Agência Efe
Os Estados Unidos pretendem permanecer com tropas no Afeganistão em nove bases militares após a retirada principal de soldados, prevista para ocorrer em 2014. A revelação foi feita nesta quinta-feira (09/05) pelo próprio presidente afegão, Hamid Karzai (foto), aliado dos norte-americanos. A quantidade de tropas remanescentes no país asiático, portanto, será muito maior do que o esperado. As informações são do jornal britânico The Guardian.
Karzai sempre criticou abertamente a presença de tropas estrangeiras no país, ocorrida a partir de 2001, após a entrada de uma coalizão internacional liderada pelos EUA para caçar membros da rede terrorista Al Qaeda e desbaratinar o governo controlado pelos talibãs. No entanto, ao anunciar essa mudança de planos norte-americana, adotou um discurso conciliador, ao dizer que a manutenção de mais tropas dos EUA era para defender interesses “afegãos”, “desde que eles apoiem o nosso governo e a economia”.
“Nós podemos concordar em autorizar as bases. Essa permanência após 2014 será pelo bem do Afeganistão”, disse o chefe de Estado em um discurso na Universidade de Cabul, capital do país. “A condição para isso é que eles tragam a paz e realizem suas ações rapidamente … sob o princípio de fortalecer o Afeganistão, ajudando a economia do Afeganistão”.
Os dois países estão delineando, com dificuldades, um acordo bilateral de segurança, e a declaração de Karzai foi o primeiro indício do conteúdo das negociações. “Estamos tentando assegurar que o interesse de ambos os países seja alcançado com esse acordo”, disse o presidente para a plateia de estudantes e convidados, que se reuniu para celebrar o aniversário de 80 anos da instituição educacional. “Queremos estradas, eletricidade, usinas hidrelétricas e o fortalecimento do governo afegão”.
Caso sejam confirmadas, elas podem ter revelado planos confidenciais até então não vazados nos Estados Unidos.
A última declaração do presidente Barack Obama sobre o tema deixava claro que os Estados Unidos não mais combateriam tropas talibãs após o fim do prazo estipulado pela missão no país (oficialmente encabeçada pela OTAN – Organização do Tratado do Atlântico Norte), que expira no ano que vem. Os soldados remanescentes se concentrariam no treinamento de soldados locais e em ataques somente contra alvos relacionados à Al Qaeda, majoritariamente em zonas de fronteira próximas ao vizinho Paquistão.
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A embaixada norte-americana em Cabul não quis confirmar a informação dada por Karzai, mas tentou deixar claro que o país não tem intenção de ficar permanentemente no país asiático. “O presidente Obama deixou claro de que não pretendemos fixar bases permanentes no Afeganistão (…) Podemos antecipar que o tratado cuidará do acesso e do uso de instalações militares afegãs para tropas norte-americanas no futuro”.
As possibilidades para a mudança de estratégia se concentram na relativa debilidade do exército afegão, que tem dificuldades em dominar alguns procedimentos de combate.
Segundo Karzai os locais onde os EUA pretendem permanecer incluem a capital, Cabul, Bagram, principal centro de operações na região leste, Shindand, no oeste, onde a OTAN treina a força aérea afegã e as províncias de Kandahar e Helmand, hostis às forças estrangeiras. Outras cidades serão: Mazar i Sharif (norte), Herat (oeste), próxima à fronteira do Irã, e, no leste, Gardez e Jalalabad, base de drones próxima ao Paquistão.
Há dez dias, Karzai se envolveu em um escândalo revelado pelo jornal The New York Times, afirmando que a CIA (central de inteligência norte-americana) enviou, por cerca de dez anos, milhões de dólares destinados a um Conselho Federal ligado à Presidência do país – sempre sob o comando de Karzai. O governo confirmou a informação, apenas ressaltando que os valores eram muito mais baixos, e afirmou não se tratar de nenhuma irregularidade.