Atualizada em 05/10/2017 às 14:22
Slobodan Milosevic, presidente da República Federal da Iugoslávia, renunciou em 6 de outubro de 2000 ao seu cargo, em seguida a uma crescente pressão das ruas que alegavam fraude na votação.
A Corte Constitucional Iugoslava, que no dia anterior tinha anulado as eleições presidenciais levadas a efeito em 24 de setembro, passou a admitir que Vojislav Kostunica havia sido o verdadeiro vencedor.
Por outro lado, o exército iugoslavo retirou publicamente seu apoio a Milosevic, acalmando os temores da oposição de que ele poderia ainda ser capaz de voltar ao cenário com apoio dos militares.
Kostunica encontrou-se com o ex-presidente, debaixo de rumores que Milosevic apertou-lhe a mão, cumprimentando-o pela vitória.
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Slobodan Milosevic (3º à esquerda) durante a assinatura do Acordo de Dayton, em 1995
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A renúncia de Milosevic foi oficialmente anunciada ao povo iugoslavo por meio de uma declaração televisionada às 22h30 de 6 de outubro. Tendo por pano de fundo a bandeira nacional, Milosevic desejou “sucesso a todos os cidadãos da Iugoslávia” e falou de sua intenção de doravante dedicar-se a sua família.
Todavia, mostrou-se desafiador àqueles que gostariam de vê-lo pelas costas, quando afirmou que trataria de ajudar seu partido a reconquistar poder e assim “contribuir para a prosperidade futura da nação”.
Estimou-se que mais de meio milhão de sérvios foram às ruas da capital, Belgrado, em protesto contra as eleições fraudadas e que terminou com a capitulação de Milosevic.
Muitos permaneceram nas ruas celebrando o que acabou sendo uma transição relativamente pacífica.
Kostunica instou o povo sérvio a retirar Milosevic do poder, porém “não com a violência que ele usou contra nós durante tantos anos”.
Por fim, investigadores de crimes de guerra pressionaram pela imediata extradição de Milosevic para Haia para que fosse levado ao tribunal a fim de enfrentar processo judicial pela prática de tais crimes.
Num discurso em Kosovo, Carla Del Ponte, Procuradora-Chefe do Tribunal Internacional de Crimes de Guerra, afirmou: “Acredito com sinceridade que esta é a única solução para uma verdadeira e duradoura paz nos Bálcãs e se o povo da Iugoslávia quer realmente desfrutar de uma existência democrática”.
Contudo, em Belgrado, os sérvios estavam naquele momento mais interessados em reconstruir suas vidas depois de anos de dificuldades econômicas e de guerra.
Perguntada o que aconteceria com Milosevic, agora que não mais estava no poder, uma mulher do povo disse: “Na verdade, eu pessoalmente não estou preocupada com isso. Eu me preocupo comigo, minha família e meu futuro”.
Milosevic foi extraditado para Haia em 2001. Foi o primeiro chefe de Estado a ser julgado pelo Tribunal Penal Internacional.
Foi levado às barras do tribunal por crimes de guerra em Kosovo, Croácia e Bósnia e por genocídio na Bósnia.
A economia da Sérvia ficou paralisada por quase 10 anos de guerra e sanções. O país permaneceu isolado politicamente até que Milosevic fosse defenestrado do poder.
Milosevic foi presidente da Iugoslávia durante 13 anos, período em que mostrou-se um ardoroso defensor do nacionalismo étnico sérvio.
Cerca de 250 mil pessoas morreram na Guerra da Bósnia de 1992 a 1995, e cerca de 20 mil pessoas pereceram na Guerra da Croácia de 1991.
Milosevic morreu numa cela carcerária sob a jurisdição do Tribunal de Crimes de Guerra das Nações Unidas antes que a corte exarasse o veredicto final. O exame post-mortem revelou que morrera de ataque cardíaco. Seus defensores insistiram que ele havia sido medicado propositalmente com medicação errada.