Cientistas anunciaram nesta quarta-feira (20/10) que conseguiram determinar com grande precisão que os vikings estiveram na América do Norte em 1021, exatamente mil anos atrás, graças a uma radiação cósmica que deixou rastros em fragmentos de madeira usados nessa época.
Há décadas que se sabe que os lendários navegantes escandinavos foram os primeiros europeus a chegarem ao continente americano, em torno do ano 1000, ou cinco séculos antes de Cristóvão Colombo.
O único local conhecido com rastros da presença deles é o sítio arqueológico de L’Anse aux Meadows, no extremo norte da ilha de Terra Nova, no Canadá. Lá estão os fundamentos de oito construções: três residências, uma forja, uma serraria para abastecer um estaleiro e três armazéns.
A datação por radiacorbono (que usa o radioisótopo de ocorrência natural carbono 14) feita nesses restos havia apontado que eles eram de cerca de mil anos atrás, mas sem determinar o ano específico.
Tanto a arqueologia como as Sagas dos islandeses, textos que narram as epopeias dos vikings, indicam que a ocupação do local foi breve e esporádica.
Marcas de uma tempestade solar
A equipe de cientistas comandada por Michael Dee e Margot Kuitems, da Universidade de Groningen, na Holanda, encontrou um método original para resolver o problema, como relatado na revista Nature.
Tempestades solares elevam a presença do isótopo carbono 14 na atmosfera, o que, por sua vez, deixa sinais nas árvores, que são conhecidas por absorverem carbono da atmosfera.
Como se sabe, cada anel de crescimento nos troncos das árvores corresponde a um ano de vida.
Em três pedaços de madeira analisados, de três árvores diferentes, foi detectada uma elevada presença do isótopo carbono 14 num dos anéis, e observados mais 29 anéis que se formaram depois.
Russ Heinl/All Canada Photos/picture alliance
Construções no sítio arqueológico viking de L’Anse aux Meadows
Como é sabido que houve uma tempestade solar no ano 992, o anel com elevada presença do isótopo carbono 14 deve corresponder àquele ano, e somados mais 29 anos, quando a árvore parou de crescer por ter sido derrubada, chega-se ao ano de 1021.
“O aumento da produção de radiocarbono que ocorreu entre 992 e 993 já foi detectado nos registros de anéis de árvores de todo o mundo”, afirmou Dee.
Os autores também eliminaram a possibilidade de que populações indígenas locais tenham derrubado as árvores, pois há evidências de que elas foram cortadas com artefatos de metal, algo de que essas populações não dispunham.
Questões ainda em aberto
O número de expedições dos vikings à América e a duração do assentamento em L’Anse aux Meadows continuam desconhecidos, bem como quantos vikings viviam no local. Os cientistas supõem que os vikings tenham ficado em torno de uma década por lá, e que talvez cerca de cem deles vivessem ao mesmo tempo no local.
As estruturas se assemelham a construções existentes na Groenlândia e na Islândia.
Duas das Sagas dos islandeses descrevem a presença dos vikings na América. Escritas séculos depois, elas falam de um líder chamado Leif Erikson e um acampamento chamado Vinland e narram interações violentas e também pacíficas com povos locais, incluindo a captura de escravos. Mas foram encontradas poucas provas arqueológicas que confirmem essas interações, explica a universidade holandesa.
Porém, o ano de 1021 aproximadamente corresponde aos relatos das Sagas, disse Dee. “Assim fica a questão: o que mais das aventuras das Sagas é verdade?”