Horas após a divulgação dos resultados das urnas nos EUA, a eleição do empresário republicano Donald Trump gerou incerteza entre os cientistas norte-americanos presentes na COP22 (Conferência do Clima da ONU), em Marrakech, no Marrocos.
“Acho que ninguém da comunidade científica norte-americana está feliz com o resultado destas eleições, mas não temos como prever o que irá acontecer”, afirmou a Opera Mundi nesta quarta-feira (09/11) Dillon Amaya, estudante de PhD e representante da Universidade da Califórnia de San Diego no evento.
Clique e faça agora uma assinatura solidária de Opera Mundi
Para Nathan Hultman, diretor do Centro de Sustentabilidade Global da Universidade de Maryland e representante da instituição na COP22, “há muitas incertezas em relação ao tipo de presidente que Trump escolherá ser”.
“Se ele escolher seguir em uma direção muito negativa, nós certamente sofreremos algumas implicações quanto aos nossos compromissos climáticos de longo prazo”, afirmou Hultman a Opera Mundi.
Rafael Serra/Opera Mundi
Dillon Amaya acredita que “ninguém da comunidade científica norte-americana está feliz com o resultado destas eleições”
NULL
NULL
Já Clayton Scott, representante da Universidade de Washington na COP22, disse estar preocupado com as “futuras políticas de clima e meio ambiente porque Trump já disse duvidar de que as mudanças climáticas tenham sido causadas por seres humanos”.
No entanto, tanto Amaya quanto Hultman disseram achar improvável o risco de “perder tudo que já foi conquistado” com relação aos avanços no combate às mudanças climáticas, dadas as divisões provocadas pelo novo presidente entre seu próprio partido. “Especialmente após a COP21”, visto que os EUA já ratificaram e colocaram em vigor o Acordo de Paris, ressaltaram. No entanto, Trump, durante sua campanha, ameaçou cancelar o documento, caso fosse eleito.
Agência Efe
Trump não tem programa ambiental definido, mas já disse que cancelaria Acordo de Paris e que gostaria de fortalecer indústria do carvão
Eles ponderam ainda que o fato de Trump não ter traçado uma política clara de combate a mudanças climáticas, apesar de ter dito se opor às existentes, abre a possibilidade de diálogo entre a comunidade científica e o novo governo.
“A nova administração é bastante incerta, eles não deixaram claras suas intenções sobre a questão do clima, então temos que nos relacionar com o novo governo e até mesmo educá-los mostrando as oportunidades no campo das energias limpas”, disse Hultman.
“Esta é uma oportunidade de tentarmos alcançar a nova administração republicana [Presidência e Congresso] e talvez focar no meio ambiente a partir da perspectiva econômica, já que essa é uma preocupação para os republicanos”, afirmou Scott.
Rafael Serra/Opera Mundi
Clayton Scott, da Universidade de Washington, espera que haja a oportunidade de dialogar com o novo governo
“Espero que a comunidade científica internacional entenda que os cientistas norte-americanos estão fortemente comprometidos com o combate às mudanças climáticas e que a eleição de Trump não muda este sentimento”, disse Amaya.
Eleição nos EUA
O empresário republicano Donald Trump se elegeu presidente dos EUA nesta quarta após uma disputa acirrada com a democrata e ex-secretária de Estado Hillary Clinton. Ele obteve 290 dos 270 votos eleitorais de que precisava, enquanto Hillary obteve apenas 218.
Com o resultado, os republicanos voltam à Casa Branca após oito anos, quando o então presidente George W. Bush (2001-2009) passou o cargo ao democrata Barack Obama.
Entre as promessas feitas por Trump durante sua campanha para quando chegasse à Casa Branca estão o fortalecimento da indústria do carvão e a ameaça de “cancelamento” dos compromissos climáticos assinados por Obama, entre eles o Acordo de Paris, considerado uma revolução na meta de redução do aquecimento global.