O Chile decretou dois dias de luto nacional a partir de segunda-feira (05/02) em memória das 122 vítimas dos devastadores incêndios nas regiões turísticas do centro e sul do país, que também deixaram milhares de pessoas desabrigadas. Para especialista, os incêndios são consequência do El Niño e das mudanças climáticas.
O país, em pleno verão, enfrenta desde sexta-feira (02/02) os maiores incêndios florestais de sua história recente. Segundo o último relatório das autoridades divulgado nesta segunda-feira, pelo menos 122 pessoas morreram, todas na região turística de Valparaíso (centro).
O presidente Gabriel Boric descreveu as queimadas como “a maior tragédia” que o país viveu desde o terremoto de 2010, seguido de um tsunami, que deixou mais de 500 mortos, e disse que “o Chile todo chora por Valparaíso” ao decretar dois dias de luto nacional.
O número de vítimas dos incêndios pode aumentar ainda mais. No domingo (04/02), quando as autoridades relataram 112 mortes, o presidente Boric afirmou durante uma viagem a Quilpué, nos arredores do balneário de Viña del Mar que “este número vai aumentar, sabemos que vai aumentar significativamente”.
Nessa cidade localizada a 120 km ao norte da capital Santiago, morros inteiros, alguns densamente povoados por famílias de classe média, outros por famílias mais precárias, foram completamente devastados.
A prefeita de Viña del Mar, Macarena Ripamonti, anunciou no domingo que cerca de 190 pessoas estavam desaparecidas no município.
Falta de serviços básicos
Sem eletricidade e com pouca água, os residentes das zonas afetadas sofrem agora com a falta de serviços básicos no meio de ruas cobertas de escombros, carros carbonizados e cinzas frias.
“As partes mais importantes da minha casa foram salvas, mas agora não temos luz, não podemos mais fazer nada, nem recarregar os celulares. O trânsito está complicado com carros queimados, tudo está devastado”, conta à AFP Patricia Guzman, 63 anos, moradora de uma área de Quilpué, onde as casas não foram totalmente destruídas.
O trânsito nas estradas das zonas atingidas dessa região, popular por suas praias e pela produção de vinho, é difícil. Bombeiros e equipes de resgate procuram vítimas.
Em Quilpué, bairros inteiros e carros foram carbonizados e milhares de moradores ficaram retidos por várias horas na sexta-feira enquanto tentavam fugir de carro.
Armada de Chile/Twitter
País, em pleno verão, enfrenta desde sexta-feira (02/02) os maiores incêndios florestais de sua história recente
As equipes ainda trabalham para apagar cerca de 40 incêndios no país, alguns dos quais levaram a evacuações preventivas no domingo em Til Til, 60 km ao norte de Santiago, e em Galvarino, 400 km ao sul da capital, perto de uma grande região, que já havia sido atingida por grandes incêndios em fevereiro do ano passado.
Apoiados por cerca de trinta helicópteros e aviões de combate ao fogo, cerca de 1.400 bombeiros, 1.300 soldados e voluntários combatem as chamas.
O papa Francisco fez um apelo, no domingo, por orações pelas vítimas dos incêndios no Chile, enquanto a União Europeia e a França expressaram solidariedade e disponibilidade para prestar ajuda diante da devastação causada pelos incêndios.
Influência do regime climático
Desde quarta-feira (31/01), a temperatura está próxima dos 40 graus no centro do Chile e na capital Santiago.
“Isso é uma consequência das perturbações climáticas. No caso do Chile é uma combinação do evento El Niño muito forte e do regime climático”, afirma o geógrafo, diretor de pesquisa do Instituto de Pesquisa para o Desenvolvimento (IRD), Sylvain Souchaud, em entrevista à RFI.
“A reversibilidade do processo é uma questão complicada, mas pelo menos podemos diminuir a progressão e adaptar as condições de moradia”, avalia.
“A diminuição do processo seria diminuir as emissões de gases do efeito estufa, isso é evidente, e também cuidar mais dos recursos hídricos, dos recursos florestais e ter áreas de proteção mais delimitadas e melhorar também os sistemas de alerta de intervenção dos serviços que tentam controlar estes desastres”, explica.