Os dois principais candidatos à presidência na Indonésia se autoproclamaram nesta quarta-feira (09/07) vencedores do pleito. Muito embora as estimativas, após 90% das urnas terem sido apuradas, apontem para a vitória do governador de Jacarta, Joko “Jokowi” Widodo, seu rival, o controverso ex-general do Exército Prabowo Subianto, também declarou-se vencedor da corrida presidencial.
Agência Efe
Em discurso em Jacarta, Widodo se adianta ao resultado oficial e celebra sua vitória nas urnas; rival também se declarou vencedor
Pelo o que vimos até agora, as contagens nos dão como ganhadores; foram eleições justas e sem interferências por nossa parte”, declarou Widodo em entrevista coletiva após agradecer o apoio do povo, voluntários e os partidos em sua coalizão. Prabowo, por outro lado, evitou reconhecer a derrota e, apesar de não cantar vitória, assegurou que os dados de Widodo não coincidem com os quais dispõe sua equipe, que o dariam como ganhador.
As apurações prévias são feitas por agências privadas, responsáveis por compilar os resultados que vão sendo registrados em cada um dos distritos eleitorais. No entanto, os resultados oficiais só devem ser validados perto do dia 21 de julho — e o novo chefe de Estado só tomará posse em outubro.
Democracia versus autoritarismo
Os cerca de 186 milhões de indonésios que representam a maior democracia do sudeste asiático foram às urnas hoje para escolher o substituto do presidente Susilo Bambang Yudhoyono. Para analistas, o país decidirá entre a realização de reformas democráticas e retrocesso para o autoritarismo.
No começo do ano, Jokowi tinha vantagem nas intenções de voto de 30%, mas Prawobo reduziu esta margem. De acordo com as pesquisas, a diferença agora varia entre 3% e 6%. A aproximação se deve, de acordo com a agência Efe, à máquina eleitoral de Prawobo, que conseguiu unir partidos nacionalistas e islâmicos.
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O presidente Susilo Bambang Yudhoyono, o primeiro e único chefe de Estado eleito de forma direta, encerra seu mandato com um crescimento econômico em torno de 6% nos últimos anos, e com o apaziguamento das disputas étnicas e territoriais. O mandatário, no entanto, não teve uma posição contundente contra a corrupção e as desigualdades sociais em um país em que a renda média da população é de US$ 4 mil por habitante e que tem o 16º PIB do mundo.
Agência Efe
Apoiadores de Joko Widodo durante último comício antes da votação na quarta-feira
Mais da metade dos indonésios vive com menos de US$ 2 por dia. O país enfrenta problemas como falta de saneamento básico, educação e saúde. Para o analista político independente Paul Rowland, estas eleições deverão indicar se a Indonésia “avança ou retrocede”, como afirmou em entrevista à AFP, referindo-se à plataforma defendida por Jokowi que defende reformas democráticas ou Prabowo, que poderá fazer o país retroceder para o autoritarismo.
Jokowi
Líder nas pesquisas, Joko Widodo, conhecido como “Jokowi”, do Partido Democrático da Indonésia para a Luta (PDI-P), de 62 anos, governou Jacarta e busca se diferenciar da classe política tradicional, sustentando uma imagem de líder honesto e afastado da corrupção. Sua campanha baseou-se nas redes sociais e em voluntários, mas foi menos contundente do que a do seu rival Prabowo.
Apelidado por seus seguidores de o “Obama da Indonésia”, Widodo, de 52 anos ganhou popularidade devido ao seu estilo próximo às pessoas. Durante seu mandato como governador, realizou diversas visitas a bairros para falar diretamente com os moradores. Esta técnica, apelidada de “blusukan” (visita espontânea, em javanês), se transformou em sua marca registrada e virou mote de sua campanha.
Como forma de fortalecer sua candidatura, Jokowi convidou Jusuf Kalla, um velho rosto da política nacional, para ser seu candidato à vice-presidência, cargo que já ocupou entre 2004 e 2009. Para Widodo, o desenvolvimento indonésio só será possível por meio do “gotong royong” ou “cooperação comum” o que poderá seria possível através da revitalização dos mercados e do comércio tradicional, além da oferta de mais e melhores oportunidades de formação aos jovens.
Prabowo
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Prabowo é questionado por supostas vinculações com atos de violação aos direitos humanos
Com 52 anos, o candidato pelo Partido de Movimento de Grande Indonésia (Gerindra) é acusado de ter relação com abusos dos direitos humanos no Timor-Leste — anexado à força pela Indonésia entre 1975 e 1999 — e de envolvimento no assassinato de opositores. Seu nome é citado por vítimas do massacre de Kraras em 1983 no Timor, que deixou mais de 300 mortos e também é suspeito de ter relação com o desaparecimento de 13 estudantes em Jacarta em 1998. Ele nega as acusações.
“Democracia significa o governo do povo. Mas o que está acontecendo na Indonésia agora é uma 'cleptocracia' (estado governado por ladrões)”, afirmou Prabowo durante um comício.
Com um viés populista e apoio de conservadores e islamitas, Prabowo busca o voto das classes mais baixas ao reiterar que a Indonésia deixará de estar “à venda”, em alusão às multinacionais que exploram os recursos naturais do país. Sua família, no entanto, tem negócios na mineração, extração de carvão e na indústria de papeleira. A fortuna pessoal de Prabowo é avaliada em cerca de US$ 150 milhões, e a de seu irmão Hashem é quase cinco vezes este valor.
Suas atitudes também são controversas. De acordo com a agência Efe, militares consideram Prabowo um “psicopata”, propenso a acessos de ira. Na reta final da campanha, a mais cara entre os candidatos, chegou a defender a eliminação da eleição direta para Presidente, provocando o temor de que, caso vença o pleito, leve o país para o autoritarismo.
* Com informações da agência Efe