O sociólogo e prefeito de Araraquara Edinho Silva, um dos coordenadores de comunicação da campanha presidencial de Luiz Inácio Lula da Silva, avalia que a curva crescente do candidato nas últimas pesquisas eleitorais indica vitória no primeiro turno, e que um terceiro governo do petista se anuncia como um governo de transição para o retorno à normalidade democrática.
“Do ponto de vista racional, a curva de Lula é uma curva de chegada no primeiro turno”, afirmou em entrevista ao jornalista Breno Altman no programa 20 MINUTOS desta sexta-feira (30/09).
Observando que a movimentação dos eleitores indecisos e o voto útil poderão ser decisivos para o desfecho já neste domingo, ele faz a ressalva: “O voto útil serve a nós, mas também ao outro candidato”, indicando que a “tendência de crescimento da curva de Lula é de passagem, ou seja, no dia das eleições podemos estar passando a casa dos 50%”.
Silva afirma convicção de que a frente ampla formada já para o primeiro turno aponta para a construção de um governo democrático que restabeleça a estabilidade institucional no Brasil: “isso seria fantástico para uma gestão que se desenha como um governo de transição”, argumenta.
O propósito de conduzir uma transição se materializa na afirmação repetida por Lula, de que não será candidato à reeleição: “a ideia é fazer um governo que crie condições para que o Brasil se restabeleça enquanto nação, fortaleça as instituições e a democracia, dê início e desenvolva um projeto de crescimento econômico com inclusão social. O centro, na minha avaliação, é que derrote o fascismo.”
A necessidade de derrotar não somente o atual presidente Jair Bolsonaro, mas também o fenômeno do bolsonarismo, que se ergueu em torno dele, torna correta, segundo ele, a tática de campanha de Lula, de encarar o processo como uma eleição de primeiro turno com características de segundo turno.
A urgência da resistência antifascista apoia-se no perigo efetivo que o bolsonarismo representa: “temos que entender que estamos diante de um fenômeno político que tem base social organizada, capacidade de mobilização e de disputa política de rua. Isso era quase um monopólio da esquerda. Hoje, não”.
O enfrentamento dessa nova realidade justifica a construção de uma frente ampla democrática já para o primeiro turno: “é só lembrarmos o que significaram na história o fascismo italiano e o nazismo alemão. Todos tiveram respaldo das urnas, tinham base social e força na sociedade. O fascismo não surgiu já como um movimento autoritário, surgiu legitimado pelas urnas”.
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‘No dia das eleições podemos estar passando a casa dos 50%’, defende o prefeito de Araraquara
Silva refere-se ao estado de polarização extrema e de crescimento de movimentos xenofóbicos e da direita mais raivosa no mundo todo, e não apenas no Brasil. “Os democratas dos Estados Unidos derrotaram Trump, mas não o trumpismo, e o trumpismo vai dar as condições históricas para que os republicanos voltem com um viés muito mais conservador e autoritário, polarizado por Trump, que é o cara do muro para separar os Estados Unidos do México”, espanta-se. O Brasil não pode cometer o mesmo erro.
Silva avalia que o fato de a frente ampla incorporar o ex-tucano Geraldo Alckmin à frente de setores simpáticos ao neoliberalismo, que apoiaram o golpe em Dilma Rousseff em 2016, indica um movimento originado na sociedade, e não no PT. “Uma parcela da sociedade que se envolveu no golpe pode não reconhecer de modo direto que se equivocou, mas reconhece de forma indireta”, interpreta.
A liderança sólida de Lula na corrida presidencial de 2022 indica uma mudança de interpretação na sociedade sobre os significados dos acontecimentos: “nesse processo, tivemos as denúncias das manipulações da Lava Jato, a anulação de todos os processos contra Lula, o algoz virando ministro de Bolsonaro. Tudo isso foi mostrando à sociedade o equívoco cometido. Hoje a candidatura de Lula tem uma parcela convicta do que ele representa, mas também uma parcela desencantada com aquele movimento”.
O prefeito de Araraquara garante que a campanha está preparada para o caso de sua previsão eleitoral não se concretizar no primeiro turno: “fizemos um planejamento como se fosse campanha de segundo turno, mas se houver segundo turno estamos preparados, sabemos o que fazer. O movimento será o mesmo, de ampliação do campo democrático para derrotar o fascismo”.