No dia 17 de março de 1969, uma mulher assumiu pela primeira vez a chefia do governo israelense. O caráter resoluto de Golda Meir rendeu-lhe uma frase famosa de Ben Gurion, de quem havia sido ministra: “ela é o único homem nesse gabinete cheio de homens”.
Golda Meir (Meyerson), nascida Golda Mabovitch em Kiev, em 3 de maio de 1898, foi política, diplomata, a quarta primeira-ministra de Israel e a terceira mulher no mundo a assumir tão alto cargo. Sua política intransigente e seu estilo de liderança lhe valeram o epíteto de “Dama de Ferro”.
Antes de ser chefe de governo, foi embaixadora de Israel na União Soviética, ministra do Trabalho e ministra de Relações Exteriores.
Em fevereiro de 1969, aos 70 anos, já pensava em encerrar a carreira política, quando subitamente faleceu o então primeiro-ministro Levi Eshkol, sucessor de Ben Gurion. Golda Meir era a terceira opção do bloco trabalhista, já que os dois primeiros candidatos não obtiveram clara maioria no Parlamento de Israel, chamado de Knesset. Meir recebeu apenas 12 votos contrários.
A larga coalizão de governo foi mantida. Apesar de nas eleições, alguns meses mais tarde, seu partido perder a maioria absoluta no Parlamento (56 de 120 mandatos), Meir continuou no poder.
Carreira política
Golda Meir era fumante inveterada e tinha sotaque norte-americano. Aos oito anos, migrou com os pais para os Estados Unidos. Estudou magistério e participou do movimento sionista. Em 1921, migrou com o marido, Morris Meyerson, para a região da Palestina, então território britânico. Dois anos depois, mudaram-se para Tel Aviv, onde nasceram seus dois filhos.
Neste tempo, Golda iniciou a carreira política. Engajou-se no movimento sindical “Histadrut” e, como líder política, negociou ativamente com os britânicos a permissão para mais judeus ocuparem a Palestina. A Grã-Bretanha estava diminuindo a cota de migrantes judeus, temendo reações dos árabes.
“Golda”, como a princípio era conhecida em todo Israel, fez contatos com os vizinhos árabes para evitar a guerra iminente. Vestida de árabe, negociou com o rei Abdallah da Transjordânia para impedir um ataque a Israel, que estava se constituindo como Estado. Ela fracassou, mas sua determinação impressionou o mundo árabe.
Em maio de 1948, Golda participou da assinatura da proclamação de Israel e, logo na primeira equipe de governo, foi embaixadora israelense em Moscou. Paralelamente, ocupou uma cadeira no Knesset até 1974.
Em março de 1949, assumiu o Ministério do Trabalho e Segurança Social, e, de 1956 a 1966, foi ministra do Exterior. Logo no começo, teve que defender diante das Nações Unidas a ofensiva israelense contra o Egito. Outra tarefa árdua foram as negociações pela retirada israelense da Faixa de Gaza e da península do Sinai.
Em dezembro de 1965, aos 68 anos, Golda Meir renunciou ao ministério por razões de saúde, mas dois meses depois foi eleita secretária-geral do Partido Mapai, conseguindo unificar três partidos de centro-esquerda e formar o Partido Trabalhista.
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Sionista e diplomata, Meir foi tida como ‘único homem num gabinete cheio de homens’
Três anos mais tarde, assumiu o cargo de primeira-ministra. Seu governo foi marcado pela Guerra dos Seis Dias, em 1967, entre Israel e a frente árabe, liderada pelo Egito, Jordânia e Síria. Neste período, Israel ocupou o setor oriental de Jerusalém, a Cisjordânia e as colinas de Golã, na Síria.
Em agosto e setembro de 1972, em Munique, os Jogos Olímpicos foram celebrados, onde ocorreram os tristemente recordados episódios conhecidos como o “Massacre de Munique”. Oito membros da organização palestina Setembro Negro irromperam na Vila Olímpica, tomando como reféns 11 atletas olímpicos israelenses, dois deles assassinados no ato.
Eles exigiam a libertação dos fundadores da organização alemã Fração do Exército Vermelho Baader-Meinhof, Andreas Baader e Ulrike Meinhof , que se encontravam em cárceres alemães, e de palestinos.
Com o espírito de não negociar com opositores socialistas, Meir negou o pedido e disse: “Se negociarmos, nenhum cidadão israelense estará seguro em nenhuma parte do mundo em toda a sua vida”. O governo de Tel Aviv mobilizou uma unidade ofensiva, porém o governo alemão não permitiu que ingressasse em seu território.
Indignada pela aparente falta de ação mundial, Golda Meir ordenou aos serviços de inteligência israelenses que iniciassem a busca de todos os cabeças e envolvidos do Setembro Negro e da Frente Popular para a Libertação da Palestina, que participaram do Massacre de Munique. Uma operação que passou a ser conhecida como “Cólera de Deus”, culminou com a perseguição e eliminação de palestinos que participaram do assassinato dos atletas.
Em vez da paz, tornou-se mais acirrado o enfrentamento com a Organização para a Libertação da Palestina. A situação foi agravada em outubro de 1973, com a Guerra do Yom Kipur. A Síria e o Egito atacaram as posições sionistas israelenses para recuperar os territórios perdidos na Guerra dos Seis Dias. O fracasso da estratégia israelense no começo desta segunda guerra e o aumento do isolamento internacional de Israel se refletiram na política interna.
As críticas crescentes ao governo e a grande perda de eleitores na votação em dezembro de 1973 levaram Golda Meir a decidir-se pela renúncia em abril de 1974. Ela faleceu de câncer no dia 8 de dezembro de 1978, em Jerusalém, aos 80 anos de idade.