Guinada no Reino Unido: isolacionismo ou nostalgia do poder?
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O “euroceticismo” é uma força crescente na política britânica, e a crise na zona do euro foi simplesmente o catalisador para que várias décadas de borbulhante ressentimento contra a integração europeia subissem à superfície. As pesquisas do Eurobarômetro consistentemente colocam o Reino Unido como o mais “eurocético” dos 27 países da UE (União Europeia).
O sentimento anti-UE parece ser bem menos comum entre personalidades da educação, dos negócios e da política do que junto ao eleitorado como um todo. O “euroceticismo” é também uma tendência relativamente recente na opinião pública. Há menos de 40 anos, em 1975, o Reino Unido realizou um referendo em que a opção de manter o país como membro da Comunidade Econômica Europeia saiu vencedora.
A explicação padrão para essa recente guinada na base da opinião pública geralmente começa com uma discussão sobre a cobertura midiática. Uma narrativa comum é a de que a UE envolveu-se em uma tentativa de menosprezar e prejudicar o estilo de vida britânico. Outros artigos fazem exageradas alegações sobre a quantidade de dinheiro gasta com o orçamento da UE, ou se baseiam no suposto absurdo do processo decisório da UE — como as leis que especificam até que ponto uma banana ou um pepino colocados à venda podem ser curvos.
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Reação
Nos Estados Unidos, algumas discussões notavelmente semelhantes têm sido direcionadas para outra organização internacional: as Nações Unidas. Mas, ao contrário dos EUA, o Reino Unido não tem um longo histórico de isolacionismo. O país há séculos exerce uma influência extrema sobre os assuntos europeus, e, por causa do Império Britânico, ele provavelmente fez mais para moldar o mundo como um todo do que qualquer outro Estado moderno.
Uma hipótese mais plausível pode ser a de que o “euroceticismo” é, em alguns casos, uma reação à diminuição da influência internacional do Reino Unido. Nesse sentido, o que os “eurocéticos” querem recriar é não tanto uma era de isolacionismo, e sim uma era em que o Reino Unido agia como a maior superpotência mundial. Ocasionalmente isso é explicitado pela defesa de que o Reino Unido abandone a integração europeia e busque, no lugar disso, construir uma relação competitiva entre os países da Commonwealth. O fato de essa mesma estratégia ter sido tentada e amplamente abandonada pelo governo britânico nas décadas de 1950 e 1960 parece ter sido esquecido.
O motivo de esse ressentimento popular estar voltado contra uma imagem grotesca da UE não diminui seu potencial efeito sobre a política britânica. A menos que esses sentimentos possam ser desafiados, há pouca esperança de que o resultado do referendo de 1975 se repita 40 anos depois.
Tradução por Rodrigo Leite
* Texto publicado originalmente na revista The European
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