Jada apanhou primeiro!
Causou espécie e espanto o tapa de Will Smith em Chris Rock durante a cerimônia do Oscar. Rapidamente, os comentários perfilaram-se em favor ou contra a ação “desequilibrada” de Smith. O principal argumento dos “contra” é que nada justifica uma agressão. De modo suplementar, algumas pessoas sustentam que o marido expôs a companheira porque tirou o protagonismo dela.
Sinceramente, só consigo me lembrar de Franz Fanon e Walter Benjamin, autores para quem a violência revolucionária, a violência como forma de reação, é, sim, legítima. Para Fanon, a violência é a própria ordem (nesse caso um humorista que alveja alguém de maneira impiedosa e que estava presente na festa).
É óbvio que existem vários caminhos e métodos para se reagir à violência até se chegar ao suposto “extremo”. No caso em tela, qual recurso adotar? Ouvir passivamente o comediante – que responde a uma lógica humorística estadunidense – passar dos limites com o alvo de sua “piada” presente no mesmo espaço? O que esperar desse casal? Que eles franzissem o cenho e demonstrassem insatisfação? Que emitissem um clássico cala boca, filha da puta, o que certamente só dobraria a aposta de Chris Rock?
Teatral ou não, o tapa de Smith foi o único e necessário recurso de reação. Foi um mecanismo de defesa. Dizer defesa não significa anular a agência e o lugar de sujeita de Jada. Dizer defesa neste caso significa que se tinha alguém com alguma possibilidade de fazer algo para parar a infâmia era o próprio Will Smith.
“Donas e donos da festa” podem parar, interromper e seguir o baile caso algo os ameace ou a seus convidades. Na condição de premiável, ou seja, de dono da festa, Smith fez isso. Subiu novamente ao palco, recomposto física e psicologicamente, para receber o prêmio mais que merecido.
Estamos com Jada Pinnket Smith, que, naquele momento, não precisava de um salvador ou protetor, mas de alguém que pudesse dizer: a história é dela, mas a defesa é coletiva, independente dos marcadores de gênero. Se não fosse Smith, quem seria?
(*) Rosane Borges é pesquisadora e militante negra feminista, além de doutora em Ciências da Comunicação pela USP e ex-coordenadora nacional do Centro Nacional de Informação e Referência da Cultura Negra (CNIRC), da Fundação Palmares (2013).
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Will Smith deu um tapa no comediante Chris Rock após piada com Jada Pinkett Smith