Um candidato sai de 5% no começo da campanha e passa ao segundo turno com uma distância de 21 pontos percentuais em relação ao primeiro colocado.
Não estamos falando do Brasil, apesar de os resultados do primeiro turno daqui apontarem um resultado semelhante (Bolsonaro 46% x 29% Haddad): isso aconteceu em Portugal, em 1986, quando o socialista Mario Soares saiu em grande desvantagem do primeiro turno e fez história ao ganhar as eleições contra o candidato conservador Diogo Freitas do Amaral.
Na época, o país passava pela terceira eleição direta após a Revolução dos Cravos de abril de 1974, e inaugurava o sistema de dois turnos nas eleições para presidente.
Um dos fundadores do CDS (Partido do Centro Democrático Social), de inspiração democrata-cristã, Amaral havia encerrado o primeiro turno, em 26 de janeiro, com ampla vitória sobre seu rival. O democrata cristão conquistou 46% dos votos válidos; Soares, 25%.
No segundo turno, que aconteceu em 16 de fevereiro, o que parecia impossível se materializou nas urnas. Soares alcançou 51,18%, derrotando Amaral em uma virada histórica em uma eleição presidencial no país.
Soares havia começado a campanha com menos de 5% das intenções de voto.
Segundo turno
Entre os motivos para a virada, estão o fato de que, no segundo turno, Soares foi apoiado pelos comunistas e acabou concentrando os votos de outros candidatos de esquerda.
A isso, se junta parte da estratégia de campanha de Soares, que alterou o discurso do candidato para se antagonizar ainda mais com Amaral e expor as diferenças entre eles.
O candidato ainda fez uma campanha que entrou no imaginário português: ele tinha seu nome estampado em camisetas, cartazes, bandeiras, adesivos e em toda a sorte de materiais que traziam o slogan “Soares é fixe!”, algo como “Soares é massa!”, ou “Soares é legal!”, no português de Portugal. A frase ajudou a aproximar o candidato do eleitorado mais jovem.
Mário Soares cumpriu seu mandato até 1991, quando foi reeleito até 1996, derrotando em primeiro turno, com 70% dos votos, o conservador Basílio Horta. Soares morreu aos 92 anos, em 7 de janeiro de 2017.
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Mário Soares venceu o democrata cristão Diogo Amaral em uma virada histórica no segundo turno