Uma propaganda de televisão de 1988 no Chile
apresentava um jovem universitário se posicionando a favor da continuidade
de Augusto Pinochet na presidência por mais oito anos. Esse jovem
era José Antonio Kast, que, catorze anos depois, tornou-se deputado
eleito pelo distrito 30, seu berço político, a comuna de Buin. Depois de três
eleições pelo seu distrito natal, mudou-se para o distrito 24 e se elegeu para
o quarto mandato seguido, representando uma das regiões mais nobres da capital
Santiago, as comunas de Peñaloel e La Reina.
Kast tornou-se o principal representante dos mais de
três milhões de apoiadores pinochetistas do Chile de 1988. Ficou
filiado pela Unión Demócrata Independiente – UDI até 2015, partido
aliado de Pinochet. As suas sucessivas eleições como deputado alçaram-no
à candidatura à presidência em 2017. Entretanto, sem o consenso do seu tradicional
partido, que apoiou a aliança de Sebastián Piñera, Kast disputou
como candidato independente. Sem nenhum apoio partidário, alcançou 8%, ou 523
mil votos.
Além de Augusto Pinochet, Kast, a exemplo
de Jair Bolsonaro, tem admiração por outra figura da extrema-direita
latino-americana: Alberto Fujimori. O pinochetista se manifestou nas redes
sociais celebrando o indulto dado ao ex-ditador peruano no final de 2017,
comparando a situação com o Chile, que ainda mantém idosos condenados por
crimes do período ditatorial em situação de cárcere. Kast disse que
“os direitos humanos são para todos”.
Nas últimas semanas, manifestações de saudação a Pinochet e Fujimori por
parte de Jair Bolsonaro foram trazidas à tona. O jornal Estado de São Paulo revelou em 26/09 que
o deputado enviou para a embaixada brasileira no Chile um telegrama
direcionado ao neto de Pinochet. A mensagem apresentava a admiração ao
neto “por não se curvar à esquerda e honrar a memória do avô […] o saudoso
General Pinochet”.
Outra recordação da simpatia do deputado com o autoritarismo
latino-americano foi exposto pelo jornal New
York Times. Entrevistado por James Brooke durante o seu primeiro mandato,
em 1993, Bolsonaro defendeu o fechamento do cCngresso feito por Fujimori,
no Peru. O modelo fujimorista inclusive era sua proposta para o Brasil:
“A Fujimorização é a saída para o Brasil. Estou fazendo essas
advertências porque a população é a favor da cirurgia política”, avisou ao NYT.
Alberto Fujimori e Augusto Pinochet foram
condenados internacionalmente por crimes de lesa-humanidade, genocídio e
corrupção. As condenações não foram problemas para Bolsonaro, que, em
janeiro de 2015, afirmou na RedeTV
que “Pinochet fez o que tinha de ser feito, tinha que ser de forma violenta
para reconquistar seu país”.
A admiração conjunta aos ditadores faz de Kast e Bolsonaro dois
aliados na região. José Antônio Kast anunciou nesta terça-feira, (09/10),
que estará junto à campanha de Bolsonaro no segundo turno, fazendo um giro
pelo Brasil. O extremista chileno confirmou à CNN Chile que mantém um diálogo constante com os filhos de Jair.
Em outra entrevista, ao jornal The Clinic, Kast afirmou que apoia Bolsonaro porque
representa aquilo que quer ver triunfar no Chile. “Eu não voto no Jair
Bolsonaro porque não sou brasileiro. Mas sim, me parece importante
apoiá-lo do Chile, porque representa a direita sem complexos, que queremos
que triunfe também no Chile. Estamos há 30 anos na base do consenso, por onde,
chegando a acordos com a esquerda, o cerco vai fechando a favor desse setor,
sem contrapeso e com um claro retrocesso”.
Kast afirma que admira a política econômica de Jair
Bolsonaro, mas que rechaça os posicionamentos homofóbicos, racistas e
misóginos, embora afirme que na verdade as acusações partem da esquerda que faz
distorções nos discursos. No Chile, Kast também se envolveu em
polêmica relacionado à população LGBT. Em artigo publicado pelo jornal La Tercera, em janeiro de 2018, o
pinochetista ofende a atriz transexual Daniele Vega, protagonista do filme chileno “A mulher
fantástica”, vencedor do Oscar de Melhor Filme Estrangeiro. Kast afirmou
“Vou dizer a verdade […] Vega ‘não é mulher, ele é homem’” e acusou que “os
juízes [chilenos] são todos esquerdistas”. “É preciso ter vergonha de roubar e
mentir, não para dizer a verdade”, conclui no artigo.
José Antonio Kast diz que não admira lideranças
políticas como Bolsonaro, Trump e Pinochet. Admira, na
verdade, os seus programas de governo. Na sua campanha à presidência em 2017,
disse que teria o voto de Pinochet, se esse estivesse vivo. No seu giro
pelo Brasil, quer conhecer a realidade do Rio de Janeiro e São Paulo
para entender e aprender como conquistar uma votação expressiva. A
extrema-direita latino-americana busca sua referência além das fronteiras
geográficas, no passado recente.
(*) Publicado em IHU-Unisinos
NULL
NULL