Uma declaração de amor foi encontrada recentemente em um dos porões de tortura da ditadura argentina. Uma equipe de investigação encontrou em uma das paredes do prédio onde funcionava a ESMA (Escola Superior de Mecânica da Armada), o maior centro de detenção e tortura da ditadura que governou a Argentina entre 1976 e 1983, as palavras “H.A. Mónica te amo”.
A equipe, que trabalha em conjunto com o juiz federal Sérgio Torres, encarregado do caso ESMA, acredita que as palavras foram escritas por Hernán Abriata, integrante da JUP (Juventude Universitária Peronista) sequestrado pela polícia em 1976, aos 24 anos, e desaparecido há 40. Seria uma declaração de amor a Mónica Dittmar, sua então companheira. De acordo com as investigações, Abriata teria ficado preso no porão onde a declaração foi encontrada.
Carlos Loza, integrante da AEDD (Associação de Ex-Detidos e Desaparecidos), que esteve preso na ESMA durante a ditadura, fez parte da equipe de investigação e, acompanhado de Dittmar, pôde analisar o escrito de Abriata. Segundo Loza, “é possível ver a mensagem se iluminada com material luminoso, ao contrário, é muito difícil de enxergá-la”.
Reprodução Revista Samuel/Memória en Construción ESMA/Marcelo Brodsky 2004
Mensagem seria de jovem universitário para sua companheira
NULL
NULL
Segundo a AEED, organização de direitos humanos que é parte acusadora no processo que investiga os crimes contra a humanidade perpetrados na ESMA, Abriata teria ficado preso no sótão e no porão, e passado pelas “capucha”, as salas de tortura que ganharam esse apelido em referência ao capuz usado pelos torturados.
Loza ainda afirmou que existem outras mensagens além da escrita por Abriata e que agora será avaliado como elas podem ser incorporadas ao processo. Dittmar, a destinatária da mensagem, pôde olhar de perto as palavras e reconheceu a caligrafia de Abriata. “Monica nos acompanhou e pôde reconhecer nessa mensagem a letra de seu companheiro, que tinha um traço firme e geométrico. Foi uma experiência muito emocionante para ela”, disse Loza.
Segundo levantamentos de organizações humanitárias, mais de 5 mil dos 30 mil desaparecidos durante a ditadura argentina passaram pela sede da ESMA, conhecida por muitos como “a Auschwitz argentina”.