Durante audiência no Comitê das Nações Unidas contra a Tortura em Genebra, o Vaticano ressaltou nesta segunda-feira (05/05) que não tem responsabilidade legal sobre membros do clero que cometeram pedofilia e outros abusos contra menores. De acordo com o chefe da delegação do Vaticano, monsenhor Silvano Tomasi, existem importantes divergências entre o que se considera a responsabilidade legal e moral da Igreja.
Efe
Representante do Vaticano, Tomasi disse que desde 2004, mais de 700 sacerdotes foram afastados de suas funções pela Santa Sé
Além disso, Tomasi começou um debate a respeito de quem seria o responsável por perseguir e julgar aqueles que teriam cometido tais crimes e abusos, dando tal função para cada Estado. “A Santa Sé deseja reiterar que as pessoas que vivem em um país estão sob a jurisdição das autoridades desse país e submetidas as suas leis nacionais”, acrescentando que “a Santa Sé é uma entidade separada e distinta do território da Cidade do Vaticano, sobre a qual exerce soberania”.
Tal argumento foi rejeitado pela relatora do comitê, Felice Gaer, que criticou a pretensão do Vaticano de excluir seus funcionários no exterior da responsabilidade na aplicação dos tratados internacionais. “A convenção deve ser aplicada a todos os funcionários de um Estado, inclusive aos que estão no exterior, onde quer que se encontrem”, argumentou.
Segundo Tomasi, desde 2004 mais de 700 sacerdotes foram afastados de suas funções pela Santa Sé por acusações de abusos sexuais. Para o representante do Vaticano, os casos de pedofilia estão em declínio, apesar de reconhecer que a Igreja ainda deve terminar de “fazer sua própria limpeza dentro da casa”.
Entenda o caso
No dia 16 de janeiro, a ONU (Organização das Nações Unidas) cobrou ações efetivas do Vaticano contra casos de pedofilia na Igreja. Na reunião, representantes do clero estiveram frente a membros das Nações Unidas e admitiram que houve registros de abusos “todas as profissões, inclusive entre membros do clero”.
Na ocasião, o próprio monsenhor Tomasi reconheceu que a questão dos abusos contra crianças é particularmente grave e havia dito que “o Vaticano delineou políticas e procedimentos para ajudar a eliminar tais abusos e colaborar com as autoridades locais para lutar contra este delito”.
Efe (05/02/14)
Papa Francisco já assumiu responsabilidade por casos de abusos sexuais nos últimos tempos; em abril, pediu perdão às crianças
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No mesmo dia, o papa Francisco, por sua vez, durante missa matinal, afirmou que a Igreja Católica precisa assumir sua “vergonha” diante dos casos. “Tantos escândalos que eu não quero mencionar isoladamente, mas que todos sabemos quais. Escândalos, nos quais alguns tiveram que pagar caro a vergonha da Igreja!”, exclamou o pontífice.
Efe (11/04/14)
Já em fevereiro, o Comitê da ONU sobre os Direitos das Crianças exigiu que o Vaticano expulsasse “imediatamente” todos os sacerdotes suspeitos de ter abusado sexualmente de menores, além de ter criticado a instituição por nunca ter reconhecido a “amplitude dos crimes” e de ter concedido impunidade aos envolvidos.
[Papa em evento no qual pediu perdão por casos antigos de pedofilia]
Segundo os analistas do comitê, houve “dezenas de milhares de casos” de abusos sexuais contra crianças por parte de membros das igrejas católicas e a Santa Sé muitas vezes rejeitou cooperar com as autoridades judiciais e comissões de investigação.“O Comitê está seriamente preocupado que a Santa Sé ainda não reconheceu a extensão dos crimes cometidos”, assinala o relatório.
Em vez disso, a Igreja optou pela transferência “de uma paróquia a outra, ou para outros países, de abusadores de crianças bem conhecidos, em uma tentativa de encobrir seus crimes”, segundo revelam documentos de comissões nacionais de investigação.
“A mobilidade dos responsáveis permitiu que muitos sacerdotes se mantivessem em contato com crianças e continuassem os abusos. Isso coloca crianças em alto risco de abuso sexual em muitos países”, acrescenta o documento.
Há três semanas, o papa Francisco pediu perdão pelos casos de pedofilia e abusos sexuais cometidos por “muitos” sacerdotes da Igreja Católica. “Quero assumir pessoalmente e pedir perdão pelo mal que bastantes sacerdotes fizeram”, declarou o pontífice, na ocasião. “Temos que ser muito fortes. Com as crianças não se brinca”, acrescentou.