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Opinião

Carlos Ferreira Martins: mortes brancas, mortes negras

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Massacre em escola nos Estados Unidos, operação militar no Rio de Janeiro e morte de Genivaldo Santos por asfixia em viatura expõem a atenção que a mídia brasileira dá às mortes negras

Carlos Ferreira Martins

São Carlos (Brasil)
2022-06-02T19:40:00.000Z

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Mesmo numa época marcada pela espetacularização da violência nos novos “esportes”, no cinema, nos programas de televisão e pelo consequente amortecimento das sensibilidades e da memória, distintos eventos dos últimos dias chamaram a atenção e provocaram reações de indignação.

Uvalde é uma pequena cidade do Texas subitamente famosa, não por seus atributos próprios, mas por ser palco de (mais um) massacre numa escola, com o trágico saldo de 19 crianças e 2 professores brutalmente assassinados por um jovem de 18 anos que, previamente, havia ferido sua própria avó.

Massacres em escolas promovidas por jovens desequilibrados com acesso a armas de repetição já constituem uma lamentável série nos Estados Unidos, desse a mais famosa delas, na também pequena cidade de Columbine, Colorado, que completou 23 anos no passado mês de abril. Os dois autores, de 17 e 18 anos, foram mortos no local, depois de assassinarem um professor e dez alunos.

Passado tanto tempo, Columbine ainda marca a memória contemporânea, especialmente após o documentário Tiros em Columbine, dirigido por Michael Moore em 2002, ter vencido o Oscar de melhor documentário e da série American Horror Story ter incluído uma referência num dos episódios da primeira temporada.

Nem só de escolas se alimenta o estado-unidense culto à morte, cevado nos desequilíbrios individuais das sociedades contemporâneas, mas sobretudo no poderoso lobby da indústria de armas que impede qualquer restrição ao acesso a armas automática e de repetição.

Dez dias antes de Uvalde, um atirador de 18 anos matou, por motivação racista confessa, 10 pessoas num supermercado da comunidade negra de Buffalo, estado de N. York.

No mesmo dia do massacre de Uvalde, um outro ocorria na comunidade de Vila Cruzeiro, zona norte do Rio de Janeiro, em que o recorrente pretexto de uma operação anti-tráfico deixou o recorrente saldo de mortes, majoritariamente jovens e negras.

Desta vez foram 25 mortos, a segunda maior “marca” desse trágico festival, perdendo apenas para o massacre do Jacarézinho, ocorrido há pouco mais de um mês atrás, com 29 famílias enlutadas.

Um grupo de pesquisa da Universidade Federal Fluminense registrou mais de 590 ocorrências policiais oficiais (sem contar massacres de grupos de extermínio) que resultaram, entre 2007 e 2021, em mais de 2.370 mortes civis e 19 de policiais.

WikiCommons
"Mortes negras por aqui importam menos"

No meio desse verdadeiro Brazilian Horror Story destacou-se o episódio dantesco do assassinato por asfixia de gás letal de Genivaldo de Jesus Santos, preto, de 29 anos e portador de esquizofrenia.

Abordado por agentes da Polícia Rodoviária Federal por dirigir moto sem capacete, apesar de um sobrinho ter avisado que ele estava sob o efeito de medicamentos, foi jogado no camburão e asfixiado numa reedição nada extemporânea das câmaras de gás.

Episódios distintos, mas expressão de uma cultura da violência cada vez mais presentes neste início de século, eles mostram semelhanças importantes, mas também diferenças gritantes entre os EUA e o Brasil.

De comum, obviamente os interesses dos fabricantes de armas, sua poderosa capacidade de lobby e uma onipresente cultura da violência. Nos EUA apoiados na larga tradição da 2ª. Emenda à Constituição, que impede restrições ao armamento. O detalhe pouco mencionado é que ela remonta a 1791, quase dois séculos antes das modernas armas automáticas.

Outra semelhança é que a representação parlamentar, fortemente financiada pela indústria armamentista, não reflete a vontade da população. Como destacado recentemente mais de 75% dos brasileiros não concorda com a posição de Bolsonaro de facilitar armas. Mesmo nos EUA, amplas maiorias de republicanos e democratas são favoráveis a alguma limitação de acesso a armas, por exemplo, por parte de pessoas com doenças mentais.

As diferenças também são relevantes. Enquanto no grande irmão do Norte os republicanos reclamam que o tema não pode ser politizado e pedem orações pelas vítimas e suas famílias, nesta terra de Pindorama o presidente, que dirige moto sem capacete, chama Genivaldo de “marginal”.

E quem pergunta por que nos EUA poderosos movimentos de massa como o Black Lives Matters tentam reagir à violência estrutural das polícias enquanto no Brasil não há maiores reações a esses massacres, talvez devesse se perguntar por que a nossa mídia ignora – ou minimiza – o protesto da população de Umbaúba, em Sergipe, terra do infausto Genivaldo.

Mortes negras por aqui importam menos.

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Meio Ambiente

Desmatamento na Amazônia Legal é o maior em 15 anos, aponta Imazon

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De agosto de 2021 a julho de 2022 foi destruída uma área equivalente a sete vezes a cidade de São Paulo

Redação

Deutsche Welle Deutsche Welle

Bonn (Alemanha)
2022-08-17T22:12:00.000Z

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Nos últimos 12 meses, a Amazônia Legal teve o maior índice de desmatamento em 15 anos. De agosto de 2021 a julho de 2022, foram derrubados 10.781 quilômetros quadrados de floresta, o equivalente a sete vezes a cidade de São Paulo e 3% a mais do que nos 12 meses diretamente anteriores. Os dados, divulgados nesta quarta-feira (17/08), são do Sistema de Alerta de Desmatamento (SAD) do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon).

É a segunda vez consecutiva em que o desmatamento na região ultrapassa os 10 mil quilômetros quadrados no período. Somadas, as áreas destruídas nos últimos dois calendários (ou seja, de agosto a julho) chegaram a 21.257 quilômetros quadrados, quase o tamanho do estado do Sergipe.

Ao analisar apenas o desmatamento em 2022, o índice de destruição é ainda maior. No período de janeiro a julho, a área de floresta perdida cresceu 7% em relação a 2021, passando de 6.109 quilômetros quadrados para 6.528 quilômetros quadrados. Isso significa que, somente em 2022, a região já teve destruída uma área de aproximadamente cinco vezes a cidade do Rio de Janeiro. E esse também foi o maior desmatamento para o período dos últimos 15 anos.

"O aumento do desmatamento ameaça diretamente a vida dos povos e comunidades tradicionais e a manutenção da biodiversidade na Amazônia. Além de contribuir para a maior emissão de carbono em um período de crise climática. Relatórios da ONU já alertaram que, se não reduzirmos as emissões, fenômenos extremos como ondas de calor, secas e tempestades ficarão ainda mais frequentes e intensos. Isso causará graves perdas tanto no campo, gerando prejuízos para o agronegócio, quanto para as cidades", alerta Bianca Santos, pesquisadora do Imazon.

Pará no topo do ranking de desmatamento

Levando em conta o desmatamento ocorrido nos últimos 12 meses, 36% ocorreu apenas na região conhecida como Amacro, onde se concentram 32 municípios na divisa entre Amazonas, Acre e Rondônia. Nessa área, há um processo de expansão do agronegócio, que derrubou quase 4 mil quilômetros de florestas entre agosto de 2021 e julho de 2022. A destruição na Amacro também atingiu o maior patamar dos últimos 15 anos para o período, com alta de 29%.

O Pará é o estado que mais desmata na Amazônia Legal. Nos últimos 12 meses, foram derrubados 3.858 quilômetros quadrados de floresta -  36% do destruído na Amazônia. A segunda maior área desmatada no período foi registrada no Amazonas: 2.738 km² (25%).

O que é a Amazônia Legal

A Amazônia Legal é um conceito criado ainda na década de 1950 para promover uma agenda de desenvolvimento para a região. Sua delimitação não é baseada exclusivamente na vegetação, mas inclui conceitos geopolíticos. Por isso que, além da Floresta Amazônica, há uma parte de Cerrado e do Pantanal em seu mapa.2:42

Segundo dados atualizados do IBGE, Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, a região tem uma área de 5,2 milhões de km², o que corresponde a 59% do território brasileiro. Ela engloba os estados do Acre, Amapá, Amazonas, Mato Grosso, Pará, Rondônia, Roraima,Tocantins e parte do Maranhão, onde vivem atualmente cerca de 28 milhões de habitantes.

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