A curvatura dos gráficos que mostram a contaminação de covid-19 em países europeus têm subido há semanas. A Alemanha, por exemplo, registrou um novo recorde de casos nesta quarta-feira (17/11), enquanto a Holanda se tornou o primeiro país do continente a retomar a quarentena obrigatória, no sábado (13/11), com a nova onda de contaminações.
O novo avanço da doença no velho continente fez com que, no início deste mês, em 4 de novembro, uma quinta-feira, a Organização Mundial da Saúde alertasse que a Europa se tornou novamente epicentro da pandemia. O diretor da organização na Europa, Hans Kluge, disse, em coletiva de imprensa, que o ritmo de transmissão da covid-19 é “preocupante”, e pode causar mais meio milhão de mortes no continente até fevereiro.
O aumento de casos acontece em um momento em que as medidas de prevenção contra a covid na Europa estão afrouxadas, conforme o avanço da vacinação. Este “quadro” é composto pelo impulsionamento do comércio, pelo acesso irrestrito a ambientes fechados sem limite de ocupação e pela desobrigação do uso de máscaras são parte deste combo.
O diretor geral da OMS, Tedros Adhanom, lembra, no entanto, que “só as vacinas não substituem a necessidade de outras precauções”: “as vacinas reduzem o risco de hospitalização, doenças graves e mortes, mas elas não impedem totalmente a transmissão.”
Na Alemanha, de acordo com o Instituto Robert Koch, um novo recorde foi registrado na última quarta-feira (17/11), com 65.371 casos e 264 mortes em 24 horas. Os dados significam um aumento de cerca de 12,5 mil contágios em relação ao dia anterior, que teve 52.826 casos, e era até então o maior número de contaminados registrado.
Até a semana anterior, o país nunca havia tido mais de 50 mil casos em um único dia. “A situação nunca foi tão preocupante como agora, estamos em uma emergência muito grave” disse o presidente do Instituto Robert Koch, Lothar Wieler. No mesmo dia, a chanceler Angela Merkel, que está de saída do cargo, já havia dito que o país enfrenta um cenário “dramático”, e feito um apelo para as pessoas se vacinarem.
Na Saxônia, estado com maior incidência de covid-19, as autoridades já pensam inclusive em um lockdown generalizado, com fechamento de restaurantes, lojas e hotéis até 15 de dezembro. A Alemanha contabiliza 5,2 milhões de casos e quase 99 mil mortes desde o início da pandemia.
A França, por sua vez, registrou 20.294 casos de covid nesta quarta-feira (17/11), marca que não havia ultrapassado desde agosto. O número de pacientes com coronavírus em hospitais franceses também aumentou em mais de 10% em relação à semana anterior. São 7.663 internados em leitos de enfermaria e o número de pacientes na UTI aumentou para 1.300.
O porta-voz da França Gabriel Attal disse que o governo espera que um avanço na taxa de população vacinada seja capaz de conter o número de pessoas que acabam hospitalizadas por causa da doença. O país descarta adotar novas medidas restritivas por enquanto.
Também nesta quarta, a Bélgica anunciou o retorno de restrições para o combate da covid-19, a obrigatoriedade do uso de máscaras em locais fechados, como bares e restaurantes, para pessoas maiores de dez anos. Além disso, será necessário apresentar um passaporte da covid-19, comprovando vacinação, teste negativo, ou recuperação recente da doença, para entrar em tais estabelecimentos.
Até meados de dezembro, a maioria dos belgas deverá trabalhar em casa quatro dias por semana, e a previsão é que essa obrigatoriedade seja reduzida para três dias por semana até o final do ano.
A Bélgica tem uma das taxas de casos per capita mais altas da União Europeia, com cerca de uma infecção para cada 100 pessoas nos últimos 14 dias.
Já na Espanha, o primeiro-ministro espanhol Pedro Sanchez anunciou, nesta quarta-feira (17), que o país vai oferecer uma terceira dose de vacina contra a covid-19 a maiores de 60 anos e funcionários da saúde. A taxa de vacinação abrange cerca de 79% da população. Nas últimas 24 horas, o país registrou 6.667 novos casos de coronavírus e 30 mortes.
Wikicommons
Diretor da OMS na Europa disse que ritmo de transmissão da covid-19 é ‘preocupante’
A Itália registrou nesta quarta-feira (17/11) mais 10.172 casos e 72 mortes, de acordo com boletim do Ministério da Saúde. Com isso, o total de contágios já diagnosticados no país subiu para 4.883.242, enquanto o de óbitos chegou a 132.965.
O número de casos desta quarta é o maior para um único dia na Itália desde 8 de maio, quando houve 10.176 contágios. A média móvel de infecções em sete dias aumentou pela 15ª vez seguida e atingiu 8.030, alta de 85% na comparação com duas semanas anteriores, enquanto a de mortes subiu para 59, cifra 53% maior do que há 14 dias.
A Itália também soma pouco mais de 4,6 milhões de curados e 127.085 casos ativos, sendo este o maior valor desde 12 de setembro (127.334). Até o momento, 84,3% do público-alvo (pessoas a partir de 12 anos) já está totalmente vacinado contra a covid, porém mais de sete milhões de indivíduos aptos a se imunizar não tomaram sequer a primeira dose, o que deixa espaço para os casos continuarem subindo.
Pela primeira vez, a Suécia vai exigir um certificado sanitário anti-covid para eventos em espaços fechados com mais de 100 pessoas, devido ao aumento dos novos casos do coronavírus Sars-CoV-2. A medida foi anunciada nesta quarta-feira pelo governo sueco e deve entrar em vigor a partir do dia 1º de dezembro, após o projeto de lei ser apresentado ao Parlamento.
O governo sueco também reverteu a decisão de deixar de testar as pessoas totalmente vacinadas contra a covid-19, mesmo em caso de sintomas, anunciada em 1º de novembro.
Na Áustria, dois estados entrarão em lockdown generalizado a partir da próxima segunda-feira (22/11) para conter o novo avanço da doença. Desde o início desta semana, o governo austríaco confinou pessoas a partir de 12 anos que não tenham se vacinado contra o novo coronavírus, mas os estados de Alta Áustria e Salzburg decidiram ir além.
Essas duas regiões apresentam incidências semanais de 1.557 e 1.672 casos para cada 100 mil habitantes, respectivamente, enquanto o índice nacional é de 971/100 mil. “Não temos mais grandes margens de manobra”, declarou o governador da Alta Áustria, Thomas Stelzer.
A expectativa é de que o lockdown nos dois estados dure “algumas semanas”. A Áustria contabiliza pouco mais de 1 milhão de casos desde o início da pandemia, porém mais de 210 mil foram registrados apenas nos últimos 28 dias. Entre 8 e 14 de novembro, o país registrou 204 mortes, maior número semanal desde meados de abril – são 23,5 mil óbitos desde o começo da crise sanitária.
De acordo com o portal Our World in Data, a Áustria tem 63,88% de sua população totalmente vacinada contra a Covid-19, cifra inferior à média da União Europeia (66,42%). A Alemanha tem, por sua vez, 67,17% de sua população imunizada, número inferior a países como como França (68,81%), Itália (72,76%), Espanha (80,20%) e Portugal (87,78%). Para ver mais detalhes da vacinação na Europa, clique aqui.
Fiocruz alerta para a situação na Europa
Ao comentar a situação de retorno da pandemia na Europa, a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) lembrou que alguns países do continente com crescimento no número de casos têm índices de vacinação superiores aos do Brasil.
O aumento do número de casos e de mortes em alguns países europeus ocorre principalmente naqueles em que a cobertura vacinal não vem progredindo.
“Países como Áustria, Lituânia e Alemanha, com percentuais maiores [que o Brasil] da população vacinada (63,7%, 65,2% e 67% respectivamente), vêm não só enfrentando um grande crescimento de internações, principalmente entre os não vacinados, mas também no indicador de óbitos por milhão de habitantes, que se encontra em 2.23 para Alemanha, 4.00 para Áustria e 10.62 para Lituânia”, destacou a Fiocruz.