Uma semana depois da reeleição do presidente Hugo Chávez, a oposição venezuelana dá sinais de desacordo sobre qual caminho tomar de agora em diante. Após criarem uma aliança inédita no país, a MUD (Mesa de Unidade Democrática), partidos de diferentes vertentes oposicionistas – até mesmo políticos dentro de uma mesma agremiação – aponta para uma desintegração.
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O candidato derrotado Henrique Capriles tenta capitanear os partidos que lhe apoiaram e os mais de seis milhões de votos conquistados no último 7 de outubro, mas a decisão de concorrer novamente ao governo do Estado de Miranda tem gerado debate dentro da MUD. “O que está em jogo é se a candidatura em Miranda irá lhe permitir se firmar como uma liderança nacional”, explica ao Opera Mundi Germán Campos, presidente do Instituto de Pesquisas Consultores 30.11. “Eu não imagino Chávez como candidato a governador de Barina (estado onde nasceu). Eu imagino Chávez viajando todo o país apoiando seus candidatos”, completou.
Houve falta de acordo também na aceitação do resultado de domingo passado. Se por um lado o discurso de derrota de Capriles indicou uma suavização da oposição, outros setores mais radicais insistiram em cantar fraude, mesmo o processo eleitoral venezuelano tendo sido reconhecido por diversos organismos internacionais como um dos mais seguros e democráticos do mundo.
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A deputada independente Maria Corina Machado, candidata nas prévias da MUD, disse ter certeza que os resultados não refletiram “a vontade do povo” da Venezuela e que “se as eleições tivessem sido limpas e livres, o resultado teria sido diferente”. Por sua vez, o partido de Capriles, Primeiro Justiça – antigo partido de Machado –, reconheceu a vitória de Chávez e pregou que a militância não se sinta derrotada.
Por sua vez, Henry Ramos Allup, secretário geral da AD (Ação Democrática) – que também apoiou Capriles – rebateu a deputada. “Não podemos continuar afirmando que quando ganhamos os resultados são limpos e quando perdemos houve fraude”, disse. Allup colocou mais polêmica no ar dizendo que partidos como Primeiro Justiça, o UNT (Um Novo Tempo) e o Vontade Popular gastaram “muitíssimo dinheiro com publicidade e não tiveram os melhores resultados”. Capriles, o governador de Zulia Pablo Peréz e o coordenador da campanha oposicionista Leopoldo Lopez, respectivamente, são filiados a essas legendas. “O partido de Lopéz foi o que menos teve votos e o que gastou mais dinheiro”, atacou Allup.
A MUD foi a primeira força mais votada entre os partidos que apoiaram a candidatura de Capriles. Embora todos integrem a Mesa, a AD, o Copei e outros partidos utilizaram na tela de votação o nome da MUD, enquanto Primeiro Justiça, UNT, Vontade Popular e outros preferiram apresentar sua legenda na tarjeta de votação.
O aceno à conciliação e união nacional partiu de Chávez, ainda antes da eleição. Depois, em seu discurso no Palácio de Miraflores, o presidente reeleito fez um chamado ao diálogo. No dia seguinte, ao tomar a iniciativa de telefonar para Capriles, Chávez propôs que os dois trabalhassem para “isolar setores radicais” do país.