 pessoas no Canal da Sicília.
A chanceler da Alemanha, Angela Merkel, ressaltou que a Triton poderá ter o orçamento aumentado novamente caso seja necessário: “Se for preciso mais dinheiro, colocaremos. Não vamos fracassar por falta de recursos”, garantiu. Ela também ressaltou que se trata de uma medida para salvar vidas
O Conselho Europeu também dará à alta representante do bloco para Política Externa e Segurança, Federica Mogherini, um mandato para iniciar “imediatamente” a preparação de eventuais operações de defesa comum. Com isso, serão conduzidas ações militares cirúrgicas para destruir barcos clandestinos antes que eles sejam usados por contrabandistas que realizam a travessia de pessoas.
Agência Efe
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Em entrevista a Opera Mundi, Stefano Liberti, autor do livro “A sud di Lampedusa: Cinque anni di viaggi sulle rotte dei migranti” (Ao sul da Lampedusa: cinco anos de viagens na rota dos migrantes; 2008; sem edição brasileira) e diretor, junto com Andrea Segre, do documentário “Mare chiuso” (Mar fechado; 2012), avalia que a estratégia europeia de considerar os atravessadores como principais responsáveis pela crise é um erro. Liberti argumenta ainda que o aumento no número de mortes nos naufrágios está relacionado à diminuição dos recursos destinados pela União Europeia ao tema.
Asilo
A comissão também criou um projeto piloto voluntário para “redistribuir” até 10 mil solicitantes de refúgio entre os países da União Europeia, com exceção do Reino Unido. A medida prevê também que solicitantes de asilo por questões econômicas sejam deportados rapidamente.
“É justo que a nossa Marinha salve vidas, mas não daremos asilo. Levaremos as pessoas resgatadas para a Itália ou outros países vizinhos”, explicou o primeiro-ministro britânico, David Cameron, cujo país se comprometeu a enviar um navio de guerra, dois barcos de patrulhas e três helicópteros com a condição de que as pessoas resgatadas não tenham direito de pedir asilo no Reino Unido.
No início de março, a agência da UE para controle de fronteiras (Frontex) já havia alertado que entre 500 mil e 1 milhão de pessoas estão prontas para deixar a nação africana rumo ao continente ao longo de 2015.