Morre em 26 de janeiro de 1943, aos 56 anos, o botânico e geneticista russo, Nikolai Vavilov, abandonado na prisão, de causas desconhecidas.
Nascido em 23 de novembro de 1887, foi diretor de uma fábrica têxtil em Moscou e funcionário do alto escalão. A folgada situação econômica da família lhe permitiu ter uma boa educação. Estudou idiomas, assim como estatística e ciências naturais.
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Nikolai Vavilov foi um dos grandes geneticistas de sua época
Iniciou seus primeiros estudos especializados no Instituto de Agricultura de Moscou. Em 1913, consegue uma bolsa para estudar na Escola de Horticultura de Londres. Mais tarde estudou genética com William Bateson. Ali conheceu Francis Darwin – filho de Charles Darwin.
Em 1916 regressa à Rússia e ministra aulas de Botânica na Universidade de Saratov. Em 1921 foi nomeado diretor de Botânica Aplicada em São Petersburgo. Durante o governo Lenin foi presidente da Academia de Ciências Agrícolas da URSS. Durante sua gestão fundou cerca de 400 escolas agrícolas e nelas chegaram a trabalhar 20 mil pessoas.
Entre 1916 e 1923 realiza pessoalmente expedições a inúmeros países como Irã, China, países mediterrâneos, Etiópia, Afeganistão México, América Central, América do Sul. Realizou herborizações de umas 50 mil espécies de plantas silvestres.
Recolheu em todo o mundo exemplares de 30 mil variedades de trigo. Com toda essa documentação, criou importante banco genético de estudos constituído por mais de 160 mil sementes e plantas recolhidas de todo o mundo. Foi um pioneiro dos bancos genéticos existentes atualmente para a preservação e melhoria das espécies cultivadas.
Em 1917 pronunciou profética conferência anunciando que a nova genética permitiria “esculpir formas orgânicas à vontade … mediante cruzamentos e sínteses se poderá conseguir formas jamais alcançadas pela natureza”.
Em 1920 traça as linhas gerais da teoria, que estabelece 8 centros principais de difusão das espécies e 3 secundários. Formula então a Lei de Variação dos Homólogos em que estudou as séries de variações genéticas para ser aplicadas a outras homólogas.
No entanto, somente em 1955 é que suas teorias foram publicadas em versão inglesa sob o título The Origin, Variation, Immunity and Breeding of Cultivated Plant. Em 1926 havia publicado Centros de Origem das Plantas Cultivadas, considerado como um dos grandes avanços da genética. Foi condecorado pelo, próprio Lenin e nomeado membro da Academia de Ciências da URSS.
Com a morte de Lenin e a subida ao poder de Stalin sua vida e a das instituições mudaram radicalmente.
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Em 1934 foi acusado de geneticista burguês, seguidor das “teorias classistas de Mendel e Morgan”. Lisenko, outro geneticista, o combateu até substituí-lo pessoalmente em todos os cargos. Lisenko sustentava que determinadas transformações nas plantas cultivadas poderiam herdar-se geneticamente, esgrimindo a velha teoria da vernalização. Sua teoria supunha um avanço na produção de cereais. Apoiado por Stalin foi paulatinamente adquirindo poder.
Em 1938, Vavilov foi destituído da presidência da Academia de Ciências Agrícolas mas não se retrataria de suas convicções científicas. Lisenko foi nomeado em seu lugar.
Por razões desconhecidas, a KGB abriu um expediente contra Vavilov. A partir de 1934 vários de seus colaboradores foram presos. Vavilov escreveu aos cientistas pedindo que se afastassem do instituto e aqueles que se encontravam no exterior que não regressassem.
Em 1940, encontrava-se na Ucrânia à testa de uma expedição botânica. Em 6 de agosto foi seqüestrado em Chernovitz e confinado num cárcere secreto da KGB em Moscou. A polícia lhe deu papel e caneta para que escrevesse sua confissão. Aproveitou o material para escrever sua História do Desenvolvimento da Agricultura.
Em 9 de julho de 1941, Vavilov foi julgado e condenado a morte. Seu fuzilamento foi postergado ante o avanço das tropas nazistas no oeste da Rússia. Junto com os demais prisioneiros foi evacuado para Saratov. Escreveu a Laurenti Beria, chefe da KGB, pedindo um posto de trabalho para cultivar plantas e ser útil à nação. Em 23 de junho de 1942, o Presidium do Soviet Supremo decide comutar a pena de norte pela condenação a 20 anos de “trabalho corretivo”.