Sem apoio suficiente para formar governo na Espanha, o presidente do governo interino, Mariano Rajoy (PP), se recusou a tentar aprovação para sua reeleição no Congresso. Diante do cenário, o líder do partido movimento Podemos, Pablo Iglesias, propôs a formação de um governo de esquerda integrado por socialistas do PSOE (Partido Socialista Operário da Espanha), Esquerda Unida, partidos independentistas e pelo Podemos. Apesar de ainda figurar como uma hipótese, a ideia repercutiu negativamente nos demais países europeus, como declarou o porta-voz do PP no Parlamento Europeu, Esteban González Pons, neste sábado (23/01).
De acordo com Pons, a oferta de Iglesias “causou terror” nas chancelarias europeias. Isso porque de acordo com a proposta do Podemos, a sigla ocuparia a vice-presidência do país e teria controle de ministérios chaves para o governo como o de Relações Exteriores e de Defesa. Ainda sobre a questão, Pons ironizou que no caso de a Espanha ter que negociar em Bruxelas “terá que passar um fim de semana com Alexis Tsipras [premiê grego] para que ele explique como funciona isso”, disse fazendo alusão às extensas negociações gregas com os credores internacionais.
Agência Efe
Pedro Sánchez durante encontrou com o rei Felipe VI
Sem entrar em detalhes sobre alianças e articulações, o líder do PSOE, Pedro Sánchez, sinalizou neste sábado que aceitará “por responsabilidade” tentar formar uma maioria parlamentar caso o rei Felipe VI peça.
Em nota divulgada hoje, o PSOE ressaltou que não irá negociar um possível governo nesta semana, mas “manterá contatos com todas as forças políticas com o objetivo de avaliar a situação e aproximar posições” quanto aos “graves problemas que a Espanha tem”.
O partido sinaliza também criticou duramente Rajoy por ele não ter renunciado à possibilidade de formar governo. Para o PSOE, a recusa da renuncia de Rajoy é “inaceitável”. O partido defende que o político conservador deve “aceitar o encargo real e apresentar sua candidatura ou renunciar definitivamente a ela”.
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Os socialistas acusam Rajoy de utilizar de forma partidária as instituições e regras democráticas “como nunca fora conhecido antes na história da nossa democracia”. O fato dele “se manter na espera, por razões de sobrevivência política e pessoal, se amparando na existência de hipotéticas maiorias alternativas, é uma irresponsabilidade que não está de acordo com os interesses dos cidadãos e com os objetivos que temos defendido para nosso país”.
Nas primeiras horas deste sábado, Sánchez contatou o presidente do Ciudadanos, Albert Rivera, para propor uma conversa “nos próximos dias”. Diante do atual cenário, Rivera sinalizou disposição para negociar tanto com socialistas, como com o Podemos e os partidos independentistas.
Com 40 deputados o Ciudadanos é fundamental para qualquer força política que queira formar governo.
Rajoy
Rajoy recusou a oferta do rei Felipe VI de se submeter a um debate de posse no Congresso para tentar aprovação para sua reeleição, mas não descartou fazê-lo em um futuro próximo, quando tenha uma maioria alternativa.
Agência Efe
Mariano Rajoy voltou atrás em sua decisão de não tentar se reeleger ao cargo de chefe de Estado
O presidente interino vive um impasse para formar governo desde as eleições gerais de 19 de dezembro. Na ocasião, o PP esteve à frente na contagem de votos, mas não obteve maioria absoluta no Parlamento. Desde então, o ex-premiê conservador tem tentado compor novas alianças com outras forças políticas no país, mas sem sucesso.
Para possuir maioria no Parlamento, Rajoy precisaria do suporte do PSOE e do Podemos, os dois partidos com mais cadeiras depois do PP. No entanto, desde as eleições legislativas, tanto PSOE e Podemos, quanto a quarta força parlamentar — os liberais e novatos Ciudadanos — já indicaram que não têm a intenção de formar um governo com Mariano Rajoy.
Proposta do Podemos
Em meio à indefinição de Rajoy, Iglesias propôs ao rei a formação de um governo de coalizão de esquerda, com o PSOE, o partido Esquerda Unida e outras legendas menores.
Agência Efe
Iglesias fez proposta de governo de esquerda ao rei
No novo governo, Pedro Sánchez, líder do PSOE, ocuparia o cargo de chefe de governo e Iglesias seria seu vice. Iglesias disse à imprensa que o monarca “esteve em seu lugar” e viu como “razoável” sua proposta de coalizão de esquerda, “tendo em vista o resultado das eleições”.
A soma de PSOE, Podemos e Esquerda Unida dá 161 deputados e a maioria absoluta é de 176, por isso, que a proposta de Iglesias inclui outras forças minoritárias.