Em 2 de janeiro de 1905, num momento decisivo da Guerra Russo-Japonesa, o Japão consegue capturar Port Arthur, uma grande base naval russa na península de Liaodong, China.
Quando o czar Nicolau II da Rússia recusou-se a retirar suas tropas da Manchúria após juntar-se às forças britânicas, francesas, japonesas, alemãs e norte-americanas para esmagar a Revolta dos Boxers na China em 1900, o Japão teve dúvidas quanto às ambições territoriais russas com relação ao Extremo Oriente.
Port Arthur (chamada de Lushun pelos chineses) havia sido um importante porto da região desde o século VI. Ocupado em 1858 pela Inglaterra, foi mais tarde usado pelos chineses como base naval para guarnecer a entrada para Bao Hai – ou o golfo de Chihli -, nos anos 1880. Em 1895, o Japão atacou-o e o manteve ocupado por breve período. Mas, no começo de 1898, o porto foi arrendado aos russos, que fortificaram amplamente a base naval, renomeando a cidade como Port Arthur.
A Rússia entrou na guerra com uma avaliação completamente equivocada da situação. Um ano antes da derrota devastadora em março de 1905, um alto diplomata russo dissera ao general Kuropatkin: “Aleksei Nikolaievitch, você conhece a situação interna da Rússia. Para deter a revolução dos de baixo, precisamos de uma pequena guerra vitoriosa”. Uma vitória militar deveria despertar o sentimento nacionalista e desviar a atenção das crescentes tensões no império czarista. Acreditava-se que o Japão não teria condições de resistir às tropas russas.
“Os barris de vodca eram sangrados a baionetas, abertos a faca e machado. Um bando de homens desvairados lutava para abri-los e bebiam o líquido precioso em xícaras, jarras e velhas latas de sardinha.” Com estas palavras, um repórter descreveu a situação na cidade de Mukden, poucos dias antes de ser tomada pelas tropas japonesas. A capital da Manchúria foi palco da principal batalha da guerra russo-japonesa (1904-1905). Segundo um correspondente da revista norte-americana Time, durante as várias semanas de batalhas, o comando militar russo foi se tornando cada vez mais incompetente.
À luz da derrota em Port Arthur em janeiro de 1905, assim como da implacável e violenta rebelião com que se defrontava em seu próprio país, o czar Nicolau II aceitou a oferta do presidente dos Estados Unidos, Theodore Roosevelt de ser o mediador de uma paz entre Rússia e Japão. De acordo com os termos do Tratado de Portsmouth – de agosto de 1905 – o controle de Port Arthur e região em volta seria transferida ao Japão, que a rebatizou como Ryojun. Esta cidade viria a sewrvir como uma importante base naval e a sede do governo no território assim como o principal porto a controlar a Manchúria até o fim da Segunda Guerra Mundial, quando o controle sobre a área passou às mãos conjuntas da União Soviética e da China. A plena soberania da China sobre Lushun só foi implementada em 1955.
Setenta mil japoneses e 20 mil russos morreram ou saíram feridos dos combates, vítimas de uma guerra colonial supérflua entre a potência russa e o emergente Japão. Ambos ambicionavam os territórios da Manchúria e da Coreia.
O surpreendente triunfo do Japão sobre a Rússia alterou o tradicional equilíbrio da balança de poder na Europa, expondo a Rússia a uma crescente vulnarabilidade e pressagiando ainda maiores agitações.
Para a Rússia, o conflito não passou de uma dispendiosa aventura colonialista, com considerável perda de prestígio nas relações internacionais. No campo da política interna, as conseqüências foram fatais: a guerra, que visara a acalmar as tensões sociais, desembocou na Revolução Russa de 1905, ensaio geral, segundo Lenin, para o triunfo da Revolução Bolchevique em 1917.
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