No dia 24 de abril de 1916, uma segunda-feira após a Semana Santa, um grupo de irlandeses se revolta e inicia um levante contra o Reino Unido. Irlandeses e britânicos leais à coroa veem essa tentativa como uma punhalada pelas costas contra os soldados que combatem nas trincheiras da Primeira Guerra Mundial.
Em agosto de 1914 eclodia a Grande Guerra. O primeiro-ministro britânico Lord Asquith convence os irlandeses nacionalistas a abrandar suas críticas até o fim do conflito.
Era preciso, por outro lado, avalizar o texto de Autonomia da Ilha pelo rei George V com a promessa de uma emenda sobre o Ulster, alcunha atribuída à Irlanda do Norte. Desde o começo do conflito europeu, os irlandeses se alistaram voluntariamente no exército britânico para combater o inimigo comum, a Alemanha.
Entretanto, setores do movimento político nacionalista Sinn Fein (Nós Mesmos, em gaélico) e o IRB (Irmandade Republicana Irlandesa, na sigla em inglês) preferiam aplicar o adágio England's difficulty is Ireland's opportunity (A dificuldade da Inglaterra é a oportunidade da Irlanda).
Um deles, o diplomata Roger Casement, viaja à Alemanha para pedir armas para uma insurreição prevista para o domingo de Páscoa, 23 de abril. Os insurgentes do Sinn Fein e do IRB dispõem de mil voluntários irlandeses e de uma centena de milicianos do Exército Cidadão de James Connolly.
Esses homens viriam a formar o IRA (Exército Republicano Irlandês). Entre eles, Sean Mac Bride, que se tornaria primeiro-ministro da República da Irlanda antes de fundar a Anistia Internacional e receber, por isto, o Prêmio Nobel da Paz.
Dois dias antes da Páscoa, a traineira holandesa que deveria entregar a munição é inspecionada e, antes que fosse capturada, naufragou propositadamente. Casement, capturado pelos ingleses, seria enforcado por alta traição. Informado dos contratempos, Thomas Clark, presidente do governo provisório irlandês, mantém, em princípio, a insurreição, mas a posterga para o dia seguinte, dia de São Jorge, patrono da Inglaterra.
À hora marcada, os revoltosos ocupam diversos edifícios estratégicos no centro de Dublin, dentre eles os Correios, a Prefeitura, o Palácio da Justiça e as estações de trem. Esperavam que os curiosos aderissem à insurreição. Contudo, são vaiados pela multidão que começa a se aglomerar diante dos edifícios. Diante da situação, evitam ocupar o Castelo, residência do vice-rei e sede do governo geral.
O exército britânico traz artilharia pesada e bombardeia conscientemente o centro de Dublin. Após cinco dias de resistência, os insurgentes capitulam. O resultado seria a morte de 60 revoltosos, cem oficiais e mais de duzentos civis. Foram, ao total, cerca de três mil prisões.
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Conflito deixou 160 mortos e mais de três mil presos
Um conselho de guerra condena à morte todos os chefes. Connolly, ferido, teve de ser atado a uma cadeira para ser fuzilado. Eamon de Valera, que escapou da execução devido a sua cidadania norte-americana, viria a ser o primeiro presidente da República da Irlanda.
Contra toda expectativa, a ferocidade da repressão iria fazer a opinião pública se dirigir em favor dos revoltosos e transformar os condenados em mártires da causa irlandesa.
David Lloyd George, primeiro-ministro britânico, liberta em dezembro de 1916 diversos chefes da insurreição, como Valera, Griffith e Collins. No mês seguinte, as eleições testemunham na Irlanda uma corrente de simpatia inesperada em favor do Sinn Fein, organização há muito tempo marginal.
Com a volta da paz na Europa, as eleições gerais constituem um triunfo para o Sinn Fein que totaliza 73 deputados de um total de 105. Pregando a independência, recusam-se a ocupar seus lugares no Parlamento de Londres.
Em 21 de janeiro de 1919, em Dublin, constituem um parlamento nacional, o Dail Eireann. Lançam em vão um Apelo às Nações em prol da independência da ilha.