No programa 20 MINUTOS ANÁLISE desta quinta-feira (06/05), o jornalista fundador de Opera Mundi, Breno Altman, falou sobre a mudança no equilíbrio de forças políticas no Brasil, a favor da esquerda, após a reabilitação dos direitos eleitorais de Lula. Para ele, o futuro do país será decidido entre o ex-presidente e o atual, Jair Bolsonaro.
Altman retomou os acontecimentos que levaram à decisão favorável a Lula, “visível já há alguns meses”, devido à contradição entre setores do STF e a Operação Lava-Jato.
“Tudo começou quando o lava-jatismo, entre 2017 e 2018, se deslocou da órbita dos partidos que lideraram o impeachment de Dilma para o campo gravitacional do bolsonarismo, da extrema-direita, uma transição cujo desfecho foi a nomeação de Sergio Moro para o Ministério da Justiça”, relembrou.
Com as informações da chamada Vaza Jato, conduzida pelo site The Intercept, tornou-se pública a manipulação dos processos contra Lula para auxiliar na eleição do ex-capitão. Segundo o jornalista, assim foi se construindo o cenário, ajudado pela pressão interna e internacional, que desembocaria na reabilitação eleitoral do ex-presidente.
“Mesmo que o ato inicial, o habeas corpus acolhido pelo ministro Edson Fachin, tenha sido uma provável manobra para tentar reduzir danos contra a Lava Jato, o fato é que já vinha se estabelecendo, ao menos na 2ª Turma do STF [Supremo Tribunal Federal], um equilíbrio de forças favorável à anulação de sentenças, inserido na consolidação de uma oposição ao bolsonarismo dentro do sistema judicial, cujo maior expoente é o ministro Gilmar Mendes”, argumentou.
Essa mudança “abrupta, mesmo sem mobilização social importante ou resolução dos graves problemas internos que enfrentam os partidos de esquerda”, permitiu a súbita retomada de protagonismo do campo progressista, “representado por Lula e sua potencial candidatura a presidente”.
“Bolsonaro e sua trupe sentiram o baque. Passaram a ter em campo um adversário capaz de unificar a insatisfação com o governo, especialmente a das camadas populares, dando-lhe voz e perspectiva de saída política, com o eventual retorno do ex-presidente ao Palácio do Planalto”, reforçou Altman.
A direita, que até então era o grupo que liderava o combate a Bolsonaro, buscando também capturar setores da esquerda sob o argumento da construção de uma frente ampla, “viu seu espaço político definhar, apesar de seu enorme poderio econômico e midiático”. Isso porque, segundo o jornalista, Bolsonaro já não tinha de enfrentar uma oposição de direita, “limitada e capenga, mas uma liderança robusta, de forte raiz social, capaz de simbolizar e sintetizar uma onda de rechaço e com a força para impulsionar mobilizações contra o governo, a depender de sua vontade e das condições sanitárias”.
Para o jornalista, a direita, que perdeu seu discurso e cujas lideranças já não eram suficientemente sólidas, “caiu do palco principal”.
Altman apontou que o mesmo aconteceu com a centro-esquerda, particularmente entre os setores vinculados à candidatura de Ciro Gomes: “A aposta do ex-governador cearense tinha como pressuposto que Lula não poderia ser candidato”. Segundo o jornalista, sua expectativa era convergir parte do voto progressista com os votos centristas, viabilizando-se como o grande oponente de Bolsonaro.
“O reaparecimento de Lula no cenário sangra profusamente o pedetista. Atônito, Ciro intensificou seu discurso antipetista, praticamente rompendo com o campo progressista, e busca estender suas pontes para a oposição de direita, para o DEM e o PSDB, tentando se mostrar como a única candidatura capaz de quebrar a bipolaridade entre Bolsonaro e Lula. As pesquisas, até agora, mostram pouco sucesso nessa operação”, defendeu Altman.
Polarização Lula e Bolsonaro
“Ainda é muito cedo para falarmos em cenário definitivo, mas salta aos olhos a consolidação, ao menos provisória, da luta política entre blocos antagônicos liderados pelo neofascismo e pela esquerda, eleitoralmente entre Bolsonaro e Lula”, ponderou o jornalista.
Ricardo Stuckert/Instituto Lula e Alan Santos/PR
Lula e Bolsonaro: para Altman, futuro do país será decidido entre petista e atual presidente
Segundo ele, Bolsonaro fará de tudo para arregimentar o máximo apoio do campo conservador e para mobilizar sua importante base militante. “Está desgastado e fragilizado, mas não está morto. Não é absurda sua aposta que a curva descendente da pandemia, a partir de agosto ou setembro, impulsionando uma retomada da economia, mesmo que frágil, possa fazê-lo entrar no ano eleitoral em uma situação menos desconfortável que a atual”, explicou.
O ex-presidente, por outro lado, trata de fortalecer seu papel de principal liderança contra o governo, “adiando o tema eleitoral e enfatizando as batalhas imediatas pelo aumento da ajuda emergencial e pela vacinação em massa, operando a ocupação de todo o espaço político da esquerda até o centro, isolando Bolsonaro e esmagando as margens da chamada terceira via”.
Altman acredita que o fator decisivo para derrotar o presidente e efetivamente consolidar uma nova correlação de forças será a mobilização social.
“O estado de humor das massas dá importantes sinais de mudança, mas a esquerda brasileira continua agindo de forma diferente da colombiana, por exemplo, evitando riscos durante a pandemia”, apontou.
Para o jornalista, outro território de disputa é o voto centrista. Não se sabe ainda se o PT se moverá em direção ao centro, como em 2002, “às custas da moderação programática”, ou se tentará deslocar esses eleitores para a esquerda, “em uma etapa na qual o colapso sanitário e econômico parece permitir a atração de setores das camadas médias a um programa de mudanças profundas, de ruptura com o neofascismo e o neoliberalismo”, inclusive inspirados por governos como o de Joe Biden, nos EUA.
“Se o PT e. Lula se deslocarem ao centro, a confusão de identidades poderia até mesmo facilitar a difícil recuperação dessas frações vinculadas à oposição de direita e a Ciro, além de eventualmente criar problemas para a unidade de esquerda, para a frente de esquerda que precisa ser formada para o primeiro turno”, concluiu.