Atualizada às 11h50.
O ministro da Comunicação da Venezuela, Ernesto Villegas, afirmou neste domingo (28/04) que as transmissões realizadas pelo governo por meio de redes nacionais de rádio e televisão cobrem um “vazio informativo” da imprensa privada no país. Nos últimos dias, um vídeo difundido por esta via mostrava depoimentos da população e imagens dos fatos violentos ocorridos no dia seguinte à eleição presidencial, que, segundo ele, foram ocultados pela mídia venezuelana.
Na ocasião, pelo menos nove pessoas identificadas com o chavismo morreram. Centros de saúde onde médicos cubanos trabalhavam e casas do governista PSUV (Partido Socialista Unido da Venezuela) foram atacados por manifestantes radicais. “Estou cobrindo um vazio informativo ao redor de uns fatos incontestáveis, que lamentavelmente foram invisibilizados como foi com esta onda de ações”, afirmou Villegas, em uma entrevista ao canal Televen.
Agência Efe
Capriles é considerado pelo governo venezuelano como responsável por protestos violentos após a eleição presidencial
Segundo o ministro, a omissão dos fatos pelos meios de comunicação privados mais importantes do país fez com que o Estado tivesse que “preencher este vazio que havia”. No dia em que a maioria dos incidentes foram registrados, o opositor Henrique Capriles, que disputou a eleição presidencial, mas não reconheceu sua derrota e exigiu uma revisão completa do pleito, havia convocado seus apoiadores a promoverem um panelaço contra a proclamação de Nicolás Maduro como presidente venezuelano.
Durante os confrontos do dia 15 de abril, uma das principais emissoras de TV do país, Globovisión, que sustenta uma linha opositora ao governo, não transmitiu imagens dos protestos. Os canais governistas Telesur e VTV (Venezuelana de Televisión) tiveram dificuldades na cobertura, pois suas sedes foram cercadas por manifestantes. Nos dias seguintes aos eventos violentos, a Globovisión transmitiu repetidamente o trecho de uma coletiva de imprensa no qual Capriles pedia a seus votantes que realizassem um protesto pacífico.
Para dar a conhecer as ações violentas registradas no país, o ministério venezuelano da Comunicação transmitiu um vídeo, no dia 23 de abril, por rede nacional de rádio e televisão, com trechos do discurso de Capriles convocando ao panelaço, intercalados com imagens dos focos de incêndio, barricadas e protestos, além de depoimentos de parentes de algumas das vítimas, de venezuelanos que presenciaram agressões e da representante da Ouvidoria do Povo relatando um informe dos danos materiais provocados.
Em coletiva de imprensa no dia seguinte à transmissão, Capriles criticou o vídeo, afirmando que suas declarações foram editadas para atribuir-lhe a culpa dos acontecimentos e qualificou Villegas como um “mitômano”. “São pessoas que têm uma patologia e mentem o tempo todo. Essa rede é uma infâmia, o que pretende é continuar semeando o conflito entre os venezuelanos”, expressou o opositor.
A emissora Globovisión também protestou contra a transmissão, por meio de um comunicado no qual acusa os responsáveis pelo vídeo de “manipulação” que “incita o ódio contra um setor da população e promove – ainda mais – a intolerância por razões políticas”. “A Globovisión repudia que o governo nacional faça uso de uma atribuição legal para apresentar em um horario destinado a crianças e adolescentes elementos de violencia que os meios privados nos abstemos de transmitir, para não violar a lei”, manifesta o texto.
Veículos impressos
De acordo com um estudo realizado pelo Centro de Investigações Políticas e Estratégicas Aluvión entre sábado (20/04) e a última sexta-feira (26/04), a imprensa escrita dedicou igual espaço aos atos de violência e ao questionamento da veracidade dos mesmos. Durante o período analisado, os jornais El Nacional, El Universal, Nuevo País, 2001 e Tal Cual dedicaram 33% de sua superfície em papel para relatar os ataques a CDIs (centros de saúde), e quase a mesma proporção, 30%, a uma organização não governamental que os desmente.
Estes veículos de comunicação publicaram somente uma média de 6,5 textos nos quais reportam os ataques a postos médicos, fatos corroborados pelo próprio Ministério Público do país. Pararelamente, 11 artigos nestes jornais deram voz à organização que desmente os incidentes, e 9,5 reportam outros acontecimentos.
De acordo com o instituto, entre as expressões utilizadas na cobertura jornalística impressa estão: “Denunciam que (…) Exército arremete contra manifestantes da oposição”, “presos por protestos são torturados”, “Fórum penal denuncia que se cometeram abusos ao controlar protestos”, “oposição desmente destruição de CDI em Barinas” e “Atacam por desmentir o governo”.
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Para o ministro da Comunicação, a sequência de fatos violentos não foi informada aos leitores. “Na quarta-feira 17 de abril de 2013, entre as capas dos jornais, as únicas que abriam com a informação dos sete mortos [registrados] até aquele momento eram as dos jornais Correo del Orinoco, Ciudad Caracas e Panorama”, afirmou, aludindo a três veículos, dos quais os dois primeiros são públicos.
“Se isso tivesse sido ao contrário, se [os confrontos] tivessem sido consequência de um chamado a um desconhecimento dos resultados eleitorais por parte de Maduro, isso teria sido notícia de abertura”, disse Villegas, intitulando hipoteticamente “O Massacre dos chavistas e de Maduro”. Segundo ele, como a convocatória ao protesto foi realizada por Capriles, que denominou de “filho mimado dos poderes econômicos deste país”, os veículos optam pela “invisibilidade”.
De acordo com a análise do instituto Aluvión, a emergência de reportagens que tentam desmentir os ataques aos centros de saúde, com base em desestimações opositoras e da organização, tem o objetivo de argumentar que o governo venezuelano tenta desviar a atenção sobre as acusações de Capriles, sobre uma suposta “fraude” eleitoral, por meio de atos violentos.
“Esta matriz de opinião surge à raíz dos diferentes chamados que o líder opositor fez em defesa do voto e da democracia, criando um ambiente de violência generalizada por parte de seus seguidores, que os meios [de comunicação] tentam ocultar solapando e apontando o CNE [Conselho Nacional Eleitoral] como o gerador destas ações, enquanto a oposição se apoia na teoria de fraude eleitoral”, explica o estudo.