“Acredito que, às vezes, temos desconfiança de nós mesmos. Acho triste quando um problema entre os países da América do Sul vai para Haia [Tribunal Penal Internacional das Nações Unidas], quando a Unasul podia resolver”, afirmou o ex-presidente do Brasil Luiz Inácio Lula da Silva durante uma palestra com Ernesto Samper, secretário-geral da Unasul e ex-presidente da Colômbia, em referência à disputa travada entre Bolívia e Chile por uma saída soberana ao mar.
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Ricardo Stuckert/Instituto Lula
Lula e Samper discutiram em São Paulo as possibilidades de integração produtiva no subcontinente
Os dois ex-mandatários se encontraram em um hotel na zona sul de São Paulo na quarta-feira (14/05) para o seminário “A integração das cadeias produtivas na América do Sul”, que teve também teve a presença de representantes do parlamento, da indústria, de universidades públicas e de movimentos sociais brasileiros.
“Cada país tem que ter um mínimo de sustentabilidade política para que a Unasul se consolide”, tendo-a como “um instrumento de coordenação das políticas de integração no nosso continente”, sugeriu Lula.
“Eu tenho muita preocupação porque nós tivemos um momento extraordinário de governos progressistas na América do Sul, mas vocês sabem que em política há ciclos e a gente pode ter daqui a pouco uma reversão, com um ciclo de governos conservadores. E volta tudo outra vez: quem vai agradar mais os EUA? Quem vai sorrir mais? Lamentavelmente é assim”, acrescentou.
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Investimento exterior
Durante o evento, Lula também comentou as críticas que muitos brasileiros fazem sobre investimentos em vizinhos latino-americanos, em vez de investimentos no próprio país. “Tem gente que se apresenta ao mundo como pessoas avançadas que diz que a exportação de serviço para fazer o porto de Mariel [em Cuba] ou o Metrô de Caracas [na Venezuela] significa que estamos dando dinheiro aos outros. É atraso político, a submissão ao que tem de mais atrasado no mundo”, rebateu.
Para o ex-presidente brasileiro, é preciso resolver o problema político da integração em várias frentes. Primeiro, priorizando cadeias produtivas que cada nação tenha mais facilidade e familiaridade. Segundo – e principalmente – completar o processo integracionista por meio de um maciço investimento em infraestrutura e no setor energético.
“Falo isso com certa tristeza, porque a primeira ponte construída entre Brasil e Bolívia foi uma pontezinha mixuruca que eu inaugurei em Basileia, no estado do Acre. Só cabe um caminhão de cada vez. Mas foi a primeira em 500 anos. Uma demonstração que a integração nunca foi levada a sério, pelo menos, pelos governos brasileiros”, criticou.
“Tudo isso já discutimos anteriormente, mas falta uma terceira coisa: financiamento. Eu já tinha falado para o Chávez (ex-mandatário venezuelano) que a nossa grande América do Sul não precisa de espada, precisa de banco de desenvolvimento, de muito dinheiro para a nossa infraestrutura”, completou.
Ouça o áudio completo do discurso de Lula: