Na ilustração, a linha escura mostar o caminho para se atingir a área do pré-sal: exploração de alta tecnologia
Saiba o que mais foi publicado no Dossiê #07: Educação Sem Fronteiras
Leia as outras matérias da edição nº 7 da Revista Samuel
No final de maio, o vice-presidente do grupo britânico BG no Brasil, Henrique Rzezinski, anunciou que até 2025 a empresa deverá investir mais de US$ 30 bilhões em suas operações em solo nacional — mais do que toda a receita do grupo no ano passado, US$ 21 bilhões —, com o foco voltado para a exploração de petróleo e gás na área do pré-sal. Como resultado, acredita que o país se tornará a maior fonte de receita da empresa.
O grupo já é sócio da Petrobras em 11 campos, entre os quais os de Lula, Carioca e Guará, com participação média de 20% a 40%, e inicia a construção de seu maior centro tecnológico global, no Parque Tecnológico da Ilha do Fundão, dentro do campus da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro).
O investimento faz parte dos US$ 2 bilhões que a empresa pretende gastar apenas em pesquisa e desenvolvimento (P&D) até 2015.
Apoie a imprensa independente e alternativa. Assine a Revista Samuel.
O BG Group está longe de ser o único interessado no petróleo descoberto abaixo da camada de sal das bacias de Campos e Santos. Ainda em maio, a americana GE (General Electric), que forma um dos maiores conglomerados empresariais de todo o mundo, anunciou investimento de US$ 500 milhões para a construção de um centro de P&D voltado ao setor de óleo, gás e combustíveis. Também localizado no campus da UFRJ, deverá contar com mais de 400 pesquisadores.
A universidade vem se transformando num gigantesco polo de pesquisas no setor, com empresas como Siemens, Halliburton e Schlumberger, entre outras, já instaladas ou em vias de investir no local. A UFRJ mantém estreitas relações inclusive com a Petrobras e sedia desde a década de 1960 o Cenpes (Centro de Pesquisas e Desenvolvimento Leopoldo Américo Miguez de Mello), unidade de P&D e engenharia básica da estatal.
Segundo Ricardo Torres, da PUC-PR (Pontifícia Universidade Católica do Paraná), não é apenas na universidade fluminense que se avança nos estudos do setor. Pelo Brasil inteiro existem centros de pesquisa atuando para atender às necessidades de tecnologia para exploração e produção no pré-sal. Ele mesmo desenvolve diversas pesquisas relacionadas com a área. Segundo Torres, isso é possível graças a dois elementos: um deles, o grande montante de recursos que vem sendo investido, principalmente o dinheiro proveniente dos royalties do petróleo. Por lei, o CT-Petro (Fundo Setorial de Petróleo e Gás) recebe 1,25% desse montante, que deve ser usado em pesquisa. E há o interesse de empresas do mundo todo em explorar os bilhões de barris de petróleo escondidos abaixo do leito do mar. Para isso, é preciso investir na criação de tecnologias. Daí as parcerias com universidades e centros de pesquisa, provendo recursos e estimulando o foco.
Do lado da produção, diante da demanda da indústria de petróleo e da necessidade de equipamentos, máquinas e serviços, o governo estabeleceu uma regulamentação exigindo um mínimo de conteúdo local. Em média, a meta estipulada nos contratos é de que 65% de todo o gasto com equipamentos, máquinas e serviços seja realizado no Brasil.
A indústria naval foi uma das mais beneficiadas. Estimativas do Mdic (Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior) apontam que para explorar o pré-sal serão necessárias “aproximadamente 5.000 embarcações, desde sondas de extração de alta complexidade a barcos de apoio”.
Para Torres, a consolidação dos investimentos no Brasil é muito importante tendo em vista o volume de dinheiro que estará em jogo. Um levantamento realizado pelo BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) sobre as perspectivas de investimento na indústria nacional entre 2012 e 2015 projeta um total de R$ 354 bilhões a serem aplicados em petróleo e gás.
Interesses múltiplos
Tamanho mercado chama cada vez mais a atenção de empresas e governos estrangeiros. E o interesse não se restringe à criação de centros de pesquisa, mas abarca também a aquisição do produto e o fornecimento de equipamentos e serviços. Um dos principais interessados é a China. Desde 2010, as empresas daquele país anunciam investimentos no Brasil, basicamente para compra das operações locais de petroleiras multinacionais, na ordem de mais de US$ 15 bilhões.
Os norte-americanos também estão de olho. Desde a visita do presidente Barack Obama ao Brasil em 2011, membros da alta cúpula de seu governo começaram a pleitear, até publicamente, mudanças nas regras de conteúdo nacional.
Para Torres, essa participação de parceiros vindos de fora não é prejudicial para o Brasil e é até inevitável. Ele ressalta, no entanto, que, da forma como foi feita a regulamentação do conteúdo nacional, mesmo que se mantenham os índices exigidos, a participação estrangeira se traduzirá em menos benefícios do que poderia dar. “O conteúdo é uma coisa que tem de ser vista com rigor. Não estamos desenvolvendo tecnologia nacional — em grande parte quem está fazendo isso são as multinacionais. A propriedade intelectual é delas e isso dá muito mais riqueza do que produzir peças”.
* Texto publicado originalmente na revista Retrato do Brasil
NULL
NULL