Lavinia Jones Wright e Alex Steyermark durante gravação no Jardim Botânico do Brooklin, em NY
Saiba o que mais foi publicado no Dossiê #08: Crise na Europa
Leia as outras matérias da edição nº 8 da Revista Samuel
Desde 2011, Alex Steyermark e Lavinia Jones Wright lideraram o 78 Project, uma operação sediada em Nova York que tem como objetivo criar um arquivo de música folk contemporânea americana utilizando equipamentos de gravação dos anos 1930. Inspirados pelas gravações de campo do folclorista e pesquisador Alan Lomax (1915-2002), Steyermark e Jones Wright utilizam máquinas Presto que transcrevem diretamente as gravações em discos de acetato. Essas sessões, que até o momento incluíram músicos como Rosanne Cash, Richard Thompson e Loudon Wainwright III, também são filmadas e postadas online como parte de uma série virtual. Na entrevista a seguir, Jones Wright, que é jornalista especializada em música, e Steyemark, diretor especializado em trilhas sonoras, falam sobre a missão do 78 Project.
Apoie a imprensa independente e alternativa. Assine a Revista Samuel.
Que significado tem as gravações de campo em uma época na qual é tão fácil lançar uma música no mundo todo?
Lavinia Jones Wright: O que Alan Lomax fazia, com suas gravações de campo, era capturar a identidade cultural americana. A música é um dos modos mais universais de conectar as pessoas, e a performance contida em cada gravação é realmente muito humana, algo com o que todos nós podemos nos identificar porque todos lutam por se expressar de alguma maneira. Lomax mostrou aos americanos da era pós-depressão o que era belo e único em sua própria cultura. Agora, estamos tentando nos conectar com aquele legado cultural novamente, para ver o que significa, para as pessoas, ser americano hoje em dia, para descobrir como nos relacionamos com o cânone de canções que nos pertence.
Alex Steyermark: A gravação em campo do modo como fazemos permanece relevante por causa do senso de propósito que ela oferece à música e ao artista. Já que é uma gravação de uma única tomada, com limite de tempo, ela realmente captura o momento. Você pode ouvir os sons no cômodo e tudo o que acontece durante esses três minutos de gravação. É uma experiência que não pode ser vivida de outra forma, a menos que alguém apareça na sua porta de entrada com um equipamento de gravação, monte-o em sua cozinha e lhe diga que você tem três minutos para cantar uma música antiga.
Como o 78 Project foi criado? A série virtual já estava planejada desde o princípio como parte dele?
Steyermark: O 78 Project foi concebido originalmente como uma série virtual. Começamos no último verão escolhendo alguns artistas ao redor de Nova York para trabalhar nos primeiros episódios e, em seguida, expandir o projeto para outros locais.
Jones Wright: Nós sempre quisemos levar o projeto para a estrada, e o documentário pareceu a maneira ideal de mostrar para novas pessoas e lugares o que tínhamos aprendido fazendo a primeira série virtual.
Vocês já gravaram artistas como Rosanne Cash e Loudon Wain-wright III. Como os artistas se adequaram ao formato?
Jones Wright: Uma das partes mais interessantes do trabalho no 78 Project foi ver a resposta dos artistas. Algumas das pessoas com quem trabalhamos já foram gravadas centenas de vezes, em muitos formatos diferentes, é incrível para nós ver como elas acharam emocionante a experiência do projeto. Muitos artistas acham os riscos inerentes a esse desafio de uma única gravação bastante empolgantes, e consideram o processo envolvente.
Quantas máquinas Presto vocês têm? As máquinas e os discos de acetato são difíceis de serem comprados, em relação a outras mídias de gravação vintage?
Steyermark: Nós temos alguns Prestos, mas não porque os colecionamos, é mais para termos peças extras, de modo que possamos fazer com que pelo menos dois funcionem perfeitamente. Nós viajamos com apenas dois equipamentos. Os discos de acetato vêm de uma grande empresa na Califórnia, chamada Apollo Masters. Eles também fazem nossas agulhas com ponta de rubi.
Jones Wright: O desafio em gravar desta forma consiste em ser capaz de se apresentar e capturar a canção de maneira simples e sucinta. Se a canção for longa demais, nós podemos perder parte dela, no final. Eu não tenho outra opção, a não ser interromper a gravação, quando a agulha chega ao centro! E tudo precisa ser tocado em um único microfone, por isso, quanto mais pessoas e instrumentos houver, mais cuidado é preciso ao posicionar os músicos ao redor do microfone.
Vocês estiveram envolvidos numa campanha no Kickstarter para transformar o 78 Project em um documentário. O futuro do 78 Project está nessa campanha ou o projeto continuará se os planos para o documentário não derem certo?
Jones Wright: O documentário do 78 Project é realmente um trabalho coletivo. É por isso que um método de arrecadação de fundos coletivo – uma campanha direcionada pela comunidade, como é o caso do Kickstarter – faz mais sentido. Nós iniciamos com o Kickstarter quando estávamos no Tennessee, logo ao final de nossa primeira viagem de um mês para rodar o filme, e a coisa deu certo. Visitamos dezenas de pessoas maravilhosas em todo o Sul, eles nos convidaram para entrar em suas casas com nossas câmeras e nosso equipamento de gravação, e sentimos que todos eles eram parte do 78 Project.
Steyermark: Sentimos a mesma coisa por nossos fãs e apoiadores. Essas pessoas são o projeto, nós o fazemos por elas tanto quanto por nós mesmos. Portanto, faz sentido que encontremos um modo de financiar o projeto que inclua todo mundo.
Tradução por Henrique Mendes
* Texto publicado originalmente no site norte-americano The Awl
NULL
NULL