Sexta-feira, 18 de abril de 2025
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Um levante popular se alastrou pelas ruas do Rio de Janeiro, então capital federal, em 12 de novembro de 1904. O povo, amotinado, levantou barricadas e investiu contra prédios públicos e bondes. O motivo da irritação dos cariocas era a rejeição à obrigatoriedade da vacina contra a varíola, no episódio que ficou conhecido como a Revolta da Vacina.

O que foi a Revolta da Vacina?

Antes das reformas urbanísticas do prefeito Pereira Passos (1902-1906), o centro do Rio de Janeiro tinha ruelas estreitas, sujas e cheia de cortiços, onde se amontoava a população pobre. A falta de saneamento básico e as condições de higiene faziam da capital brasileira um foco de epidemias, principalmente febre amarela, varíola e peste bubônica. A cidade tinha fama de insalubre, inclusive entre estrangeiros. 

Por exemplo: em 1895, ao atracar no Rio de Janeiro, o navio italiano Lombardia perdeu 234 de seus 337 tripulantes, mortos por febre amarela. Já no início do século, uma companhia marítima europeia orientava seus clientes com esta mensagem: “Viaje direto para a Argentina sem passar pelos perigosos focos de epidemias do Brasil”.

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Quando começaram as reformas de Pereira Passos, o médico sanitarista Oswaldo Cruz foi chamado para chefiar o combate às epidemias. Para atacar a febre amarela, apontou e divulgou um tipo de mosquito, o Aedes aegypti, como o transmissor do vírus. Contra o vetor, recomendou a aplicação compulsória de vacinas na população, recebendo o aval do prefeito e do presidente, Rodrigues Alves.

Motivo da irritação dos cariocas era a rejeição à obrigatoriedade da vacina contra a varíola, no episódio que ficou conhecido como a Revolta da Vacina

Reprodução

Charge na Revista da Semana, de 1904

Com a imposição, as brigadas sanitárias entravam nas casas e vacinavam as pessoas à força. Isso causou uma repulsa pela maneira como foi feita. As brigadas de Mata-Mosquitos desinfetavam ruas e casas. A população achava loucura responsabilizar um mosquito pela febre amarela. A maioria da população ainda desconhecia e temia os efeitos que a injeção de líquidos desconhecidos poderia causar no corpo das pessoas. Setores de oposição ao governo gritaram contra as medidas autoritárias.

A medida foi impopular e polêmica, e a revolta foi atiçada pela imprensa, que incentivava as manifestações populares. A população da cidade começou a depredar bens públicos como forma de demonstrar rejeição ao plano de saneamento. Carroças e bondes foram tombados e incendiados, lojas foram saqueadas, postes de iluminação foram destruídos e apedrejados. Pelotões chegaram a disparar contra a multidão.

A resistência à medida de saúde pública teve o apoio de positivistas (defensores da doutrina político-científica autoritária de Auguste Comte) e dos cadetes da Escola Militar. No dia 12 de novembro, um sábado, uma passeata de manifestantes dirigiu-se ao Palácio do Catete, sede do governo. A população estava alarmada. No dia seguinte, o centro da cidade transformava-se em campo de batalha.

Durante uma semana, as ruas do Rio viveram uma guerra civil. Segundo a polícia, o saldo negativo foi de 23 mortos e 67 feridos, tendo sido presas 945 pessoas – das quais quase metade foi deportada para o Acre e submetida a trabalhos forçados.

As medidas sanitárias, no entanto, continuaram. Em 1903, 469 pessoas morreram de febre amarela no Rio. No ano seguinte, o número caiu para 39. Em 1904, a varíola havia matado cerca de 3.500 pessoas. Dois anos depois, a doença fez apenas 9 vítimas. A cidade estava livre das epidemias.

Ao final, Oswaldo Cruz foi o responsável não só por sanear o Rio, mas pela estruturação da saúde pública no Brasil.